Python remove termos “mestre” e “escravo” por serem considerados ofensivos

Criador da linguagem de programação Python remove palavras "mestre" e "escravo" por motivos de diversidade

Felipe Ventura
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Foto por Johnson Martin/Pixabay

A linguagem de programação Python, uma das mais populares do mundo, vai deixar de usar os termos “mestre” e “escravo”. Em tecnologia, essas palavras se referem a um componente que tem controle total sobre outros (master), ou que é controlado por outros componentes (slave). No entanto, isso motivou um debate acalorado sobre escravidão e diversidade.

“Por motivos de diversidade, seria bom tentar evitar a terminologia ‘mestre’ e ‘escravo’, que pode ser associada à escravidão”, escreve Victor Stinner, desenvolvedor na Red Hat. Ele fez um “pull request” — uma proposta de mudança no código — para remover os dois termos da linguagem Python.

Assim começou uma enorme discussão com argumentos a favor e contra a proposta. O criador do Python, Guido van Rossum, se aposentou em julho mas voltou para resolver a polêmica: “três dos quatro pull requests de Victor foram mesclados”, isto é, foram aceitos.

Daqui para a frente, o termo “escravo” será substituído por “workers” ou “helpers”, e “master process” virou “parent process”.

Nos comentários, o desenvolvedor Raymond Hettinger foi um dos que discordou da mudança: “não deveríamos deixar que noções vagas do politicamente correto moldem usos do inglês”, ele escreve. “É realmente necessário poluir a base de código do Python com a ideologia/terminologia de SJWs [justiceiros sociais]?”, perguntou Gabriel Marko.

Foto por turicas/Flickr

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Outras tecnologias deixaram de usar termo “escravo”

Nos últimos anos, outras tecnologias também deixaram — ou planejam deixar — de usar os termos “mestre” e “escravo”. O Drupal, concorrente do Wordpress com código aberto, mudou para “primary/replica”. O Django, framework para desenvolvedores web, passou a adotar “leader/follower”. O Kubernetes, plataforma open-source para contêineres Linux, prometeu se afastar dessa terminologia.

O banco de dados Redis, de código aberto, também deixará de usar “mestre” e “escravo” em sua documentação e API. Haverá algumas poucas exceções para não quebrar funcionalidades.

Salvatore Sanfilippo, criador do Redis e conhecido online por “Antirez”, contou na semana passada que foi criticado por um desenvolvedor porque os termos “mestre” e “escravo” continuavam a ser usados.

Sanfilippo disse que não estava interessado em mudar essas palavras e foi chamado de “fascista”. A ofensa foi infeliz, especialmente porque o avô dele foi preso durante a Segunda Guerra Mundial por se opor ao fascismo.

“Eu não quero aceitar essa ideia de que certas palavras problemáticas, especialmente para americanos que lidam com seu passado, deveriam ser banidas”, ele escreve. Mas Sanfilippo fez uma enquete no Twitter e descobriu que 53% de 6.242 participantes queriam que os termos “mestre” e “escravo” fossem substituídos.

Então, ele cedeu: “o trabalho para abandonar a palavra ‘escravo’ está completo na documentação. Foi necessário muito menos esforço em comparação com o trabalho no código-fonte”, escreve Antirez no Twitter. O termo foi substituído por “replica”.

Com informações: The Register, Motherboard.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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