Currículos escritos pelo ChatGPT se tornam pesadelo para recrutadores

Empresas reclamam que textos genéricos e de baixa qualidade estão "inundando" processos seletivos. Candidatos usam IA até para resolver testes.

Giovanni Santa Rosa

Recrutadores estimam que até 50% dos currículos recebidos foram gerados por ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT e o Gemini. Eles contam que estão tendo que lidar com grandes quantidades de inscrições genéricas, escritas de formas parecida e cheias de palavras-chave.

Este número foi obtido pelo Financial Times em conversas com fontes do setor e pesquisas publicadas nos últimos meses. Ele se refere apenas aos currículos claramente escritos por IAs — na verdade, a quantidade real pode ser bem maior.

Pessoa no computador
ChatGPT deixa sinais no texto, alertam recrutadores (Imagem: Glenn Carstens Peters / Unsplash)

Para Victoria McLean, da consultoria de carreira CityCV, a escrita desajeitada e genérica é facilmente identificável. “Currículos precisam mostrar a personalidade, paixões e história do candidato, e uma IA não consegue fazer isso”, diz McLean.

Com o ChatGPT, o volume de inscrições aumentou e a qualidade do material enviado diminuiu, dificultando a tarefa de escolher um candidato para a vaga. “Definitivamente estamos vendo um volume maior e uma qualidade mais baixa, o que significa que está mais difícil filtrar”, diz Khyati Sundaram, diretora-chefe da plataforma de recrutamento Applied.

Os candidatos usam IA até mesmo para responder tarefas de avaliação. “Um candidato pode copiar e colar qualquer questão da inscrição no ChatGPT, e então copiar e colar a resposta no formulário”, explica Sundaram. Ela considera que a “barreira de entrada” está mais baixa.

ChatGPT pago dá vantagem

Uma dessas pesquisas foi feita pela empresa Neurosight, também da Inglaterra, especializada em recursos humanos. Segundo o levantamento, 57% de cerca de 1,5 mil estudantes entrevistados que procuram empregos recorreram ao ChatGPT.

A Neurosight também identificou que alunos que usam a versão Plus do ChatGPT conseguem passar em testes com mais facilidade do que os que ficam no plano gratuito. A assinatura, que custa US$ 20 mensais (aproximadamente R$ 110), oferece acesso a modelos de linguagem mais avançados.

E o que as empresas podem fazer para contornar tudo isso? A resposta é simples: recorrer à boa e velha entrevista. Nela, não dá para o candidato usar IA. “Tudo está sendo automatizado ao máximo, mas sempre haverá a necessidade da interação humana antes da seleção final”, diz Ross Crook, da agência de recrutamento Morgan McKinley.

Com informações: Financial Times, TechSpot

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.