A Dynamic Island do iPhone não teria bons motivos para existir no Android

A Apple já ditou muitas tendências, mas as câmeras frontais do Android parecem ter superado a fase dos grandes recortes na tela

Giovanni Santa Rosa
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iPhone 14 Pro

A Apple pode não ser a primeira a adotar certas características nos seus produtos, mas muitas coisas que ela faz acabam ditando tendências na indústria. Na última quarta-feira (7), o iPhone 14 Pro trouxe um recurso interessante, chamado Dynamic Island. Ele “esconde” o buraco da câmera e dos sensores frontais com notificações e animações. Desta vez, porém, parece improvável que os celulares com Android incorporem a ferramenta.

O iPhone 14 Pro marcou uma mudança no design do aparelho, mais especificamente na parte que abriga a câmera frontal e os sensores do Face ID. Saiu o entalhe, aquele contorno na borda superior da tela, e entrou um buraco em formato de pílula.

A Apple decidiu dar um jeitinho de esconder esse buraco: ele fica com um contorno preto, onde são mostradas informações em segundo plano ou notificações, como placares esportivos, ligações em curso, instruções de GPS ou a capa do álbum que você está ouvindo. Tem até uma animação para quando o reconhecimento facial é ativado.

E, gostando ou não, muito do que a Apple faz acaba repercutindo no mercado — os smartphones sem saída para fone de ouvido e sem carregador na caixa são exemplos disso.

iPhone 14 Pro
iPhone 14 Pro (Imagem: Reprodução / Apple)

O notch do iPhone X virou moda

O antecessor da Dynamic Island mostra bem como o iPhone influencia os concorrentes. O entalhe, também chamado de notch, apareceu no iPhone X, de 2017.

Lançado para comemorar os dez anos da linha, ele trouxe a maior mudança no design do aparelho até então, que perdeu as molduras e o botão frontal e passou a ter uma tela mais alongada.

A tela com proporções mais esticadas na vertical já marcava presença entre smartphones Android de topo de linha, assim como o design sem bordas. O notch, porém, teve seu impacto: OnePlus, Huawei e Motorola foram algumas que entraram na onda.

Asus Zenfone 5
Asus Zenfone 5 (Imagem: Paulo Higa/Tecnoblog)

O Asus Zenfone 5, de 2018, era praticamente uma cópia do iPhone X. Na ocasião, Marcel Campos, chefe global de marketing da empresa, disse: “Algumas pessoas vão dizer que estamos copiando a Apple, mas não podemos nos afastar do que os usuários querem. É preciso seguir as tendências”.

O 3D Touch era dispensável

Nem toda tendência “pega”. Um bom exemplo é o 3D Touch. Para quem não se lembra dele, era uma tecnologia de tela sensível à pressão: você apertava com um pouquinho mais de força e acionava um comando diferente de um simples toque, como se fosse um clique com o botão direito do mouse.

Antes mesmo de estrear no iPhone 6s, de 2015, quando havia apenas rumores, a Huawei lançou o Mate S com recurso parecido. ZTE e Meizu fizeram o mesmo. Mas foram só elas. Até se especulou que o Galaxy S7 teria uma ferramenta assim, mas não era verdade. A Samsung e outras marcas não embarcaram na onda.

Função Peek and Pop no iPhone
3D Touch em ação (Imagem: Reprodução/Apple)

A verdade é que o 3D Touch era interessante, mas não adicionava tanta utilidade assim. Nos smartphones Android sem telas sensíveis à pressão, bastava tocar por um período mais longo para acessar recursos extra. Não fazia sentido investir em hardware para isso.

A situação da Dynamic Island pode estar mais para 3D Touch do que para notch.

Android e iPhone estão em momentos diferentes

Primeiro, há questões de ecossistema. O recurso da Apple está presente no iPhone 14 Pro e na versão maior Max. Isso facilita a implementação.

No Android, há recortes de todos os jeitos: entalhes em formato de U, de gota, furos circulares na tela alinhados à esquerda, à direita, centralizados. Seria mais difícil pensar em um Dynamic Island com essas variações.

Se algo do tipo for implementado, provavelmente partirá das próprias fabricantes, seja nas suas interfaces customizadas, seja propondo mudanças ao Android Open Source Project.

Além disso, o sistema funciona de um jeito diferente. O Android mostra, na barra de status, os ícones dos apps que enviaram notificações. Elas, aliás, podem ficar de forma permanente e receber atualizações, algo que o iOS só está recebendo agora com as Live Activities.

Ou seja: a barra de status do Android e a área de notificações já facilitam bastante a vida do usuário, mesmo que ele não tenha isso fixo na tela.

Galaxy Z Fold 4
Galaxy Z Fold 4 (imagem: divulgação/Samsung)

Um ponto importante nisso tudo é que os smartphones com Android já estão em outra fase. As câmeras frontais no estilo punch-hole, aquele buraquinho redondo na tela, foram adotadas por várias empresas e fazem parte até mesmo de aparelhos intermediários. O notch à la iPhone X ficou no passado.

A próxima fronteira é colocar a câmera atrás da tela, para o display ficar sem nenhum recorte ou furo. O Galaxy Z Fold 4 já foi por esse caminho, por exemplo.

Para a Apple, isso é muito mais difícil: a empresa abandonou os leitores de digitais nos iPhones mais recentes, e a única forma de leitura biométrica é o Face ID, que depende de sensores mais avançados para fazer o escaneamento dos rostos.

Isso não quer dizer que não vamos ver nenhuma versão da Dynamic Island no Android. Alguns usuários já criaram customizações, como esta para a MIUI da Xiaomi, e alguns fabricantes podem se inspirar no recurso para colocar mais informações no topo da tela. No entanto, parece improvável que a maioria das fabricantes siga essa tendência.

Com informações: Android Police.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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