App de entregas Glovo foi usado para transportar drogas na Argentina

Entregador ficou mais de uma hora aguardando orientação da Glovo quando encontrou drogas em pedido

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Glovo

Serviços como Glovo e Rappi afirmam entregar qualquer coisa, mas há itens que não podem ser transportados por motivos óbvios. Ou pelo menos deveria ser assim: na Argentina, trabalhadores vinculados a essas plataformas têm se queixado de pedidos que envolvem entrega de drogas.

É claro que os termos de uso dos serviços de entrega por aplicativo proíbem o transporte de substâncias ilícitas ou de qualquer produto ilegal. O problema é que, quando pedidos suspeitos são identificados pelos entregadores, nem sempre eles recebem a orientação adequada sobre como agir.

Amy Booth, jornalista que escreve sobre a América Latina para veículos como The Guardian e Vice, descreve o caso de Javier Rojas, entregador que atua em Buenos Aires: em julho, ele retirou uma caixa que deveria ter suplementos vitamínicos, mas percebeu que a embalagem estava surrada e cheirava a maconha.

Em vez de seguir com a entrega, Rojas parou a moto a cinco quarteirões do endereço de destino e enviou mensagem ao suporte da Glovo perguntando sobre o que fazer.

Por telefone, o entregador foi orientado a devolver a caixa à origem, mas ele manifestou medo de sofrer algum tipo de retaliação. Depois, a Glovo o orientou a levar a embalagem ao destino, mas Rojas se recusou novamente.

“Entrego isso para a pessoa e encontro dois policiais esperando lá. Sou eu quem carrega a responsabilidade, não a empresa. A empresa lava as suas mãos”, disse a Booth. Depois de mais de uma hora se recusando a fazer a entrega ou a devolver o “produto”, Rojas foi autorizado a jogar a caixa fora.

A ASIMM, sindicato que reúne motociclistas, mensageiros e entregadores na Argentina, diz que o caso de Javier Rojas não é isolado. Houve cerca de dez denúncias de situações parecidas desde 2018. O número de casos pode ser muito maior: não são todos os entregadores que têm coragem de formalizar uma denúncia.

Rappi / como cancelar pedido rappi

Certamente, esse tipo de problema não se limita à Argentina. Mas existe um agravante por lá: sobretudo em Buenos Aires, a maior parte dos entregadores é composta por estrangeiros, como venezuelanos; se forem pegos entregando drogas, eles terão dificuldades para fixar residência no país e, claro, poderão ir para a prisão.

Para a ASIMM, plataformas como Rappi e Glovo não são um braço do narcotráfico, mas têm brechas em seus procedimentos que dão abertura para esse tipo de atividade.

Procurada, a Glovo informou que o uso de sua plataforma para transporte de substâncias ilícitas é estritamente proibido e que denuncia atividades suspeitas às autoridades locais. A empresa também diz que orienta os entregadores a reportarem pedidos aparentemente ilegais.

Enquanto isso, a ASIMM tenta enquadrar plataformas como Rappi e Glovo no registro de provedores de serviços postais da Argentina. Com isso, os entregadores teriam a mesma proteção legal dos trabalhadores dos correios: eles não precisam conhecer o conteúdo das entregas e, portanto, não são responsabilizados por pacotes ilegais.

O problema é que o assunto está travado: atualmente, a discussão gira em torno do reconhecimento ou não dos entregadores de aplicativos como funcionários das plataformas.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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