Uber orientou funcionários a não relatarem crimes às autoridades

Segundo funcionários, ordem é agir primeiro de acordo com os interesses da empresa

Victor Hugo Silva
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Aplicativo Uber

A Uber tem criado alguns recursos de segurança para seu aplicativo, sendo o RideCheck o mais recente deles. Internamente, porém, a empresa orienta seus funcionários a não relatarem para as autoridades os possíveis crimes que tenham ocorrido nas viagens.

Segundo o Washington Post, que ouviu cerca de 20 funcionários e ex-funcionários da Uber, a ordem é agir primeiro de acordo com o interesse da empresa e depois pela segurança de quem fez a denúncia, seja passageiro ou motorista.

A determinação vale especialmente para a Unidade de Investigações Especiais (SIU, na sigla em inglês). Os integrantes do setor, que tem cerca de 80 funcionários, apuram incidentes nas viagens. E, mesmo quando notam algo de errado, são proibidos de encaminhar acusações à polícia ou de recomendar que as vítimas assim o façam.

As pessoas ouvidas pelo Washington Post afirmam que, se agirem desta forma, podem ser repreendidas ou até demitidas da empresa. A única exceção, segundo elas, é para as situações em que passageiros ou motoristas estão em perigo imediato, como um carro pegando fogo.

Além da polícia, os funcionários afirmam que a Uber não envia informações sobre incidentes para serviços concorrentes ou empresas de verificação de antecedentes. A medida, que ajudaria a evitar a repetição de incidentes, não é adotada nem mesmo em situações graves.

Para piorar, o sistema de três strikes, que bane usuários após três denúncias, nem sempre é respeitado. Um dos relatos aponta que a empresa fez uma exceção para um motorista usar o serviço mesmo depois de ser três vezes acusado de ter cometido assédio sexual. Ele só foi banido após ser acusado de estupro.

Uma ex-funcionária da Unidade de Investigações Especiais afirma que, em seu tempo na Uber, cerca de um terço dos casos eram relacionados a má conduta sexual, incluindo estupro e aproximações indesejadas. Muitas delas não eram investigadas pela empresa.

“No final das contas, não somos o juiz e o júri para determinar se um crime ocorreu”, afirmou a chefe global de segurança das mulheres na Uber, Tracey Breeden, ao Washington Post. “Estamos aqui para coletar informações, tomar uma decisão de negócios. Não somos agentes da lei”.

A Uber afirma que não compartilha as informações com terceiros porque tem uma política centrada na vítima. “Um sobrevivente deve ser capaz de possui sua história, deve poder escolher se fornece essas informações à polícia”, continuou.

Ainda ao jornal, a empresa afirmou que muitas das políticas descritas pelos funcionários estão desatualizadas. A companhia também lembrou que a grande maioria de suas 16 milhões de viagens diárias termina sem incidentes.

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Victor Hugo Silva

Victor Hugo Silva

Ex-autor

Victor Hugo Silva é formado em jornalismo, mas começou sua carreira em tecnologia como desenvolvedor front-end, fazendo programação de sites institucionais. Neste escopo, adquiriu conhecimento em HTML, CSS, PHP e MySQL. Como repórter, tem passagem pelo iG e pelo G1, o portal de notícias da Globo. No Tecnoblog, foi autor, escrevendo sobre eletrônicos, redes sociais e negócios, entre 2018 e 2021.

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