Estúdio sofre críticas e admite que usou IA em game

11 bit Studios admite ter usado IA para traduções e texto no recém-lançado The Alters. Apesar das críticas, estúdio deve continuar usando a tecnologia.

Felipe Faustino
• Atualizado às 15:19
Resumo
  • O 11 bit Studios confirmou ter usado IA para traduções e textos no jogo The Alters.
  • Um erro de cópia expôs frases típicas de prompt de IA em diálogos do jogo.
  • O estúdio justificou a decisão pela pressão dos prazos e prometeu melhorar a comunicação com o público em futuras atualizações.

Um pequeno detalhe em um texto foi o suficiente para que jogadores suspeitassem que o estúdio polonês 11 bit, conhecido por jogos elogiados como Frostpunk e This War of Mine, teria utilizado IA generativa em seu novo game, The Alters. E estavam certos.

Em um comunicado publicado nessa segunda-feira (30/06), o estúdio admitiu o uso de inteligência artificial durante o desenvolvimento do jogo, lançado em 13 de junho. A empresa reconheceu as falhas e prometeu mais transparência no futuro.

Segundo a 11 bit, o uso, que não foi sinalizado na página do jogo na Steam, foi limitado à tradução e a um texto gráfico. Contudo, jogadores especulam que o estúdio também pode ter usado IA na geração de ícones e no design de personagens.

Jogadores flagraram prompt dentro do jogo

A descoberta aconteceu de forma orgânica. No Reddit, o usuário EarthlingKira publicou uma captura de tela mostrando um trecho das anotações do capitão no jogo. Porém, o que mais chamou atenção foi o início do texto, que exibia um “resquício” típico de prompt usado em ferramentas de geração por inteligência artificial.

A frase aparece no topo do trecho: “Claro, aqui está uma versão revisada focando puramente em dados científicos e astronômicos”, linguagem que denunciou o uso de IA no conteúdo final (e que a equipe deixou passar na hora de copiar e colar o texto para o jogo).

Outros exemplos surgiram em seguida. Um jogador brasileiro identificou uma legenda em português, de um vídeo reproduzido dentro do jogo, com o mesmo problema. O texto começa com “Claro! O texto traduzido para o português brasileiro é…”, novamente indicando que a tradução foi feita por IA e sem revisão humana.

No BlueSky, usuários levantaram a possibilidade da empresa ter utilizado inteligência artificial na geração ou refinamento de ícones, mas os sinais são menos claros do que a aparição de trechos do prompt.

Isso, para o usuário Daniel Wynter, que publicou a suspeita, “é mais um motivo para os desenvolvedores serem honestos e pararem de tentar justificar áreas cinzentas”.

Impressão minha ou a tradução pra português de The Alters usou chatgpt e esqueceu de apagar o prompt?(e sim, tá ruim o texto em português do jogo, várias traduções erradas ou imprecisas, frases confusas que não soam natural etc)

Heitor De Paola (@zitosilva.bsky.social) 2025-06-27T16:44:24.259Z

Por causa da polêmica, na Steam, The Alters passou a receber algumas críticas negativas apontando a falta de transparência por parte do estúdio.

Jogadores reclamam que o uso de IA não foi informado previamente nem indicado na página oficial do game. Ainda assim, grande parte das reviews são positivas e não há uma explosão de críticas até o momento.

Estúdio admitiu uso “limitado”

Segundo a 11 bit studios, a IA foi usada de forma pontual para a criação de um texto de placeholder (temporário) para o recurso gráfico — as anotações do capitão — que, por um erro interno, acabou sendo mantido na versão final.

O estúdio também admitiu que utilizou inteligência artificial na localização de vídeos licenciados. No comunicado oficial, a empresa justifica o uso para tradução de conteúdos para além do inglês devido ao “prazo apertado” e explica que essas traduções devem ser revisadas posteriormente por profissionais.

“Em retrospecto, reconhecemos que essa foi uma decisão errada. Nós deveríamos simplesmente ter avisado vocês”, admitiu a empresa no comunicado.

We’ve seen a wide range of accusations regarding the use of AI-generated content in The Alters, and we feel it’s important to clarify our approach and give you more context.

11 bit studios | WISHLIST DEATH HOWL (@11bitstudios.bsky.social) 2025-06-30T15:31:23.733Z

Na publicação, o estúdio foca na má comunicação, e não no fato de ter usado IA. Contudo, essa falha, por si só, pode acarretar punições na Steam, já que a Valve, que gerencia a plataforma, exige que desenvolvedores informem explicitamente quando utilizam IA.

A 11 bit também sinalizou que pretende seguir adotando a tecnologia em tarefas “menores”, prática cada vez mais comum — e até defendida — dentro da indústria de games.

Indústria já adotou IA massivamente

Jogadores e profissionais certamente se preocupam com a ética, a qualidade artística e o impacto da IA sobre os empregos. Nas redes sociais, usuários afirmam que a 11 bit pode simplesmente contratar (e pagar) artistas humanos durante o desenvolvimento, ou então deixarão de comprar seus produtos.

Deixar de jogar qualquer jogo que não use IA hoje em dia, contudo, pode ser um tiro no escuro. Segundo o MIT Technology Review, a IA já é parte do cotidiano de 87% dos estúdios de games.

Recentemente, o criador de Super Smash Bros., Masahiro Sakurai, afirmou que o desenvolvimento de jogos se tornou “insustentável” e que a IA generativa é a “única solução eficaz” para equilibrar criatividade e produtividade.

Claro, ali ele se referia à produção de jogos AAA (os mais caros e sofisticados), mas uma visão parecida é compartilhada por nomes como Shuhei Yoshida, ex-presidente da PlayStation, que defende o uso para automatizar tarefas repetitivas e vê o uso por produtoras de jogos indies como uma forma de equilibrar a indústria.

No Reddit, o próprio criador da thread que denuncia o uso de IA pela 11 bit minimizou a situação: “Para mim, é engraçado eles terem falhado em copiar direito o texto gerado pela IA. Se eles tivessem apagado a frase, ninguém perceberia.”

Com informações do The Verge

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Felipe Faustino

Felipe Faustino

Redator

Felipe Faustino é bacharel em jornalismo pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Escreve sobre tecnologia, eletrônicos e ciências, editoria na qual também atuou pelo Jornal da USP. Além de jornalista, fã de tecnologia e fissurado por questões de meio ambiente, é, sobretudo, apaixonado pela DC Comics e pelo SPFC.