Estúdio sofre críticas e admite que usou IA em game
11 bit Studios admite ter usado IA para traduções e texto no recém-lançado The Alters. Apesar das críticas, estúdio deve continuar usando a tecnologia.
11 bit Studios admite ter usado IA para traduções e texto no recém-lançado The Alters. Apesar das críticas, estúdio deve continuar usando a tecnologia.
Um pequeno detalhe em um texto foi o suficiente para que jogadores suspeitassem que o estúdio polonês 11 bit, conhecido por jogos elogiados como Frostpunk e This War of Mine, teria utilizado IA generativa em seu novo game, The Alters. E estavam certos.
Em um comunicado publicado nessa segunda-feira (30/06), o estúdio admitiu o uso de inteligência artificial durante o desenvolvimento do jogo, lançado em 13 de junho. A empresa reconheceu as falhas e prometeu mais transparência no futuro.
Segundo a 11 bit, o uso, que não foi sinalizado na página do jogo na Steam, foi limitado à tradução e a um texto gráfico. Contudo, jogadores especulam que o estúdio também pode ter usado IA na geração de ícones e no design de personagens.
A descoberta aconteceu de forma orgânica. No Reddit, o usuário EarthlingKira publicou uma captura de tela mostrando um trecho das anotações do capitão no jogo. Porém, o que mais chamou atenção foi o início do texto, que exibia um “resquício” típico de prompt usado em ferramentas de geração por inteligência artificial.
A frase aparece no topo do trecho: “Claro, aqui está uma versão revisada focando puramente em dados científicos e astronômicos”, linguagem que denunciou o uso de IA no conteúdo final (e que a equipe deixou passar na hora de copiar e colar o texto para o jogo).
Outros exemplos surgiram em seguida. Um jogador brasileiro identificou uma legenda em português, de um vídeo reproduzido dentro do jogo, com o mesmo problema. O texto começa com “Claro! O texto traduzido para o português brasileiro é…”, novamente indicando que a tradução foi feita por IA e sem revisão humana.
No BlueSky, usuários levantaram a possibilidade da empresa ter utilizado inteligência artificial na geração ou refinamento de ícones, mas os sinais são menos claros do que a aparição de trechos do prompt.
Isso, para o usuário Daniel Wynter, que publicou a suspeita, “é mais um motivo para os desenvolvedores serem honestos e pararem de tentar justificar áreas cinzentas”.
Por causa da polêmica, na Steam, The Alters passou a receber algumas críticas negativas apontando a falta de transparência por parte do estúdio.
Jogadores reclamam que o uso de IA não foi informado previamente nem indicado na página oficial do game. Ainda assim, grande parte das reviews são positivas e não há uma explosão de críticas até o momento.
Segundo a 11 bit studios, a IA foi usada de forma pontual para a criação de um texto de placeholder (temporário) para o recurso gráfico — as anotações do capitão — que, por um erro interno, acabou sendo mantido na versão final.
O estúdio também admitiu que utilizou inteligência artificial na localização de vídeos licenciados. No comunicado oficial, a empresa justifica o uso para tradução de conteúdos para além do inglês devido ao “prazo apertado” e explica que essas traduções devem ser revisadas posteriormente por profissionais.
“Em retrospecto, reconhecemos que essa foi uma decisão errada. Nós deveríamos simplesmente ter avisado vocês”, admitiu a empresa no comunicado.
Na publicação, o estúdio foca na má comunicação, e não no fato de ter usado IA. Contudo, essa falha, por si só, pode acarretar punições na Steam, já que a Valve, que gerencia a plataforma, exige que desenvolvedores informem explicitamente quando utilizam IA.
A 11 bit também sinalizou que pretende seguir adotando a tecnologia em tarefas “menores”, prática cada vez mais comum — e até defendida — dentro da indústria de games.
Jogadores e profissionais certamente se preocupam com a ética, a qualidade artística e o impacto da IA sobre os empregos. Nas redes sociais, usuários afirmam que a 11 bit pode simplesmente contratar (e pagar) artistas humanos durante o desenvolvimento, ou então deixarão de comprar seus produtos.
Deixar de jogar qualquer jogo que não use IA hoje em dia, contudo, pode ser um tiro no escuro. Segundo o MIT Technology Review, a IA já é parte do cotidiano de 87% dos estúdios de games.
Recentemente, o criador de Super Smash Bros., Masahiro Sakurai, afirmou que o desenvolvimento de jogos se tornou “insustentável” e que a IA generativa é a “única solução eficaz” para equilibrar criatividade e produtividade.
Claro, ali ele se referia à produção de jogos AAA (os mais caros e sofisticados), mas uma visão parecida é compartilhada por nomes como Shuhei Yoshida, ex-presidente da PlayStation, que defende o uso para automatizar tarefas repetitivas e vê o uso por produtoras de jogos indies como uma forma de equilibrar a indústria.
No Reddit, o próprio criador da thread que denuncia o uso de IA pela 11 bit minimizou a situação: “Para mim, é engraçado eles terem falhado em copiar direito o texto gerado pela IA. Se eles tivessem apagado a frase, ninguém perceberia.”
Com informações do The Verge
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