Days Gone – Motos e zumbis num pós-apocalipse quase perfeito

Este terror de sobrevivência em mundo aberto coloca hordas de zumbis ao seu encalço, mas poderia ter feito muito mais

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 11 meses

Days Gone traz um ar de terror de sobrevivência num mundo aberto pós-apocalíptico povoado por zumbis, gangues e colônias de sobreviventes. Você é Deacon St. John, um motociclista estiloso e caçador de recompensas que, assim como todos, tenta sobreviver, mas também descobrir o que aconteceu com sua esposa. Recheado de elementos já conhecidos de outros jogos do gênero, o game se arrasta um pouco para respirar, mas pode agradar aos fãs menos exigentes por novidades e que só querem dirigir por aí e matar zumbis. Veja o review completo, a seguir.

Days Gone – Review

Days Gone é uma aventura single player, exclusiva do PS4, que chega por aqui com opções de áudio e legendas em português brasileiro. Ele levou longos 6 anos para ser desenvolvido pelo SIE Bend Studio (Syphon Filter e Uncharted: Golden Abyss). Criado sob uma atmosfera de survival horror, com uma grande escassez de recursos – desde armas a itens básicos para recuperar saúde – o game coloca em suas mãos um mundo aberto aberto não tão vasto, mas mesmo assim interessante de se explorar despretensiosamente.

Os principais alicerces deste título, bem claros logo no início da campanha, são: a busca de Deacon por respostas em relação ao paradeiro de sua esposa, fazer a manutenção da sua moto (sua melhor amiga no jogo) para ter mais chances de sobrevivência, melhorar suas habilidades, fazer contratos de recompensas, conseguir ou criar armas constantemente (porque elas se desgastam e quebram com muita rapidez) e liberar áreas de frenéticos, como são chamados os “zumbis” em Days Gone.

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As hordas de frenéticos são, de longe, o melhor que o jogo oferece. Falarei com detalhes mais a frente, mas vou adiantar algo curioso sobre isso. A parte mais pesada da divulgação de Days Gone foi, justamente, em cima desses benditos ataques de centenas de frenéticos (e são muitos, de verdade. E ao mesmo tempo!), numa espécie de tsunami de zumbi ao bom estilo World War Z.

No entanto, ainda estou tentando entender porque essa parte alucinante do gameplay demora tanto a aparecer, praticamente horas depois que se começa a jogar. Se você tem algo premium para vender numa loja, por exemplo, o mais lógico é colocar isso logo na vitrine para chamar a atenção do público. Em Days Gone, parece que colocaram esse “produto especial” na prateleira dos fundos, e você só encontra depois de andar muito pela loja.

A sensação de jogar este título é exatamente essa: o melhor demora muito para acontecer e você precisa persistir e continuar jogando, já que quase tudo leva tempo para realmente empolgar e as missões acabam ficando repetitivas. A narrativa meio truncada no começo do jogo, por mais que a história de fundo seja interessante, também cria uma monotonia inicial que eu não estava esperando depois de todo hype criado pela Sony.

E foram poucas as vezes que me senti assustada de verdade (e olha que eu me assusto fácil em jogos). Lobos te atacando, do nada, saindo de arbustos ou te derrubando da moto causam um “jump scare” maior do que os frenéticos perambulando pelo cenário (eles só fazem você entrar em pânico mesmo quando estão em bando). É relativamente fácil matá-los em modo furtivo.

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No geral, o sentimento é de um game bom, mas um pouco genérico, onde ele reúne partes de quase tudo o que deu certo em outros open worlds e criou uma espécie de “Frankenstein” próprio, só que com motos e zumbis (frenéticos, perdão). E assim como o monstro clássico da literatura gótica, falta alma a Days Gone.

Mas nem tudo está perdido. Algo bem positivo que pude observar é a forma como as condições climáticas, e as variações de noite e dia, afetam seu gameplay “para o bem” ou para o apocalipse total. Os frenéticos, por exemplo, são seres mais noturnos, por isso, ao cair da noite eles saem em bando dos ninhos, ficam mais alertas e bem mais resistentes. Durante o dia, é mais fácil se locomover em áreas vermelhas do mapa (indicando infestações). É só não fazer muito barulho.

