Facebook bane app myPersonality e suspende outros 400

Aplicativo myPersonality fazia testes de personalidade em troca de coletar dados do usuário, mas banimento do Facebook pode ter sido exagerado

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Facebook

Depois do escândalo Cambridge Analytica, o Facebook tenta mostrar mais controle sobre os aplicativos disponíveis em sua plataforma. A “caça às bruxas” mais recente levou ao banimento do app myPersonality. O problema é que a ação pode ter sido um tanto exagerada.

Mais de 400 aplicativos foram suspensos da plataforma desde que os trabalhos de auditoria começaram, em março. Mas banir e suspender não têm o mesmo significado. Os aplicativos suspensos podem voltar à plataforma, desde que os problemas que levaram à penalização sejam corrigidos. Talvez seja por isso que o Facebook não revela publicamente quais são eles.

Já o banimento é permanente. O aplicativo do caso Cambridge Analytica é um exemplo. O Facebook o removeu da sua plataforma porque o app prometia um teste de personalidade, mas colhia informações de usuários e de contatos destes que, depois, eram repassados a terceiros — no caso, enviados à Cambridge Analytica.

O myPersonality foi banido por razões semelhantes, embora nenhum grande escândalo de violação esteja por trás dele. O aplicativo foi desenvolvido por pesquisadores da Cambridge Psychometrics Centre, uma instituição acadêmica real, que não tem ligação com a Cambridge Analytica. Ele fornecia testes de personalidade em troca de coleta de dados do usuário.

Até aí, nenhuma violação das condições de uso do Facebook. Dados de cerca de 4 milhões de usuários foram coletados pelo aplicativo, mas todos eles deram permissão para isso quando aceitaram realizar os testes. Além disso, não houve coleta de dados de contatos desses usuários.

Os dados foram utilizados para estudos do Cambridge Psychometrics Centre e por pesquisadores de outras instituições que foram autorizados por um comitê de ética. A coleta foi feita entre 2007 e 2012. Depois disso, o myPersonality foi desativado pelos próprios criadores, mas mantido na plataforma para, provavelmente, usos futuros.

Por que, então, o myPersonality foi banido só agora? Essa é a pergunta que David Stillwell, um dos criadores do app, se faz. “Quando o aplicativo foi suspenso, três meses atrás, pedi ao Facebook que explicasse quais termos foram violados, mas até agora eles não deram nenhum exemplo”, diz.

O problema parece ter começado em maio, quando uma quantidade significativa de dados oriundos do myPersonality foi encontrado no GitHub. Mas tudo indica que não foi um vazamento malicioso: aparentemente, um pesquisador colocou os dados ali apenas para facilitar o acesso a eles por seus alunos, sem ter pensado na possibilidade de uso indevido.

Facebook - privacidade

Como consequência, o myPersonality entrou para o grupo daqueles 400 apps suspensos. O problema é que a suspensão virou banimento. A justificativa dada pelo Facebook é a de que os criadores do aplicativo não colaboraram com o pedido de auditoria e compartilharam dados com pesquisadores e organizações que possuem mecanismos limitados de proteção de informação.

Mas Stillwell ressalta que o Facebook sabe há muito tempo do uso dos dados do myPersonality, tanto que, em 2009, chegou a certificá-lo como um “aplicativo verificado”. “É estranho que, de repente, o Facebook tenha ignorado a pesquisa do myPersonality e acreditado que os dados podem ter sido mal utilizados” completa.

Não é um problema que preocupa muito os pesquisadores porque, de qualquer forma, o aplicativo já estava em desuso. Esse contexto levanta duas hipóteses: ou Facebook está “pecando pelo excesso” para diminuir os riscos de novos escândalos ou simplesmente quer mostrar trabalho.

Com informações: TechCrunch.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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