Google coleta 900 dados por dia no Android mesmo se usuário não fizer nada

Isso ocorre mesmo que você não faça nada com o Android (ou iPhone), e mesmo que evite usar serviços do Google

Felipe Ventura
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Google

O Google consegue obter uma quantidade enorme de dados sobre os usuários, especialmente de quem usa Android. Um novo relatório mostra quantas informações a empresa coleta, incluindo localização, mesmo que você não faça nada com o celular; ou mesmo que evite usar serviços do Google.

Antes de tudo, é preciso fazer algumas ressalvas. Este relatório (PDF) foi escrito por Douglas C. Schmidt, professor de Ciência da Computação na Universidade Vanderbilt, mas não passou por todos os rigores de um estudo acadêmico, tal como a revisão por pares.

Além disso, o documento foi pago pelo Digital Content Next, grupo de lobby que representa a indústria de mídia digital, e que vem criticando o duopólio do Google e Facebook nos anúncios online.

Ainda assim, o relatório é importante para demonstrar como o Android coleta muitos dados sobre o usuário, mesmo se estiver parado na mesa; e como isso se compara com o iPhone.

Google coleta dados mesmo se usuário não fizer nada

Em um dos testes, a equipe de Schmidt criou uma nova conta no Google (chamada “Jane Rose”) e fez login em um dispositivo com Android 6.0 Marshmallow e em um iPhone. Eles abriram o Chrome no Android e o Safari no iOS; e deixaram os celulares parados, sem interação do usuário, durante 24 horas.

Nesse período, o Android enviou 4,4 MB de dados para servidores do Google, contendo quase 900 amostras. Dessas, 35% estavam relacionados à localização — ou cerca de 14 por hora. O restante eram solicitações da Play Store, upload de relatórios de falhas, entre outros.

Enquanto isso, o iPhone enviou dados para domínios do Google com frequência 50 vezes menor. Além disso, o Google não coletou o local do usuário em nenhum momento. Por sua vez, a Apple só recebeu informações de local uma vez no dia.

É difícil não ser rastreado pelo Google no Android

Como nota o relatório, o Android envia dados constantemente para os servidores do Google, “incluindo o tipo de dispositivo, o nome da operadora móvel, relatórios de falhas e informações sobre os apps instalados”. A empresa também sabe toda vez que você abre um aplicativo, como Uber ou Facebook.

Além disso, é difícil desativar o rastreamento de localização no Android. Por exemplo, você será monitorado via Wi-Fi mesmo se desativar o Wi-Fi; também é necessário ir nas configurações e desativar a opção “Verificação de Wi-Fi” (Wi-Fi scanning).

Em um dos testes, durante uma caminhada de 15 minutos, o dispositivo Android enviou nove solicitações de localização ao Google. Foi um total de 100 BSSIDs (códigos identificadores) obtidos de pontos de acesso Wi-Fi públicos e privados.

Você também é rastreado pelo Google em outros sites

Em outro teste, Schmidt quis mostrar como é difícil escapar dos olhos do Google mesmo que você use serviços concorrentes. Aqui, o usuário passou 24 horas acessando sites e apps que não pertencem ao Google, como Facebook, Instagram, Snapchat, Pinterest, Amazon e Starbucks. A única exceção (e uma bem grande!) era o navegador Chrome.

O dispositivo Android enviou 11,6 MB de dados em um dia para servidores do Google. A localização do usuário foi coletada 450 vezes. Além disso, o sistema se conectou a plataformas de anúncios como o Google Marketing Platform (antes DoubleClick); e serviços para medir audiência como o Google Analytics.

Enquanto isso, o iPhone enviou 5,7 MB para o Google no mesmo período. A maior parte é relacionada a dados de anúncios nos sites e apps; na verdade, é quase a mesma quantidade coletada no Android. No entanto, a empresa raramente obteve a localização do usuário. A Apple recebeu só 1,4 MB.

Evite fazer login no Google usando o modo anônimo

A equipe de Schmidt também fez um experimento para ver se o Google coleta dados no modo anônimo do Chrome. Basicamente, a empresa sabe quem você é… depois que você faz login.

Foram três passos:

  • abrir uma nova janela anônima no Chrome (ou em qualquer outro navegador);
  • visitar um site que use anúncios do Google;
  • fazer login no Google.

Quando você visita um site que usa anúncios da DoubleClick, isso gera um cookie para guardar suas preferências. Quando você fecha a janela anônima, esse cookie é deletado. Mas, se você faz login no Google dentro do modo anônimo, a empresa recebe esse cookie.

Isso é algo que a empresa explica em um artigo de ajuda: “se você fizer login em uma conta para usar um serviço da Web, como o Gmail, sua atividade de navegação poderá ser salva em sites que reconheçam essa conta”.

Foto por Drew Tarvin/Flickr

Google responde

Em comunicado ao Washington Post, o Google lembra que o relatório veio da DCN, um grupo de lobby; e que seu autor é testemunha da Oracle na disputa judicial envolvendo o código-fonte do Android.

“Este relatório foi encomendado por um grupo profissional de lobistas dos EUA, e foi escrito por uma testemunha da Oracle em seu processo judicial de direitos autorais contra o Google. Portanto, não é surpresa que ele contenha informações enganosas”, declarou a empresa.

O Google também diz que não vincula dados anônimos coletados de cookies de publicidade com as contas dos usuários.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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