Americanas pede recuperação judicial e afirma só ter R$ 250 milhões em caixa

Dívidas da empresa são de R$ 43 bilhões e lista completa de seus 16.300 credores será divulgada em até 48 horas; rombo foi descoberto na semana passada

Felipe Freitas
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Americanas em um iPhone (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)
Americanas pede recuperação judicial (Imagem: André Fogaça/Tecnoblog)

A Americanas S.A. entrou com pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira (19). A empresa de varejo, dona também do serviço financeiro AME, deve apresentar o seu plano de recuperação em 60 dias (prazo definido pela lei). Dos R$ 800 milhões em caixa, R$ 550 milhões foram bloqueados, restando R$ 250 milhões “livre” — e a varejista tem uma dívida de R$ 43 bilhões com 16.300 credores.

A recuperação não chega a ser uma surpresa. Não apenas era esperado isso, já que na sexta-feira passada (13) a Americanas entrou com um pedido de urgência cautelar para não ser cobrada pelas dívidas, como a própria empresa anunciou ainda nesta manhã que pediria recuperação judicial. Sem a decisão de ter as cobranças de dívidas suspensas, o caixa da companhia foi “dragado” — como ela mesmo usou na abertura do pedido.

Americanas pede recuperação judicial, mas isso não significa falência

O pedido de recuperação judicial não é um pedido de falência. Se aceito, leva a Americanas a apresentar um plano de recuperação judicial e ela terá 180 dias livre de ser cobrada de suas dívidas. Saindo do juridiquês e indo para o português: ela tem que botar a ordem na casa e mostrar como fará isso.

Se houver objeções ao plano (praticamente impossível 16.300 credores concordarem unanimemente), 50% dos credores precisam aprovar o pedido do documento, que envolve, entre outras coisas, ampliar os prazos dos pagamentos de dívida. É como uma pessoa negociando as dívidas com alguma empresa — com a diferença que os R$ 500 que sujaram o seu nome não causam o mesmo impacto que R$ 1,5 bilhão.

Se a Americanas conseguir a aprovação de 8.150 credores, todos os outros que votaram contra a proposta são obrigados a concordar com o novo plano de recuperação judicial.

Agora, se a varejista não atingir esse “número mágico”, pode falir. Ficaria muito mais complicado para a Americanas negociar as dívidas sem essa recuperação judicial. A recusa desse pedido acaba agravando a situação já extrema de qualquer companhia.

Avião da Americanas (Imagem: Divulgação/Americanas)
Americanas encerrou, sem anunciar, parceria com ASAS Linhas Aéreas (Imagem: Divulgação/Americanas)

A ideia do recurso é que a Americanas, ou qualquer empresa que entrar com o pedido, está dizendo aos credores e funcionários que não irá falir se tiver a chance de realizar as mudanças propostas.

O objetivo desse instrumento jurídico, mais do que salvar empresas e impedir calotes, é proteger os empregados envolvidos na operação da empresa.

Como diz meu professor de contabilidade: empresa é igual filho, você tem responsabilidades. Uma dessas responsabilidades são os funcionários, que estão preocupado com os seus trabalhos.

No pedido de recuperação judicial a Americanas também relata o impacto que a sua falência causará no preço dos ovos de Páscoa. A companhia é a maior varejista desses chocolates no mundo.

Plano de recuperação em 60 dias, mas algumas coisas são óbvias

Mesmo que a Americanas tenha 60 dias para apresentar seu plano de recuperação, os casos das grandes empresas que entraram com o pedido é uma base para entender o que a varejista deve fazer a seguir.

Mesmo que a recuperação judicial tenha o papel de proteger os funcionários, é provável que a Americanas corte uma boa parte dos seus mais de 100 mil empregados — inclusive ela usa esses dados como um dos motivos para o seu pedido ser aceito. A empresa inclui nesse número os colaboradores indiretos. Mesmo não tendo relação com as Americanas, eles terão o seu trabalho impacto de alguma forma.

Quando estava em recuperação judicial, a Oi vendeu a Oi Móvel para TIM, Claro e Vivo. Aqui é temos uma outra “premonição”. O grupo Americanas. também é dono outras empresas, como Submarino, Shoptime, Imaginarium, AME, Puket e Natural da Terra. Essas marcas podem ser vendidas para que a companhia tenha mais dinheiro para pagar o que deve. Exceto a AME, já que não está incluída na recuperação e Americanas pediu para capitalizar a sua fintech.

Ame vai oferecer cashback de 10% em compras feitas no Maracanã (Imagem: Divulgação/Americanas S.A.)
Ame-as ou deixe-as. Americanas deve vender marcas do grupo (Imagem: Divulgação/Americanas S.A.)

A Americanas, na sexta-feira passada, retirou o patrocínio ao BBB 2023 — três dias antes do início do programa. É pouco provável que a empresa realize novos investimentos no ano e, na sequência, outras marcas podem perder o patrocínio da Americanas.

E enquanto uns choram, outros vendem lenços. No lugar da Americanas, a rival Mercado Livre adquiriu a cota de R$ 105 milhões de patrocínio ao BBB 2023. Mesma que ela siga o plano da recuperação judicial e retome a estabilidade, a Americanas verá as suas concorrentes tomando o seu espaço — e voltar a ser o que era antes dessa recuperação será difícil.

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.

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