Microsoft abre código-fonte do 3D Movie Maker só porque alguém pediu

3D Movie Maker é um programa de animação lançado pela Microsoft em 1995; ferramenta foi a primeira a usar fonte Comic Sans

Emerson Alecrim
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3D Movie Maker (imagem: GitHub/Microsoft)
3D Movie Maker (imagem: GitHub/Microsoft)

Em 1995, os recursos computacionais eram rudimentares, mas isso não impedia a turma daquela época de brincar com animações no PC. Uma ferramenta disponível para isso era o Microsoft 3D Movie Maker. Quase 30 anos depois, alguém pediu para a companhia abrir o código-fonte do programa. E não é que a Microsoft atendeu ao pedido?

Essa história começou em 6 de abril, quando o programador Foone Turing publicou a seguinte mensagem no Twitter:

Ei @Microsoft, dê para mim o código-fonte do 3D Movie Maker. Vocês o lançaram em 1995 e eu quero expandi-lo e estendê-lo. Minhas DMs [mensagens diretas] estão abertas, eu vou ajudá-los a abrir o código-fonte disso.

Por incrível que pareça, a Microsoft não ignorou o pedido. Ok, demorou quase um mês para a empresa dar um retorno, mas ela deu. Na última quarta-feira (4), Scott Hanselman, gerente de comunidade da divisão de desenvolvedores da companhia, confirmou que o código do 3D Movie Maker iria ser aberto.

E foi. O código-fonte do 3D Movie Maker está disponível no GitHub sob uma licença MIT, que permite modificação, distribuição e até uso comercial.

Ponto para Microsoft! Mas aí vem a pergunta: por que a companhia decidiu atender ao pedido de Turing? Ao Ars Technica, Hanselman respondeu: “porque nunca houve um aplicativo como esse. Mesmo agora, 25 anos depois, existe uma comunidade animada com essa ferramenta”.

O que o 3D Movie Maker tem de especial?

Hoje, o programa pode ser resumido em uma única palavra: nostalgia. Desenvolvido pela antiga divisão Microsoft Kids, em 1995, o programa era direcionado a crianças, mas muitos adultos se divertiam com ele.

A ferramenta permite a criação de animações com elementos tridimensionais, trilhas sonoras, textos até efeitos especiais. Os arquivos resultantes recebem a extensão .3mm.

O detalhe mais curioso é que, apesar de o 3D Movie Maker ser bastante antigo e ter sido desenvolvido na época do Windows 95, o programa tem fãs até hoje. O vídeo abaixo, publicado no YouTube em 2009, mostra o 3D Movie Maker em ação:

O 3D Movie Maker e a fonte Comic Sans

Odiada por designers e amada por quem gosta de provocar designers, a Comic Sans está até hoje no ecossistema do Windows. O que pouca gente sabe é que o 3D Movie Maker foi o primeiro programa a usar essa fonte (repare nos menus do vídeo acima).

Originalmente, a Comic Sans foi desenvolvida para integrar o Microsoft Bob, um software planejado para tornar o uso do Windows mais fácil. Quando o projeto foi finalizado, a fonte ainda não estava pronta. Porém, os desenvolvedores do 3D Movie Maker tiveram acesso a ela e a incorporaram à ferramenta.

Em tempo: o Microsoft Bob foi um grande fracasso, razão pela qual é pouco provável que você tenha ouvido falar dele.

Algum tempo depois, a Comic Sans foi incorporada ao Windows 95 por meio do pacote Microsoft Plus!. Como você deve saber, a fonte está no ecossistema do Windows até hoje (gostemos ou não).

Vem aí uma versão “Plus”

A intenção de Foone Turing com o acesso ao código-fonte não é eliminar a Comic Sans do 3D Movie Maker, mas aperfeiçoar a ferramenta. Está em seus planos criar um “3D Movie Maker Plus”, inclusive. Essa versão deve remover o limite de 256 cores da ferramenta original e atualizar o seu mecanismo de renderização, por exemplo.

Aliás, o renderizador 3D nativo não é da Microsoft. Trata-se do BRender, da Argonaut Software, que foi usado em vários jogos da década de 1990. Entre eles estão Carmageddon e FX Fighter.

Carmageddon (imagem: Twitter/Foone Turing)
Carmageddon (imagem: Twitter/Foone Turing)

Turing entrou em contato com o ex-CEO da Argonaut, Jez San. Adivinha o que aconteceu? Pois é, o código-fonte do BRender também foi liberado, novamente sob uma licença MIT.

Liberar o código-fonte de ferramentas antigas é o tipo de decisão que eu gostaria que empresas de software tomassem com mais frequência. Isso é útil não só para a criação de projetos derivados, mas para ajudar a quem está aprendendo programação.

No caso da Microsoft, ela já fez isso antes. Vide o exemplo do MS-DOS e do Word 1.1a.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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