Tesla, defensora de energia limpa, é criticada por comprar bitcoin

Especialistas e investidores afirmam que mineração de bitcoin (BTC) gasta muita energia e vai contra a ideologia sustentável da Tesla

Bruno Ignacio
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• Atualizado há 2 anos e 2 meses
Elon Musk na fábrica da Tesla em Fremont, Califórnia (Imagem: Maurizio Pesce/Flickr)
Elon Musk na fábrica da Tesla em Fremont, Califórnia (Imagem: Maurizio Pesce/Flickr)

A Tesla, empresa de carros elétricos de Elon Musk, tem como missão a sustentabilidade energética. Contudo, sua recente compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoin (BTC) impulsionou o preço da criptomoeda e agitou o mercado de criptoativos. Agora, investidores e especialistas criticam a companhia afirmando que a alta da moeda digital também incentiva sua mineração, que utiliza muita eletricidade e gera poluição.

A atividade consome grande quantidade de energia e por isso o investimento da empresa estaria na contramão de sua política de proteção ao meio ambiente. A maior parte da mineração de bitcoin vem da China, país que utiliza majoritariamente fontes poluentes em suas usinas, e tem sua atividade intensificada quando o ativo digital opera em alta.

Investimento da Tesla é criticado

“A Tesla acredita que quanto mais rápido o mundo parar de depender de combustíveis fósseis e se mover em direção a um futuro de emissão zero, melhor”, afirma a empresa no descritivo de seu site oficial, demonstrando sua missão com a sustentabilidade energética mundial. A companhia atualmente vende e desenvolve carros elétricos, painéis solares e também baterias residenciais sob a missão de “acelerar a transição do mundo para a energia sustentável”.

Entretanto, um investidor do setor energético que não quis ser identificado afirmou ao TechCrunch que a Tesla incentiva o consumo de energia fóssil impulsionado pelo bitcoin. “Há pessoas que fazem isso na Rússia desde 2018 e aproveitam o carvão como fonte de eletricidade para executar suas operações de mineração”, disse. “O custo por transação, do ponto de vista energético, só ficou mais intenso. Clima e criptomoeda, não vejo como essas coisas se conciliam”, concluiu.

Já Garrick Hileman, chefe de pesquisa da empresa de criptoativos Blockchain.com e pesquisador visitante na London School of Economics, afirmou ao The Verge que o investimento está em desacordo com a missão da Tesla. Adicionalmente, o pesquisador diz que o endosso de Elon Musk, uma grande e confiável figura pública, é outro fator a se considerar no incentivo à mineração de bitcoin.

Preço do bitcoin aumenta atividade de mineração

Como regra geral para qualquer criptoativo, quando o preço da moeda em questão está alto, sua atividade de mineração aumenta em todo o mundo, já que logicamente se torna mais lucrativa. Mas minerar criptomoedas não é uma operação acessível em todo o planeta e tampouco barata. Ela depende diretamente do custo local de eletricidade.

Equipamentos dedicados à mineração também são caros e geralmente precisam ser comprados em quantidade para que a pessoa ou organização realmente consiga gerar unidades do criptoativo. O bitcoin é a criptomoeda mais valorizada no mundo e bateu outro recorde de preço após a compra bilionária da Tesla.

Poluição está relacionada a fontes de energia fósseis

O maior problema ambiental que envolve a mineração de criptoativos é o alto consumo de energia. Entretanto, isso por si só não é a questão central, mas sim a fonte de energia utilizada para fazê-la.

O Bitcoin Electricity Consumption Index (CBECI), projeto da Universidade de Cambridge, analisa o consumo de energia relacionado à mineração da criptomoeda. Segundo o índice, a China sozinha é responsável por 65% de toda extração da moeda digital no mundo, seguida pelos Estados Unidos e então pela Rússia.

Índice de consumo energético da mineração de bitcoin em terawatts por hora (Imagem: Reprodução/Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index)

Índice de consumo energético da mineração de bitcoin em terawatts-hora (Imagem: Reprodução/Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index)

Acontece que a China e a Rússia, principalmente, utilizam fontes de energia fósseis na maioria de suas usinas, que por sua vez geram intensa poluição atmosférica. Isso resulta em eletricidade barata que atrai os mineradores para operarem no país.

Segundo o CBECI, a mineração de bitcoin atingiu nesta terça-feira (09) o maior nível médio de consumo energético já registrado na história, de 121,23 TWh (terawatts-hora). Esse índice é maior do que de países como a Holanda, Emirados Árabes e Argentina. No momento, a atividade relacionada à criptomoeda equivale a 0,58% de toda demanda de eletricidade no planeta.

A empresa de Elon Musk se posiciona em prol de um futuro energeticamente sustentável e para isso desenvolve há anos tecnologias que auxiliam a sociedade como um todo a se aproximar desse objetivo. Portanto, uma empresa de tamanha influência será inevitavelmente criticada em qualquer oportunidade. 

Com informações: TechCrunch, The Verge

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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