CEO de empresa de IA sem IA será julgado por fraude nos EUA

Albert Saniger arrecadou mais de US$ 50 milhões com investidores para app que usava IA para compras com um clique. Mas IA, na verdade, era um call center filipino.

Felipe Freitas
• Atualizado às 12:19
Resumo
  • Albert Saniger, fundador da Nate, será julgado por fraude nos EUA após enganar investidores sobre o uso de IA no aplicativo da empresa.
  • O app prometia automatizar compras com um clique através de uma IA, mas, na verdade, usava um call center nas Filipinas para processar os pedidos.
  • A startup arrecadou mais de US$ 50 milhões com promessas de automação por IA. Se condenado, Saniger pode pegar até 20 anos de prisão por fraude de investimento e digital.

Albert Saniger, fundador de uma startup de compras com IA, será julgado por fraude nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Justiça (DOJ) do país, Saniger enganou investidores ao arrecadar fundos para a Nate, sua empresa que prometia uma IA capaz de fazer compras para os usuários com apenas um clique. Contudo, o que se apresentava como IA era, na verdade, dependente de funcionários de um call center nas Filipinas.

A Nate conseguiu US$ 50 milhões (R$ 292,2 milhões) em rodadas de investimentos. Segundo o DOJ, não havia nenhuma automação de IA na operação da empresa. O The Information, que revelou a história em 2022, disse à época que o uso de IA era praticamente mínimo, com a maioria do serviço sendo feito por humanos.

Como funcionava o produto da Nate?

O produto da empresa era um app chamado nate (com n minúsculo mesmo). Com ele, o usuário via uma lista de produtos em diferentes lojas. Na hora de comprar, bastava clicar no produto desejado e pronto, a “IA” faria o resto: preencher os dados do cartão, do comprador, endereço de entrega e dar o OK na compra — similar a um operador de navegador de internet.

A proposta parece uma maravilha. Mesmo que comprar na Amazon ou Mercado Livre seja rápido atualmente, ficar navegado entre os sites pode ser chato. Então um app que reúne diferentes e-commerces e promete concluir a compra rapidamente com um clique é um sonho — e cobrando apenas US$ 1 por transação.

Um dos primeiros indícios de que havia algo errado na empresa foi a demora na conclusão de algumas compras. Usuários do app notaram que alguns pedidos eram concluídos depois de horas.

O The Information revelou que a empresa contratava um call center nas Filipinas para preencher os dados dos clientes do app. Nas rodadas de investimentos, Saniger dizia que apenas em raros casos seria necessária a intervenção humana para finalizar uma compra.

Segundo o DOJ, a empresa não conseguiu desenvolver uma IA capaz de constantemente completar as compras dos usuários. O órgão americano afirma que Saniger seguia declarando para investidores que o processo era todo automatizado. Nem mesmo a maioria dos funcionários sabia a verdade, visto que o CEO restringia o acesso aos dados do serviço.

Saniger é acusado de fraude de investimento e fraude digital. Os dois crimes têm pena máxima de 20 anos de prisão.

Caso similar ocorreu com IA para drive-thru

Em 2023, um caso idêntico foi descoberto com a Presto, empresa que fornecia um software de IA para drive-thrus. A proposta do programa, que usa a API do ChatGPT, é automatizar o atendimento desse tipo de serviço. No entanto, a taxa de 95% de automação (ou não-intervenção humana) era falsa.

Na realidade, a Presto utilizava pessoas em 70% dos pedidos feitos. E sim, também com call centers nas Filipinas — além de serviços de pessoas de outras nações asiáticas. Assim como no caso da nate, essas mentiras não agradam investidores, que injetam milhões em projetos falsos, e prejudicam empresas que procuram capital mantendo um projeto honesto.

Com informações de DOJ, TechCrunch e The Information

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.