Tinder vai verificar antecedentes de violência por medida de segurança

Match Group, dono do Tinder, anuncia parceria com instituição sem fins lucrativos para verificar antecedentes de violência de usuários

Melissa Cruz Cossetti
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Tinder (Imagem: Mika Baumeister/Unsplash)
Tinder (Imagem: Mika Baumeister / Unsplash)

O Match Group, dono do Tinder e de uma série de outros aplicativos de relacionamento, anunciou uma nova parceria com foco em segurança com a Garbo. A iniciativa inclui a verificação de antecedentes violentos na expectativa de tornar os dates mais seguros.

A Garbo é uma instituição sem fins lucrativos formada por mulheres que fornece informações sobre violência e abuso e deve ajudar membros do Tinder em tomadas de decisão. Com a parceria, o Match Group vai tornar a plataforma da Garbo acessível aos usuários do Tinder nos Estados Unidos, integrando-o ao seu aplicativo ainda em 2021.

Sem revelar uma data específica, o Match Group diz que começará a testar e desenvolver recursos com a Garbo nos próximos meses. Ainda de acordo com o grupo, assim que as informações da Garbo forem implementadas no Tinder, outras marcas do Match Group dos Estados Unidos (OkCupid, PlentyofFish e outros) seguirão a iniciativa.

Ao Tecnoblog, o Match Group disse que não há previsão de implementação no Brasil.

“Infelizmente, as verificações de antecedentes internacionais são complexas de serem realizadas. Cada região tem seu próprio conjunto de leis, e alguns países proíbem qualquer agência de obter esses registros. Por hora, O Tinder fará um piloto dessa parceria nos Estados Unidos, mas seguimos procurando serviços semelhantes para nossos membros ao redor do mundo”, disse a assessoria.

A Garbo também afirmou que não trabalha com dados de fora dos Estados Unidos.

“No momento, não temos planos de expansão fora dos EUA”

Como é feita a verificação de antecedentes?

Tratam-se de verificações de antecedentes feitas coletando registros públicos e relatórios de violência ou abuso, incluindo prisões, condenações, ordens de restrição, assédio e outros crimes violentos registrados pelas polícias e tribunais de Justiça.

Essas informações não são tão simples de acessar. Como uma organização sem fins lucrativos, a Garbo pretende democratizar o acesso a esses dados, permitindo que as pessoas tomem decisões sobre encontrar-se com alguém ou não de maneira segura.

Tracey Breeden, head of safety and social advocacy do Match Group, afirma em nota que reconhece que empresas de tecnologia como o Tinder podem desempenhar um papel fundamental e que a parceria, que inclui uma verificação de antecedentes cuidadosa, permitirá e capacitará usuários, ajudando a criar conexões mais seguras.

Verificação de antecedentes cuidadosa

A Garbo afirma que trabalha em estreita colaboração com grupos de igualdade racial e de gênero, e está ciente de que há desigualdade nas experiências das pessoas negras no sistema jurídico e penal. Por isso, exclui as prisões relacionadas à posse de drogas e violações de trânsito, que têm impacto desproporcional sobre grupos marginalizados.

Quanto custa?

Como tudo que é bom no Tinder, há um preço a se pagar. A parceria anunciada envolve um investimento, cujo valor não foi divulgado pela Match, que ajudará a disponibilizar a tecnologia para os usuários do Match, a começar pelo seu aplicativo mais popular.

É certo que a adoção da verificação de antecedentes de violência pode afetar drasticamente quem tem sucesso no aplicativo e ou não. De acordo com o The Verge, as verificações de antecedentes no Tinder não serão gratuitas, mas devem ser acessíveis. Não está claro se será um recurso adicional ou vinculado ao Gold/Plus/Platinum.

A ferramenta de Garbo ainda não está no ar, e não foi possível testar sua precisão.

Vai funcionar assim: o Match Group não compartilha os dados de seus usuários com o Garbo, mas os usuários podem fazer uma verificação de antecedentes no Garbo, desde que tenham sobrenome ou número de telefone do contato, cedidos pelos próprios.

Como nasceu a Garbo?

A Garbo foi fundada em 2018, por Kathryn Kosmides, uma sobrevivente da violência. A história de Kathryn está em um texto escrito por ela mesma, na Fortune. Eis um trecho:

“Eu já havia deixado o relacionamento abusivo em que eu estava quando apresentei uma queixa [à polícia] contra o meu agressor. Ele havia lançado uma campanha de assédio e perseguição, e eu estava com medo. Mas, também denunciei o abuso, porque, ao fazer isso, pensei que estava protegendo a sua próxima vítima em potencial.

O que eu não sabia era que proteger outras mulheres [vítimas em potencial] seria mais difícil do que eu imaginava. Na verdade, alguém o denunciou antes, na Califórnia. Seu registro anterior de comportamento violento se perdeu em um sistema legal que se preocupa mais com os direitos do criminoso do que com a segurança da vítima”, conta.

[…]

Se eu soubesse… Quanto mais cedo você souber que alguém tem um padrão de comportamento violento, maior é a chance de evitar se tornar a próxima vítima”, disse.

Dos encontros aos apps de carona

De encontros com pessoas que só conhecemos online às viagens combinadas por apps de carona, a conexão com estranhos é cada vez mais parte da rotina nos aplicativos. Porém, não há como saber se alguém tem histórico de violência até que seja tarde.

A principal maneira de uma pessoa saber se alguém com quem planeja namorar ou dividir um carro numa viagem, por exemplo, tem algum histórico de violência é por meio de registros públicos. A lista de aplicações da verificação de antecedentes é longa.

Mais iniciativas de segurança no Tinder

Em dezembro de 2020, o Match Group anunciou uma parceria com a RAINN, maior organização americana contra a violência sexual, para ajudar a reforçar a denúncia de casos de conduta sexual inadequada, moderação e processos de intervenção para aplicativos de relacionamento do Match Group, começando com o próprio Tinder.

Com informações: Match Group e Garbo

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Melissa Cruz Cossetti

Melissa Cruz Cossetti

Ex-editora

Melissa Cruz Cossetti é jornalista formada pela UERJ, professora de marketing digital e especialista em SEO. Em 2016 recebeu o prêmio de Segurança da Informação da ESET, em 2017 foi vencedora do prêmio Comunique-se de Tecnologia. No Tecnoblog, foi editora do TB Responde entre 2018 e 2021, orientando a produção de conteúdo e coordenando a equipe de analistas, autores e colaboradores.

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