Magalu Games tem edital criticado devido a exigências e prazo apertado

BIG Festival e Magalu Games abrem edital para investir até R$ 10 mil em jogos hyper casuais, mas alguns usuários não concordam com certas partes do contrato

Murilo Tunholi
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O BIG Festival e o Magalu abriram um concurso para incentivar a produção de games nacionais. Estúdios de todo o país podem se inscrever para terem a chance de receber um investimento de até R$ 10 mil e ter sua criação publicada com o selo Magalu Games. Contudo, algumas pessoas têm criticado certos pontos do edital, em especial as cláusulas de pagamento, divisão de lucros e prazo de entrega dos projetos.

Magalu Games quer investir em jogos “hyper casuais”

Por meio desse concurso, o Magalu quer entrar no mercado de games publicando jogos “hyper casuais”. Esses títulos contam com gameplay simples e interface minimalista, são grátis para baixar e rodam direto em navegadores web ou celulares Android e iPhone (iOS). Entre os exemplos mais conhecidos estão Helix Jump, Crossy Road e Flappy Bird.

No edital, a empresa explica que serão selecionados oito estúdios com os melhores projetos entre todos os inscritos. Esses finalistas vão passar por consultorias e terão a oportunidade de receber um investimento de até R$ 10 mil para tirarem suas ideias do papel com uma demo. Depois de publicados, os games ainda podem ganhar apoio financeiro adicional.

Flappy Bird é um exemplo de jogo hyper casual (Imagem: Divulgação/Amazon)

A partir do momento que são selecionados, os oito estúdios devem fechar um contrato de divisão de lucros com o Magalu para continuarem no concurso. Até recuperarem o investimento oferecido, os desenvolvedores precisam repassar 70% do faturamento líquido do jogo para a contratante. Depois, a participação do Magalu cai para 50%.

Além disso, para serem publicados, os jogos precisam obedecer a algumas exigências, como ter “mecânica sofisticada e divertida, de preferência inovadora”, níveis de dificuldade diferentes para manter jogadores engajados, sistema de ranqueamento universal, opção de idioma em português e inglês e integração com a plataforma de login do próprio Magalu.

De acordo com o calendário de fases do concurso, os melhores estúdios serão selecionados entre dezembro e janeiro de 2022. A consultoria vai acontecer em fevereiro e a produção da demo será entre março a maio — ou seja, os desenvolvedores terão cerca de quatro meses para apresentar um projeto minimamente funcional.

Exigências e prazo apertado não agradaram o público

Devido a tantas exigências e ao prazo curto para desenvolver o jogo, algumas pessoas ligadas ao mercados de games começaram a criticar certas cláusulas do edital nas redes sociais. Os apontamentos focaram bastante na questão financeira, em especial no investimento para a produção da demo e na divisão dos lucros.

Por exemplo, os estúdio selecionados podem receber até R$ 10 mil. Esse pagamento pode ser menor, dependendo da avaliação da contratante. De acordo com alguns relatos, essa quantia não seria suficiente para bancar a produção de uma demo em tão pouco tempo, já que o estúdio precisaria de uma equipe remunerada.

Ao considerar o tempo de produção de quatro meses, a quantia total de R$ 10 mil poderia ser dividida em R$ 2,5 mil mensais. Com esse dinheiro, seria inviável bancar os custos do projeto, incluindo salários dos membros da equipe e outros gastos adicionais.

Outro ponto destacado é que os estúdios precisam não só desenvolver um jogo, como também arcar com todas as ferramentas administrativas, como plataformas que geram relatórios em tempo real para a contratante. Dependendo dos gastos, os desenvolvedores podem acabar precisando de mais dinheiro.

https://twitter.com/ThalySanches/status/1467524836801101829

Para alguns usuários, tantos obstáculos podem incentivar a criação de clones baseados em sucessos já existentes, eliminando o fator “inovação” buscado pelo Magalu. Desenvolver um jogo de alta qualidade, mesmo que seja só uma demo, não é algo simples que pode ser resolvido em poucos meses.

BIG Festival esclarece as questões do público

Para responder às dúvidas do público e esclarecer as questões que ficaram confusas no edital, o BIG Festival criou um FAQ com os principais problemas apontados pela comunidade. 

Em comunicado enviado ao Tecnoblog após a publicação inicial deste texto, a organização da feira explicou que o investimento de R$ 10 mil é para ser usado em uma demo jogável, mas os participantes poderão receber mais dinheiro ao longo do tempo.

O BIG Festival ainda falou que o Magalu só terá participação nos lucros dos jogos que forem selecionados no edital, nas proporções indicadas na chamada. “Como divulgado, esse é um projeto-piloto, que, se bem-sucedido, será aprimorado e replicado em um futuro próximo”, diz a mensagem.

Além do FAQ, o BIG Festival fez uma live para recolher feedbacks da comunidade e detalhar os pontos do edital. O vídeo na íntegra pode ser assistido logo abaixo:

Concurso pode valer a pena para estúdios específicos

Em conversa com o Tecnoblog, o fundador do estúdio Aipo Digital, Ariel Velloso, explicou que esse edital pode valer mais a pena para estúdios novos, mas com certa experiência em criar jogos de alta rentabilidade em prazos menores. No caso de desenvolvedores iniciantes ou com ideias mais complexas, essa oportunidade não é das melhores.

O ideal seria abrir mais editais para todos os tipos de projetos, assim haveria espaço tanto para estúdios mais criativos quanto para produtoras focadas em jogos comerciais. Para ficar por dentro dos detalhes do concurso, o edital completo está disponível no site do BIG Festival.

Atualização em 14 de dezembro de 2021, às 16h40: incluímos o posicionamento oficial do BIG Festival sobre as críticas da comunidade.

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Murilo Tunholi

Murilo Tunholi

Ex-autor

Jornalista, atua como repórter de videogames e tecnologia desde 2018. Tem experiência em analisar jogos e hardware, assim como em cobrir eventos e torneios de esports. Passou pela Editora Globo (TechTudo), Mosaico (Buscapé/Zoom) e no Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. É apaixonado por gastronomia, informática, música e Pokémon. Já cursou Química, mas pendurou o jaleco para realizar o sonho de trabalhar com games.

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