Dias chuvosos também atrapalham a percepção, tanto dos frenéticos quanto de outros inimigos, da sua presença por conta do barulho da chuva. A neve faz sua moto derrapar mais e por aí vai. Esses efeitos das estações ficaram bem interessantes e renovam o visual do jogo, que apesar de não ser espetacular, agrada de forma satisfatória aos olhos.

“Highway to hell” no fim do mundo

Days Gone, como eu havia dito antes, te coloca no controle do ex fora da lei das estradas, Deacon St. John, que junto com seu amigo Boozer tentam sobreviver no que sobrou do mundo após uma praga que transformou a maioria dos humanos em frenéticos, mutantes irracionais que te atacarão assim que avistá-lo.

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A história do jogo se passa após dois anos dessa pandemia e o grande drama da vida de Deacon, e que será mostrado exaustivamente ao longo de várias cutscenes, é sua tentativa de descobrir o que realmente aconteceu com sua esposa. Até isso acontecer, ele trabalha como um caçador de recompensas para sobreviver.

No início, você demora a sentir alguma empatia por Deacon, parte disso culpa da narrativa arrastada do início do jogo, onde as coisas demoram para tomar forma realmente. Com o tempo, você acaba gostando dele e seu estilo desbocado e fanfarrão. Não é um Geralt de Rivia, ou um Kratos, mas você deve gostar dele também.

Vale destacar que a versão dublada dele e dos outros personagens ficou muito boa e até engraçada, algumas vezes. Se possível, dê uma chance!

Falar da história deste jogo é pisar em ovos, porque qualquer coisa pode virar um spoiler já que o game é bem centrado em narrativa. Portanto, apenas vou me ater a dizer que, se você tiver paciência para esperar por algumas horas, a trama fica bem mais interessante da metade para o final.

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Gameplay, controles e missões

Em relação a controles, de uma forma geral, são raros os jogos que fazem algum uso do trackpad no joypad do PS4 e Days Gone criou um sistema de atalhos por deslizamentos, que ficou bem fluido e deu uma dinâmica legal para navegar pelos menus de habilidades, inventário e história (missões).

Se tratando de um jogo de mundo aberto, você pode se sentir perdido, às vezes, com o que fazer e onde ir para progredir na campanha. Days Gone não traça um único objetivo e você pode seguir o caminho que quiser, na ordem que quiser.

Não é necessário entrar em outra missão, assim que terminar uma. Você pode simplesmente pegar sua moto e rodar por aí. Mas para deixar as coisas mais ou menos organizadas, ao acessar o menu de histórias, é possível acompanhar todo o seu progresso (em missões principais e secundárias), bem como a porcentagem concluída, recompensas que ganhará ao completar cada missão e seus próximos objetivos.

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Deacon pode desbloquear talentos especiais para ajudá-lo em seu dia a dia como sobrevivente. Conforme acumula pontos de experiência (o famoso XP), ao terminar missões ou completar desafios pelo mapa, você poderá investir esse XP em sua árvore de habilidades.

Há três formas diferentes de customizar seu estilo de gameplay, investindo pontos no grupo de Corpo a Corpo (melhora sua capacidade de aguentar pancada e dá um boost no dano que consegue causar); Longo Alcance (basicamente amplia suas habilidades com armas de fogo); e Sobrevivência (como você consegue perceber melhor ameaças e pontos de interesse no mapa, por exemplo).

Se precisar fazer qualquer tipo de transação comercial nos acampamentos é necessário fazer alguns favores para o líder local, antes de poder comprar “a coisa boa” de verdade. Até faz sentido isso, afinal, quem precisa de dinheiro no fim do mundo? Eliminar inimigos e frenéticos ao redor da comunidade, caçar animais e guardar a carne para vender, completar contratos, além de resgatar sobreviventes e enviá-los para os assentamentos, são boas maneiras de levantar sua moral com eles.

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Quanto maior seu nível de confiança, maior serão as ofertas de trocas de produtos e melhor a qualidade desses itens também.

Limpar o mapa de ameaças também libera alguns pontos de interesse, como locais para viagem rápida. Só que pegar esse atalho não sai de graça, você precisa ter gasolina suficiente na moto para fazer uma fast travel (a quantidade depende da distância que quer viajar). Ah, e se precisar salvar o seu jogo só há duas formas de fazer isso: estando perto da sua moto ou de uma cama onde você possa descansar.

