Intel quis fabricar chips para iPhone, mas Apple confiava mais na TSMC

Apple escolheu TSMC para produzir SoCs para iPhones por entender que Intel não saberia ser uma fabricante de chips para terceiros

Emerson Alecrim
• Atualizado às 12:46
Resumo
  • A Apple escolheu a TSMC para fabricar chips por acreditar que a Intel não era adequada para terceirizar a produção.
  • Segundo Morris Chang, fundador da TSMC, a decisão se baseou na capacidade da empresa de atender a demandas e processos avançados, enquanto a Intel não demonstrou essa flexibilidade.
  • Em 2011, Tim Cook teria dito que a Intel “não sabe como ser uma fundição”, e a relação entre as empresas piorou após o Apple Silicon substituir os processadores Intel nos Macs.

Se a Intel tivesse ocupado espaço no mercado de celulares, talvez estivesse em situação mais confortável hoje. Não foi por falta de tentativa. No início dos anos 2010, a companhia tentou ser a fabricante dos chips que a Apple desenvolvia para o iPhone. Mas havia um obstáculo no caminho: a TSMC.

Naquela época, a Apple chegou a contratar a Samsung Foundry para produzir chips para iPhones e iPads, mas mudou de ideia, afinal, a companhia coreana é a sua grande rival. Era preciso buscar outra fabricante. Foi quando a Intel Custom Foundry (ICF) e a TSMC passaram a ser consideradas para esse fim.

Sabendo da oportunidade que isso representava, Paul Otellini, CEO da Intel naquele período, se reuniu com Tim Cook no início de 2011 para convencer a Apple de que a ICF era a melhor opção. Para analisar a proposta, Cook interrompeu a negociação com a TSMC por dois meses.

Preocupado, Morris Chang, ninguém menos que o fundador da TSMC, foi até a sede da Apple. Lá, o próprio Tim Cook garantiu que a Apple não escolheria a Intel: “a Intel simplesmente não sabe como ser uma fundição [fabricante de chips para terceiros]”, teria dito a Chang.

O que havia de errado com a Intel?

No entendimento da Apple, a Intel era muito focada na fabricação dos próprios chips (é assim até hoje, na verdade), razão pela qual não saberia dar a atenção de que seus clientes de fundição precisariam.

Neste ponto, é válido destacar que essa história foi contada recentemente por Morris Chang em entrevista ao canal Acquired, no YouTube. Era de se esperar que o empresário desse declarações positivas sobre a companhia que fundou. E isso aconteceu. Em dado momento, ele disse:

Quando o cliente pede muitas coisas, aprendemos a responder a cada demanda. Algumas delas eram loucuras, outras eram irracionais, [mas] nós respondemos a cada solicitação cordialmente. […] A Intel nunca fez isso, eu conhecia muitos clientes da Intel aqui em Taiwan e todos desejavam que houvesse outro fornecedor [de chips].

Morris Chang, fundador da TSMC

Se há exageros nessa afirmação ou não, o fato é que a Apple escolheu a TSMC para a produção de seus chips, e essa parceria é mantida até hoje, inclusive com relação aos SoCs Apple Silicon que equipam Macs e iPads.

Pesou para essa escolha a postura da TSMC de realmente atender às demandas da Apple, que não são poucas. Basta considerarmos que outra empresa cogitada para a produção de chips para iPhones foi a Texas Instruments, que logo foi descartada pela Apple por não ter processos avançados de fabricação, exigência que a TSMC é capaz de atender.

A situação só não ficou pior para a Intel porque a companhia continuava fornecendo processadores para os Macs. Mas esse cenário mudou em 2020, quando os chips Apple Silicon foram anunciados e passaram, progressivamente, a equipar toda a linha Mac, deixando a Intel de lado.

Depois disso, a Intel até tentou alavancar a sua divisão de fabricação de chips para terceiros, mas esse plano esfriou depois de Pat Gelsinger ter sido retirado do cargo de CEO. Pudera: a companhia enfrenta uma forte crise. Entre as razões para isso estão os altos investimentos que essa divisão exige.

Com informações de Tom’s Hardware

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Foi reconhecido nas edições 2023 e 2024 do Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.