Intel dá adeus à memória Optane em ajuste contábil de US$ 559 milhões

Sem conseguir lucrar com dispositivos Optane e com estoque excedente, Intel decidiu acabar de vez com negócio

Emerson Alecrim
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Módulo Optane (imagem: divulgação/Intel)
Módulo Optane (imagem: divulgação/Intel)

A atual fase da Intel inclui a construção de fábricas e a entrada no segmento de placas de vídeo. Mas, às vezes, é preciso dar um passo para trás. É o que a companhia fez após divulgar os seus resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2022. Como parte de um ajuste contábil, a divisão de memórias Optane foi fechada.

Originalmente chamadas de 3D XPoint, as memórias Optane surgiram em 2015 como resultado de uma parceria entre Intel e Micron. A então novidade chegou com promessas interessantes: ser mil vezes mais rápida que chips Flash convencionais (usados em SSDs), além de mil vezes mais resistente.

A Intel usou a tecnologia 3D XPoint na linha Optane Persistent Memory, direcionada a servidores. Módulos do tipo ainda existem e têm a proposta de ser uma espécie de memória RAM, mas com mais densidade de bits e capacidade de reter dados na ausência de energia. A linha é especialmente interessante para aplicações que tratam de grandes volumes de dados.

Não parou aí. A Intel também implementou a tecnologia 3D XPoint na linha de SSDs de alto desempenho Optane, novamente, voltada a servidores. Em 2017, a linha Optane Memory foi lançada para funcionar como uma memória cache para PCs domésticos.

O começo do fim

Apesar de ter como base uma tecnologia inovadora, os dispositivos Optane esbarram em alguns complicadores. O principal deles é o preço. Os custos de produção de módulos 3D XPoint são consideravelmente mais elevados em relação a chips Flash convencionais. Além disso, memórias Optane podem ter taxas de transferência de dados mais lentas do que determinados módulos DRAM.

Como consequência, a Intel vinha perdendo dinheiro com a família Optane. A primeira reação ao problema apareceu no começo de 2021, quando a companhia decidiu descontinuar as memórias Optane para PCs domésticos.

A Intel também deixou claro que não pretendia lançar nenhuma linha sucessora. Era um sinal de que toda a família Optane estava com os dias contados.

Perdas de US$ 559 milhões com Optane

Talvez você esteja se perguntando: onde fica a Micron nessa história? Não fica. A companhia encerrou a sua parceria com a Intel em 2018. Posteriormente, a fábrica de módulos 3D XPoint da Micron foi vendida.

A Intel acabou ficando em uma situação complicada, como conta o site Blocks & Files. Primeiro porque a empresa não tem fábricas capacitadas para produzir módulos 3D XPoint em larga escala, além de não ter planos de construir uma.

Para completar, a Micron saiu do negócio deixando um estoque imenso de módulos 3D XPoint, muito mais do que a Intel precisa para atender ao mercado. Estima-se que o estoque excedente é suficiente para dois anos de abastecimento.

Módulo Optane (imagem: divulgação/Intel)
Módulo Optane (imagem: divulgação/Intel)

Mas é preciso manter as contas em ordem. Em seu mais recente relatório de resultados financeiros — nele, a Intel registrou prejuízo líquido de US$ 500 milhões no segundo trimestre —, a empresa revelou que a divisão Optane será descontinuada. Esse processo ocorre com perdas de US$ 559 milhões relacionadas ao estoque.

Na prática, é como se a Intel estivesse reconhecendo que não vai conseguir colocar o estoque excedente no mercado e, consequente, pagando os US$ 559 milhões para encerrar o negócio de uma vez.

É uma medida drástica, tanto que havia dúvidas sobre a decisão valer para toda a família Optane. E vale. Ao AnandTech, a Intel confirmou que todas as linhas serão afetadas.

Como que para dizer que não deixará clientes que precisam de memórias sofisticadas desemparados, a companhia também confirmou planos de focar em CXL (Compute Express Link). Esse é o nome de uma tecnologia que permite acelerar a comunicação do processador com memórias voláteis e não voláteis (que não perdem dados se faltar energia).

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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