O mundo de Days Gone é repleto de missões, mas quantidade não quer dizer necessariamente variedade por aqui. Tirando as missões principais (e algumas delas você precisará apenas ouvir diálogos e andar para completar), há centenas de missões secundárias, como queimar ninhos de frenéticos, fazer contratos de caça a recompensas e liberar fortes. Este último é bem ao estilo Far Cry e Assassin’s Creed mesmo, com direito a marcar a localização dos inimigos com um binóculo e se esconder no matinho para ataques furtivos.

O modo de progressão de missões secundárias lembra um pouco The Witcher 3. O jogo não vai te apontar todos os lugares onde existem missões disponíveis logo de cara, conforme você viaja pelo mapa, geralmente fazendo alguma outra missão, pode acontecer de você encontrar, por exemplo, um acampamento (que ficará marcado no seu mapa). Indo até lá, você encontra o líder local que possivelmente te passará missões. Daí é possível escolher entre continuar a missão que estava fazendo antes, ou começar a que o tal líder te deu.

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Se decidir entrar em combate (digo isso porque, às vezes, é mais seguro fugir), você terá duas formas possíveis de atacar um inimigo: corpo a corpo ou longa distância. Particularmente (e isso é uma opinião bem pessoal mesmo), achei o combate corpo a corpo automatizado demais. Assim que você aperta o R2, para dar socos ou usar alguma arma branca, basta continuar pressionando este botão e girar o analógico para atingir os inimigos ao seu redor (mesmo os que não estão dentro do seu campo de visão). Há também um botão de esquiva, quase impossível de ser bloqueado por um inimigo.

Os ataques a longa distância, com armas de fogo ou bestas, só melhoram um pouco mais quando você consegue armas menos desgastadas, desbloqueia a melhoria do seu foco, ou que tenham um sistema de mira integrado (como os rifles sniper). A mira, em Days Gone, está longe de ser um bom exemplo de como fazer um jogo de tiro, mas com o tempo você até acostuma ou vai acabar preferindo uma abordagem furtiva ou corpo a corpo mesmo, que é bem mais certeiro.

Minha moto, minha vida

Quem jogou Red Dead Redemption II sabe como era importante cuidar do seu cavalo. Eu, por exemplo, dava mais atenção à minha montaria do que qualquer outro ser vivo (incluindo o protagonista) no game. Em Days Gone, a mecânica é bem parecida: cuide da sua moto como uma filha, se ela quebrar ou ficar sem gasolina (e você estiver no meio do nada), sinto dizer que terá problemas.

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Outra coisa importante: cuidado onde a deixa estacionada. Como a moto é seu ponto de save, se der “game over”, você retornará ao lado dela. Agora imagina se ela estiver estacionada no meio do foco de uma horda de frenéticos? Deixá-la num lugar e sair andando por aí, sem rumo, também é perigoso. Não dá para “assoviar” e chamar sua bike, como um cavalo. Não que você vá perdê-la (ela fica marcada no mini mapa), mas a distância pode ser fatal na necessidade de uma fuga desesperada.

Compre melhorias de desempenho e de visual para sua “filha” nos acampamentos. É possível turbinar “sua moto de merda” (como o próprio jogo a chama, no início) com novas partes para aumentar velocidade, resistência a danos e ainda melhorar a capacidade de gasolina que pode ser armazenada. Ah, mas é claro que dá para deixá-la mais bonita também e você pode pintá-la e desbloquear novos adesivos, por exemplo, ao completar missões para certos assentamentos.

Sobre essa “montaria mecânica” de Days Gone eu só tenho a reclamar, um pouco, do fato dela ser relativamente frágil até quando está bem equipada. Se você pular com ela de um morrinho suave que seja, já danifica. Atropelar frenéticos para desestressar, então? Nossa! Prepare-se para coletar bastante sucata para consertá-la depois. Ao menos é possível fazer umas derrapagens legais e conseguir algum XP extra com manobras especiais.

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Ataque dos frenéticos: corra para as colinas!

O grande destaque deste game, e o foco principal de todas as suas campanhas de divulgação, são mesmos os frenéticos – que não são zumbis. Tecnicamente, eles não estão mortos e apenas sofreram uma mutação genética extremamente violenta, o que os deixaram restritos aos seus instintos mais básicos de sobrevivência: comer, beber e hibernar (conheço gente assim).

Os frenéticos, geralmente, andam em bandos numerosos (as hordas), mas é possível ver pequenos grupos ou mesmo alguns solitários perambulando pelo mapa.

