Clean Master e outros apps para Android da Cheetah Mobile são acusados de fraude

Apps como Security Master, CM Launcher 3D e Battery Doctor estariam envolvidos em esquema de fraude em anúncios

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Clean Master

Aplicativos populares no Android, que somados têm mais de dois bilhões de downloads na Play Store, estariam envolvidos em uma fraude em anúncios que pode ter desviado milhões de dólares. O esquema foi publicado pelo BuzzFeed e abrange principalmente os softwares da Cheetah Mobile, responsável pelo Clean Master, Security Master, Battery Doctor e outros nomes famosos.

A fraude foi descoberta pela empresa de análise Kochava, que detectou oito aplicativos trapaceiros, sendo sete da Cheetah Mobile e uma da Kika Tech — uma companhia também de origem chinesa que recebeu investimentos significativos da Cheetah Mobile em 2016. Juntas, elas afirmam ter 700 milhões de usuários ativos mensais em seus aplicativos.

Esquema engenhoso para roubar comissões

E como o esquema funcionava? Para entender, é preciso saber que muitos desenvolvedores de aplicativos pagam comissões por instalação, que normalmente variam de US$ 0,50 a US$ 3. Se um site recomendar um aplicativo e o leitor instalá-lo no smartphone, a comissão é dada. Parece ser uma forma bem eficiente de divulgar um aplicativo novo.

Mas como o desenvolvedor sabe quem fez a indicação? Uma das formas é descobrir qual clique levou o usuário a baixar e instalar o aplicativo. Se a pessoa tocou em um anúncio dentro do Clean Master, entrou na Play Store, fez o download e abriu o aplicativo, por exemplo, então a comissão deve ser paga à empresa responsável pelo Clean Master.

Apps da Cheetah Mobile e Kika Tech envolvidos no suposto esquema fraudulento

Apps da Cheetah Mobile e Kika Tech envolvidos no suposto esquema fraudulento

É aí que entra o esquema fraudulento: os aplicativos Clean Master, Security Master, CM Launcher 3D, Kika Keyboard, Battery Doctor, Cheetah Keyboard, CM Locker e CM File Manager pediam permissões para acessar a lista de aplicativos instalados no Android. Então, eles monitoravam quando um novo aplicativo era instalado e enviavam cliques falsos (click injection) para ganhar a comissão — mesmo quando a Cheetah Mobile e a Kika Tech não tinham nada a ver com a indicação.

Não se sabe quanto dinheiro foi desviado pelas companhias. Só no terceiro trimestre de 2018, a Cheetah Mobile faturou US$ 196 milhões com aplicativos para smartphones, mas a empresa não informa quanto da receita veio das comissões de anúncios. Em outubro, o Google removeu aplicativos da Play Store, também por fraude em anúncios, e revelou que US$ 10 milhões foram roubados do buscador e de seus parceiros.

Em resposta, a Cheetah Mobile declarou que não tem controle sobre plataformas de publicidade de terceiros, e que “não tem intenção nem capacidade de direcionar essas plataformas de publicidade para participar das supostas injeções de cliques”. Disse ainda que existem “numerosas declarações falsas e enganosas” no artigo do BuzzFeed, e vai tomar ações contra a Kochava.

Após a repercussão do caso, os aplicativos Battery Doctor e CM Locker foram removidos da Play Store. O mais popular deles, o Clean Master, que possui mais de 1 bilhão de instalações na loja do Google, continua disponível.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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