Cartão Top confunde usuários e governo de SP promete migrar créditos do Bom

Top "empurra" cartão de crédito e deixa de ser aceito em ônibus municipais; secretaria promete que saldo remanescente do Bom não será perdido

Giovanni Santa Rosa
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Divulgação do cartão Top em São Paulo (imagem: Facebook/Top)
Divulgação do cartão Top em São Paulo (imagem: Facebook/Top)

Desde o fim de 2020, o governo de São Paulo vem implantando mudanças nas passagens de Metrô, CPTM e ônibus intermunicipais da EMTU. Em outubro deste ano, o sistema começou a substituir o cartão Bom, usado em ônibus intermunicipais, pelo cartão Top. A mudança, porém, tem deixado usuários confusos.

O cartão Bom ainda pode ser usado e carregado. A Secretaria de Transporte Metropolitanos diz que o saldo não expira.

Mesmo assim, para quem migrou para o Top, fica uma questão: o que acontece com o dinheiro que sobra no Bom, mas que não é suficiente para pagar uma passagem?

O futuro do saldo remanescente

Até o começo de dezembro, o futuro da “sobra” dos créditos do cartão Bom era incerto.

Em 24 de novembro, o site Diário do Transporte relatou que o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo José Galli, havia minimizado a questão e dito que ela seria resolvida depois. O Procon-SP chegou a notificar a Autopass, associação responsável pelo sistema, para saber o que seria feito.

No Twitter, a conta oficial do serviço disse a um usuário que será possível transferir o saldo para o Top ou usá-lo para completar o valor de uma passagem.

Procurada pelo Tecnoblog, a Secretaria de Transportes Metropolitanos enviou o seguinte posicionamento (grifo nosso):

Nenhum cidadão terá prejuízo no uso de seus créditos do cartão BOM, que NÃO tem prazo para expirarem. Os passageiros terão direito a todo o valor remanescente (residual menor que uma passagem) no cartão BOM, que poderá ser usado como complemento na compra de uma nova passagem ou como crédito em um novo cartão TOP.

O saldo remanescente do cartão BOM (residual menor que o valor de uma passagem) será migrado para o TOP em prazo e formato ainda a serem divulgados. Até lá, o passageiro pode seguir usando normalmente o BOM para embarque nas linhas intermunicipais e estações, ou fazer a emissão do novo cartão TOP. Não há prazo limite para uso do saldo existente no cartão BOM.

Cartão e aplicativo Top (imagem: reprodução/Top)
Cartão e aplicativo Top (imagem: reprodução/Top)

Problemas em bilheterias e ônibus

A transição para o Top não inclui só o cartão. Ela abrange ainda as bilheterias do Metrô e da CPTM. No lugar dos antigos bilhetes magnéticos, aqueles que você enfiava na catraca, as passagens agora contam com um QR Code.

Elas podem ser físicas ou digitais. No primeiro caso, são impressas em papel térmico por totens de venda. No segundo, compradas e exibidas diretamente na tela do smartphone.

O sistema, porém, ainda enfrenta problemas.

Nos primeiros meses, houve relatos de máquinas inoperantes, causando filas nas estações. Em alguns casos, faltou papel.

O problema levou o Metrô e a CPTM a adiarem o fechamento das bilheterias, que estava previsto para o fim de 2021.

Outra questão é a aceitação por linhas municipais. O cartão Bom era originalmente destinado a ônibus intermunicipais, Metrô e CPTM, mas coletivos de várias cidades da Região Metropolitana de São Paulo passaram a aceitá-lo. Em algumas, isso vai mudar.

Segundo levantamento da Agência Mural, ônibus municipais de Carapicuíba, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Ribeirão Pires e Suzano não vão aceitar o Top, apenas seus próprios cartões.

Com isso, os passageiros dessas cidades que usam o transporte municipal para chegar até estações de trem ou pontos de ônibus intermunicipais terão que pagar mais caro na viagem, já que não há possibilidade de integração.

Nas demais cidades que aceitavam o Bom, nada muda: passageiros poderão usar o Top.

A Secretaria de Transportes Metropolitanos esclarece que a responsabilidade pela aceitação do Top é da prefeitura e da empresa responsável pelos transportes de cada município.

Novo cartão pode ter conta digital, débito e crédito

Uma das inovações do cartão Top é que ele pode ter uma conta digital e um cartão de débito integrados, sem taxa. Também dá para ativar a função crédito, mas há uma anuidade de 12 parcelas de R$ 16,90.

Se o passageiro não quiser, ele pode ter só o cartão de transporte. Mas ele precisa estar atento na hora do cadastro.

Cadastro do Top deixa cartão apenas de transporte como opcional
Cadastro do Top deixa cartão de transporte como opcional (Imagem: Reprodução/Top)

A opção pelo cartão de transporte está no meio dos termos de uso do serviço. Ela vem desmarcada por padrão. O usuário precisa encontrar a caixa no meio do texto e marcá-la.

No Reclame Aqui, há ainda relatos de passageiros que tiveram problemas na hora de pedir um cartão sem conta digital.

Uma consumidora da cidade de Itapevi conta que precisou ir até uma unidade das Lojas Pernambucanas, parceira comercial do serviço, para fazer a impressão do cartão após demora na entrega. Em um primeiro momento, ela não conseguiu fazer a retirada sem a opção de crédito. Depois, não foi possível pegar o cartão sem a conta digital.

Em Suzano, outro cliente diz ter solicitado o cartão de transporte, mas o que foi emitido tem conta digital. Agora, ele precisará cancelar e pedir um novo.

Atualizado às 12h40 de 12/1/22 com informações da Secretaria de Transportes Metropolitanos sobre recarga do Bom e aceitação do Top em linhas municipais.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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