O que aconteceu com o Sarahah?

Criado pelo saudita Zain al-Abidin Tawfiq, o Sarahah foi motivo de polêmica no mundo todo e agora está de volta

Melissa Cruz Cossetti
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• Atualizado há 3 meses

Se você está aqui é porque se lembra de um polêmico app de mensagens anônimas chamado Sarahah. A plataforma surgiu em 2016 e se tornou uma febre no mundo todo, incluindo o Brasil — com 300 milhões de registrados. Criado pelo saudita Zain al-Abidin Tawfiq, tinha como objetivo “ajudar a descobrir os pontos fortes e aspectos a aperfeiçoar recebendo comentários construtivos e honestos de funcionários e amigos“.

O nome do aplicativo significa “honestidade” em árabe. Mas, por que anônimo? Tawfiq acreditava que as pessoas tendem a ser mais honestas em seus feedbacks quando não se identificam. Eu não preciso lembrar a o tamanho da confusão que isso gerou…

Sarahah Logo

Como funcionava o Sarahah

Só para recapitular, na prática, o usuário criava uma conta na rede social com uma URL personalizada (seunome.sarahah.com) que podia ser compartilhada com qualquer pessoa, inclusive em outras redes sociais. Quem quisesse fazer contato, depois do login, podia enviar uma mensagem sem ser identificado, que só pode ser lida por você.

O mensageiro não contava com uma forma nativa de responder e as pessoas acabavam usando o Facebook e o Twitter para isso. Alguns posts expunham mensagens de assédio, ódio e críticas nada construtivas, gerando polêmica em torno do propósito.

Por ser anônimo, o aplicativo, assim como o Secret, se tornou motivo de controvérsia: há quem acredite na proposta original, de que a rede social pode ser útil para receber feedbacks; de outro lado, o app acaba encorajando o bullying e teve consequências.

O Sarahah não deu muito certo…

Petições foram criadas no site change.org depois que menores de 13 anos receberam mensagens violentas e incitando suicídio. A plataforma não tinha um filtro adequado. Katrina Collins, mãe de uma adolescente, acusou Sarahah de facilitar o “bullying” e rapidamente conquistou 470 mil apoiadores no seu abaixo assinado. Em março de 2018, o aplicativo foi retirado da App Store (iOS) e da Google Play Store (Android).

Na ocasião, Tawfiq contestou as alegações de Collins, disse que a decisão da Apple e do Google de remover o app foi “infeliz”, e declarou que estava “muito otimista em relação a alcançar um entendimento favorável com eles em breve”. Foi aí que tudo mudou.

It is not enough…

Em janeiro de 2019, o desenvolvedor tentou de novo. O Sarahah voltou à App Store — mas não como era no início. A mesma startup lançou um novo aplicativo para iOS chamado Enoff (pronuncia-se “enough”) voltado para o mundo corporativo, explorando a onda de ativismo dos funcionários, oferecendo um meio para que membros de uma equipe pudessem dar feedbacks anônimos para chefias e gestores do setor de RH.

Disponível também na web, semanas depois, o app ganhou uma versão para Android.

O Enoff funciona assim: uma empresa ou organização registra um nome de usuário (e confirma a identidade do responsável) e recebe um código para ser compartilhado com funcionários, clientes ou parceiros, que se registram e podem enviar os seus feedbacks.

Enoff Sarahah

Tawfiq confirmou que Enoff é gratuito, mas a empresa já pensa em outros tipos de monetização. Além de publicidade, com o tempo, o plano será introduzir serviços analíticos de dados, explorando o amplo acervo de informações anônimas da plataforma, na área de “soluções corporativas”. A Netflix, por exemplo, já está usando o sistema do Sarahah para campanhas de feedback, fornecendo análises de sentimentos.

E acabou o Sarahah?

O Enoff não significa um para o Sarahah, com 320 milhões de usuários registrados e concentrados especialmente nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Egito e Japão.

Com o tempo de inatividade, forçado ao sair das lojas do Google e da Apple, o aplicativo foi reconstruído para oferecer melhores proteções e bloqueios contra intimidação, assédio e outros usos negativos. O Sarahah agora está usando APIs de empresas de tecnologia, como a Perspective, do Google, para desenvolver melhores filtros melhores.

O plano era lançar o Enoff e reenviar Sarahah para a App Store e a Google Play nos próximos meses. Enquanto isso, as pessoas ainda poderiam usar o aplicativo pela Web.

Sarahah voltou

E foi isso que aconteceu. O Sarahah voltou para a Google Play Store em março de 2019.

  • Sarahah (Android)

Ao Tecnoblog, Ibrahim Alfahl, chefe de operações do Sarahah, contou o que mudou:

Maior privacidade: o Sarahah, acusado de roubar dados, agora não tem mais acesso aos seus contatos pessoais. Internautas só podem acessar uma página Sarahah se um usuário optar por compartilhar seu link diretamente torná-lo publicamente pesquisável.

Você pode escolher quem pode lhe enviar mensagens: existe a opção de limitar-se a receber feedback dos usuários logados ou usar a conta só para dar feedback (enviar mensagens), sem precisar estar disponível para recebê-las também no Sarahah.

Há um novo processo para relatar abusos: os usuários podem sinalizar contas que fazem mau uso da plataforma com um único clique para combater casos de bullying.

Opção para desativar os anúncios direcionados: os anúncios Sarahah podem ser adaptado para o seu interesse, mas se o usuário não deseja mais ver anúncios personalizados, podem facilmente desativar esta opção nas configurações do aplicativo.

Novo design e login pelo Facebook: novo aplicativo permite decorar o cartão com a sua mensagem, usar emojis, curtir mensagens, pinar mensagens e login com Facebook.

Agora, é torcer pelo melhor…

Com informações BBC e TechCrunch

Melissa Cruz Cossetti

Melissa Cruz Cossetti é jornalista formada pela UERJ, professora de marketing digital e especialista em SEO. Em 2016 recebeu o prêmio de Segurança da Informação da ESET, em 2017 foi vencedora do prêmio Comunique-se de Tecnologia. No Tecnoblog, foi editora do TB Responde entre 2018 e 2021, orientando a produção de conteúdo e coordenando a equipe de analistas, autores e colaboradores.

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