Spotify admite problema com álbuns falsos em páginas de artistas reais

Discos com músicas genéricas apareceram para ouvintes de Asia, Yes e mais bandas. Gravadoras de fachada são usadas no golpe.

Giovanni Santa Rosa

Milhares de álbuns falsos foram adicionados às páginas do Spotify de artistas reais. Os uploads aconteceram ao longo das últimas semanas e confundiram os ouvintes. O Spotify diz estar ciente do problema e estudando ações contra quem fez isso.

Na terça-feira (dia 15/10), o site Ars Technica publicou uma reportagem sobre o assunto, após ser avisada por um fã da banda britânica de rock psicodélico Gong. O ouvinte notou um novo álbum na página do grupo. A obra, porém, era de “música eletrônica genérica”.

O repórter Lupa Charleaux, aqui do Tecnoblog, também notou os álbuns falsos. Ele foi notificado pelo Spotify sobre lançamentos da banda Heavens e do artista brasileiro China. No entanto, nenhum dos álbuns era real. Chama a atenção que as duas capas seguiam um mesmo padrão de fontes e ilustrações.

Tela de notificações do Spotify informando álbuns novos dos artistas Heavens e China. Ambos foram lançados havia uma semana e têm capa similar, com nome no centro, mesma fonte e ilustração genérica
Capas de álbuns falsos seguem mesmo padrão (Imagem: Reprodução / Tecnoblog)

Os álbuns falsos do Heavens e do China já foram removidos da plataforma. O do Gong, porém, continuava no Spotify. Consultado pelo Ars Technica, o membro Dave Sturt disse que estava tentando remover a obra da página de seu grupo.

As músicas genéricas lembram um caso recente, em que três pessoas foram acusadas de uma fraude milionária no streaming. Os golpistas usavam inteligência artificial generativa para criar grandes quantidades de canções e ficar com o dinheiro dos direitos autorais.

Álbuns falsos afetaram artistas grandes e pequenos

O Ars Technica falou com o Glenn McDonald, que já trabalhou como “alquimista” de dados no Spotify. Ele diz que grande parte dos uploads em massa vieram de poucos selos, como Beat Street Music, Ancient Lake Records, Gupta Music e Future Jazz Records. Nenhum deles têm site ou página nas redes sociais — podem ser gravadoras de fachada para este tipo de golpe.

McDonald também notou que os uploads usavam palavras genéricas como nome de artista e também de título do álbum. Por isso, eles acabaram atingindo grupos reais, como o próprio Gong, Swans, Asia e Yes — Heavens e China, notados pelo Tecnoblog, também se encaixam neste padrão.

Por isso, o especialista em dados considera que não havia alvos específicos. As músicas foram enviadas sem o identificador do artista, contendo apenas o nome. O Spotify pode ter considerado que eram álbuns de grupos já existentes.

McDonald afirma que a plataforma deveria agir com mais rapidez em casos assim. Segundo ele, os selos são um “indício óbvio” de que os discos não são legítimos. “Se eu ainda trabalhasse lá, teria vasculhado imediatamente as base de dados para procurar lançamentos seguindo estes padrões. O que achei destes selos pode ser só uma pequena fração do lixo”, disse McDonald.

Em resposta ao Ars Technica, o Spotify declarou estar investigando os álbuns identificados pelo cientista de dados. Além disso, a empresa diz estar avaliando que medidas tomar contra os responsáveis pelo licenciamento.

“Ao identificar ou receber alertas de tentativas de manipular o sistema, tomamos medidas como remover as contagens de reproduções e reter os pagamentos de royalties”, afirmou um porta-voz da empresa.

Com informações: Ars Technica

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.