Chineses exageram no apoio à Rússia e redes sociais apagam posts “impróprios”

WeChat, Weibo e Douyin derrubam vídeos, posts e contas com conteúdo “abusivo e provocativo” sobre invasão da Ucrânia pela Rússia

Giovanni Santa Rosa
Por
Bandeira da China

Fake news e conteúdos difamatórios não são exclusividade das redes sociais ocidentais. Na China, WeChat, Weibo e Douyin vem tomando medidas para remover conteúdos “impróprios” sobre a guerra na Ucrânia. Os posts derrubados menosprezam mulheres do país, incitam jovens a participarem dos conflitos e fazem piada com a situação — um reflexo do apoio massivo à ação da Rússia.

O Weibo excluiu 4 mil posts que louvavam a guerra, faziam piadas ou disseminavam conteúdo vulgar. Além disso, baniu temporariamente ou encerrou 105 contas envolvidas com conteúdo “abusivo e provocativo”. A rede social é o equivalente chinês do Twitter em termos de debate público.

O Douyin, versão chinesa do TikTok, removeu mais de 3,5 mil vídeos que continham vulgarizavam ou trivializavam a guerra, continham informações incendiárias ou comentários não amistosos.

Entre os conteúdos que surgiram nas redes sociais chinesas, alguns homens diziam não ter problemas para aceitar “belas mulheres ucranianas” que quisessem fugir para o país. Também circularam informações falsas dizendo que estudantes poderiam receber créditos caso se alistassem para lutar na Ucrânia.

No Douyin, uma informação falsa dizia que digitar “Ucrânia” gerava “efeitos explosivos” na tela do aplicativo. Ela foi usada em muitos posts click-bait, criados apenas para gerar engajamento.

“Indivíduos aproveitaram a oportunidade para publicar informações questionáveis sobre eventos globais”, diz um comunicado do WeChat publicado na sexta-feira (25).

O post foi compartilhado posteriormente pela Administração Chinesa do Ciberespaço, órgão responsável por supervisionar a internet no país.

Internet chinesa é pró-Putin e contra Ocidente

O New York Times diz que a internet chinesa é, em sua maioria, pró-Rússia, pró-guerra e pró-Putin.

Segundo o Washington Post, muitos dos comentários nas redes sociais demonstram apoio à Rússia, e alguns usuários do Weibo mostraram surpresa ao saber que cidadãos do país estavam protestando contra a guerra. Para eles, estes russos sofreram “lavagem cerebral” do Ocidente.

O jornal novaiorquino explica que a China vem tendo uma posição oficial bastante discreta. O país asiático não usa o termo “invasão” para se referir aos fatos, e não condena nem apoia a ação russa.

Mesmo assim, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, é visto como vítima de uma agressão política, ideológica e militar do Ocidente pelos internautas.

O New York Times diz que a perspectiva nas redes é de que o mundo é um jogo de soma zero entre o país asiático e o Ocidente, especialmente os EUA.

Essa visão seria fruto de uma política externa mais dura tomada nos últimos anos, com jornalistas das mídias estatais e diplomatas muito mais agressivos em suas declarações online.

Apesar desses episódios, há também usuários interessados em entender melhor o que está acontecendo.

China no Globo Terrestre
China no Globo Terrestre (Imagem: Christian Lue/Unsplash)

O South China Morning Post diz que as hashtags “Por que a Rússia está atacando a Ucrânia” e “Forças russas e ucranianas trocam fogo” entraram nos trending topics de Weibo e Douyin, com milhões de visualizações e comentários.

Em um vídeo publicado no Weibo, um estudante chinês na Ucrânia pede para que os outros usuários não façam piadas com a guerra. “Somos nós, seus compatriotas que estão no campo de batalha, que pagamos por suas ações.”

Mesmo assim, alguns usuários fizeram um paralelo entre a ação russa na ucrânia e a situação de Taiwan, considerada uma província rebelde pelo governo chinês. “Fique de olho, Taiwan”, diz um post.

Com informações: TechCrunch, South China Morning Post, The Washington Post, The New York Times.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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