É possível identificá-los quando aparecem manchas vermelhas no seu mini mapa ou você consegue ouvi-los grunhir (recomendo jogar usando fones de ouvido para encontrá-los melhor). Sozinhos, ou em pequenos grupos, matá-los é mais fácil que passar da fase da água em qualquer Sonic. Só procure não fazer muito barulho para não atrair outros que estejam perto.

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Ao viajar pelo mundo, você será avisado pelo jogo sempre que passar por uma região com infestação. Para liberá-la é necessário queimar ninhos de frenéticos. Durante o dia, sairão mais deles dos ninhos assim que queimá-los (até porque eles estavam dormindo lá dentro). A noite, poucos sairão, mas os que já estão perambulando podem ser atraídos pelo barulho. Freakers (como também são chamados) são mais fracos durante o dia, mas independentemente da hora, nunca, jamais, subestime as hordas.

A horda de frenéticos é o momento “barata voa” do jogo, onde você fica correndo para todos os lados tentando fugir. Esqueça qualquer tentativa de dar uma de Rambo ou Chuck Norris e pular entre eles achando que vai salvar o mundo. Você apenas vai encarar seu fim mais rápido. Em resumo, se a horda te alcançar e te cercar é game over. Você recomeça perto da sua moto de novo.

Por isso, é extremamente importante estar sempre bem suprido de itens, armas e munição. Tirando as vezes em que você sabe que vai encontrar uma horda, há momentos em que você só tropeça e cai de cara numa caverna em que centenas deles estão escondidos.

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Assim que eles começarem a correr enlouquecidos atrás de você, olhe a sua volta e atire em galões de combustível, coloque armadilhas, lance coquetéis molotov, derrube construções e corra por entre obstáculos para despistá-los. Seu objetivo, além de não virar almoço, é destruir a horda sempre que possível (queimando, jogando coisas por cima, e etc). Mas se tudo der errado, corra até a sua moto e saia já do lugar. Fugir para viver um outro dia, esse é o lema.

Uma curiosidade sobre os frenéticos: eles não são todos iguais. Há o tipo “padrão”, ou seja, adultos (homens e mulheres) que viraram freakers e são os mais comuns; crianças e adolescentes (eles só vão te atacar diretamente se você já estiver fraco ou se invadir seus territórios); os tanques; os gritadores (que atraem todos os frenéticos para cima de você e te atordoa), e etc. Sentiram alguma semelhança com Left 4 Dead? Imagina…

PS: os animais selvagens desse jogo não são imunes à contaminação. Só vou deixar essa informação aqui e prosseguir…

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Promissor, mas poderia ter sido mais

Days Gone não é um desastre. É um bom jogo, a sua maneira, se você não esperar nada de extraordinário dele e apenas quiser rodar por aí com uma moto estilosa e matando zumbis (frenéticos, desculpe novamente). Ele tem seus momentos e fugir das hordas é realmente bem emocionante (ponto alto do gameplay, sem dúvidas). O game é bem longo e pode esperar por umas 30 a 40 horas para fechar (boa parte desse tempo tomado por cutscenes também).

No entanto, não acredito que este seja um jogo que entrará em alguma lista de melhores do ano ou que servirá de inspiração para outros games (a não ser ele mesmo, em alguma continuação), já que por si só é uma espécie de “Frankenstein” de outros títulos. Visualmente o jogo agrada, mesmo com algumas quedas de frames e pequenos bugs, mas não é algo que vai tirar o seu fôlego – como foi em Red Dead Redemption II ou no último God of War.

Acredito que ele terá um apelo maior para um nicho específico de jogador, que curte a temática pós-apocalíptica, exploração sem muito compromisso e que tenha paciência para esperar a história realmente engrenar. Para veteranos de open world, talvez não cause tanto impacto por não trazer nada muito além do que já tenha sido feito para o gênero. A parte estranha, mas curiosa disso tudo? Você vai esperar, ansiosamente, encontrar uma nova horda de frenéticos para se desesperar e agitar as coisas.

Prós

  • As hordas de zumbis
  • Poder rodar no pós-apocalipse com uma moto irada

Contras

  • Conta demais com as hordas como ponto alto
  • Não tem alma própria
  • Chance perdida de revigorar o gênero zumbi
Nota Final 7.6
Áudio
7
Desafio
8
Diversão
8
Inovação
6
Jogabilidade
9
Replay
7
Visual
8

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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