Facebook quer analisar WhatsApp para anúncios sem quebrar criptografia

Pesquisadores do Facebook tentarão descobrir como usar mensagens criptografadas do WhatsApp para direcionar anúncios sem quebrar criptografia

Giovanni Santa Rosa
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Facebook e WhatsApp (Imagem: Robert Cheaib/Pixabay)
Facebook e WhatsApp (Imagem: Robert Cheaib/Pixabay)

Não é segredo para ninguém que o grande negócio do Facebook é mostrar propaganda com base no perfil dos usuários. A empresa, porém, estaria disposta a dar um passo adiante e usar informações criptografadas para direcionar anúncios — e isso inclui até as mensagens do WhatsApp.

As informações são de uma nova reportagem do site The Information. A publicação confirmou que o Facebook está montando uma equipe de especialistas para desenvolver modos de analisar mensagens criptografadas sem precisar quebrar a criptografia. Vários anúncios de emprego relacionados a esse projeto já foram divulgados pela rede social em seu site. A empresa diz que quer preservar a privacidade ao mesmo tempo que melhora as tecnologias de seus sistemas de propaganda.

A criptografia de ponta a ponta é um dos principais recursos do WhatsApp, e o aplicativo adora falar disso. Ela garante que o conteúdo enviado só poderá ser visualizado pelo receptor das mensagens – nem mesmo a empresa consegue saber o que foi dito ou enviado.

Facebook pode recorrer à criptografia homomórfica

Para permitir o processamento dos dados das mensagens criptografadas sem precisar quebrar a criptografia, o Facebook pode usar uma técnica chamada criptografia homomórfica. Essa técnica permite que os dados sejam manipulados e processados sem que seja necessário revelar o conteúdo. O resultado do processamento desses dados é idêntico ao que seria obtido com os dados sem criptografia.

O cientista da computação Craig Gentry, um dos maiores especialistas no assunto, compara a tecnologia a uma caixa com luvas: é possível colocar as mãos nas luvas e manipular o que está dentro da caixa, mas não é possível extrair o conteúdo. Tudo que foi manipulado permanece lá, e só quem tem a chave pode abrir e remover o que está dentro.

Entre outros usos possíveis para essa técnica está a manipulação de dados médicos ou financeiros para análises preditivas, em que as identidades das pessoas e as informações delas são extremamente sensíveis e precisam ficar protegidas.

Nova política do WhatsApp causou polêmica

A notícia de que o Facebook quer usar dados do mensageiro para melhorar o direcionamento de propaganda vem apenas alguns meses depois de críticas por causa de sua nova política de privacidade. Pelo novo texto, dados de conversas com empresas que usam o WhatsApp Business poderiam ser compartilhados com essas companhias para fins de marketing. Após ameaçar bloquear quem não aceitasse os novos termos, o WhatsApp recuou.

Apesar da gritaria, já faz tempo que o WhatsApp compartilha coisas sobre você com o Facebook: desde 2016, dados como recursos usados (grupos, ligações ou mensagens), informações sobre o aparelho (como sistema operacional, nível de bateria e força do sinal) e hora da última conexão com o app são coletados e usados para sugerir amigos, grupos, conteúdo, ofertas e anúncios nas propriedades da empresa.

Parece que isso vai um pouco além do que pretendiam os criadores do mensageiro. O aplicativo foi vendido em 2014; em 2017, Brian Acton deixou a empresa, e em 2018, foi a vez de Jan Koum, que não aceitou as mudanças relacionadas à privacidade dos usuários.

Uma das principais bandeiras do app, aliás, era a promessa de nunca ter anúncios. O mensageiro continua sem propagandas na interface principal, mas deve começar a exibi-las nos Status, sua versão dos Stories.

Acton já deixou claro seu descontentamento com o Facebook e recomendou que usuários deletassem os apps da gigante das mídias sociais após o escândalo da Cambridge Analytica. Hoje, ele é presidente executivo da Signal Foundation, responsável por manter o Signal, um dos principais concorrentes do WhatsApp para quem procura mais privacidade.

Com informações: MacRumors e Android Authority

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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