Mastodon descobre que crescer não é tão legal quanto parece

Rede social está passando por problemas causado por crescimento acelerado; administradores voluntários não conseguem dar conta da demanda

Felipe Freitas
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• Atualizado há 3 meses
Bem-vindo ao Mastodon! (Mastodon/Reprodução)
O Mamute pequenino não sabia aonde estava indo (Mastodon/Reprodução)

Desde 2016, ano de seu lançamento, o Mastodon é conhecido como um “tipo Twitter”, mas ele nunca alavancou. Quando Elon Musk comprou a rede social do passarinho, usuários descontentes e preocupados com a gestão do bilionário pularam para o Mastodon. Todavia, nem tudo são flores para a equipe da plataforma.

Com o aumento no número de usuários, o formato de administração e moderação do Mastodon está sobrecarregando. Na rede social, os usuários entram em servidores. Cada servidor possui seus administradores, todos voluntários, que atuam para manter o espaço respeitoso na rede social.

Mastodon sobrecarregado pode gerar “fuga” de administradores

A proposta do Mastodon é similar aos fóruns e servidores de Discord, um lugar descentralizado e que segue a “lei de Murici”: cada um cuida de si. Violou as regras do seu grupo no Mastodon? Um administrador, sem ligação com a gestão da empresa, será o responsável por aplicar a penalização — seja qual for a sua violação e as punições cabíveis. Aqui está um dos problemas atuais da plataforma.

Com o boom de usuários, que saltou 300 mil usuários ativos para 2 milhões em outubro, esses administradores tiveram o seu trabalho (voluntário) multiplicado. Com essa sobrecarga, violações às regras da rede social, servidores e de legislações estão passando impunes.

Por exemplo, se alguma postagem violar a Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças (aquela que a Epic Games não seguiu), é papel do administrador do servidor tomar as rédeas da situação, bloqueando o conteúdo e denunciando o usuário que cometeu a violação. Do contrário, a culpa cai… sobre eles mesmo.

Lidar com discursos criminosos na internet vai além da existência de leis (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
Seja qual for a origem, as vozes precisam seguir a legislação de onde alcançam? (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Em entrevista para o Ars Techinica, Corey Silverstein, advogado especializado em legislação digital, explicou que os administradores não entendem esse risco. Para piorar, há ainda a uma discussão na área sobre o alcance das leis de outros países nas redes sociais: se o servidor pode ser acessado no Brasil, ele também precisa seguir as nossas leis — e não estamos falando de ter um escritório no país.

A vantagem desse formato é que a rede social pode seguir com uma equipe de moderação reduzida, a desvantagem é… todo o resto. Com servidores sobrecarregados, aumenta as chances de que os administradores não moderem um conteúdo a tempo. Se eles podem ser processados por não remover o conteúdo, por que eles vão querer continuar como administradores?

Com esse formato, o Mastodon pode ver o crescimento parar ou até mesmo começar a perder os usuários mais tradicionais. Inclusive eles estão indignados com os novos membros da rede social.

Os Mastodones: Guerra Civil

Guerra Civil também acontece no Mastodon (Imagem: Divulgação/Marvel)
Guerra Civil também acontece no Mastodon (Imagem: Divulgação/Marvel)

Fora esses problemas, o Mastodon é igual a quase todas as redes sociais da atualidade: tem postagens curtas (até 500 caracteres), DM, feed, fotos, vídeos, compartilhamento, opção de favoritar mensagens. Parecido com o Twitter, mas não é o Twitter. Aqui começa a Guerra Civil da rede social.

Os usuários antigos do Mastodon gostam da rede social do jeito que ela é. Quem veio do Twitter, quer que a plataforma vire o Twitter sem Elon Musk. No momento, não há indicativos de que o Mastodon se adaptará para ser o Twitter pré-outubro de 2022. Seja qual caminho a plataforma siga, não dá de agradar gregos e troianos — e aí o Mastodon acabará perdendo uma parte do grupo “derrotado”.

Com informações: Ars Technica

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.

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