Galaxy Note Edge: o experimento com tela curva

O smartphone da Samsung com tela curvada na lateral não é para você, mas o que vale é a tentativa.
Custando 3,5 mil reais, Galaxy Note Edge tem hardware de ponta e câmera acima da média.

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses

Cinco meses após lançar o gigante Galaxy Note 4 no Brasil, a Samsung trouxe o irmão com tela dobrada na lateral. Com preço sugerido de 3.499 reais, o Galaxy Note Edge tem hardware de ponta, um grande display curvado de 5,6 polegadas e um design com materiais mais sofisticados, como o alumínio das bordas.

Mas como é usar o Galaxy Note Edge? Vale a pena gastar mais dinheiro para ter o diferencial da tela curvada? Depois de uma semana usando o lançamento da Samsung como meu smartphone principal, deixo minhas impressões logo abaixo.

Design e tela

A primeira reação das pessoas a quem mostrei o Galaxy Note Edge foi mista. Umas, mais empolgadas, diziam algo como: “nossa, que da hora isso aqui!” (apontando para a lateral). Outras, mais contidas, perguntavam se a curva não tornaria o aparelho frágil numa queda ou incomodaria durante o uso. Fato é que a dobrinha realmente chama a atenção. Este é o primeiro aparelho com o peculiar detalhe no display (e único, se você considerar que as curvas do Galaxy S6 Edge são bem mais contidas).

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Um smartphone conceito que, por obra do acaso, se tornou um produto comercial

Não posso comentar sobre a resistência do Galaxy Note Edge por motivos óbvios, mas a borda curvada realmente atrapalha no manuseio em alguns momentos. O software da Samsung parece razoavelmente esperto para ignorar toques acidentais com a palma da mão, mas não é perfeito. Os problemas acontecem especialmente ao segurar o aparelho com a mão direita e tentar alcançar algo do lado esquerdo da tela com o polegar: por vezes, alguma função indesejada é acionada.

Eu também diria que essa borda, por ser bastante pontuda, chega a ser um pouco desconfortável em alguns momentos. Além disso, como o Galaxy Note Edge é grandalhão, frequentemente é necessário segurá-lo com as duas mãos — mas a curvinha acaba prejudicando a pegada. Portanto, a novidade da Samsung mais parece um conceito ou experimento do que um produto realmente finalizado e testado.

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Embora a ergonomia não seja das melhores, é notável o avanço da Samsung no design. O acabamento do Galaxy Note Edge é uma espécie de transição entre os antigos aparelhos da sul-coreana e os novos Galaxy S6. A traseira de plástico com textura que imita couro continua lá, mas a moldura ganhou um belo alumínio com bordas chanfradas, que causam uma ótima impressão inicial.

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A tela merece igual elogio. Especialmente nos últimos dois anos, a Samsung tem caprichado bastante nos painéis AMOLED dos topos de linha. O display de 5,6 polegadas do Galaxy Note Edge é ótimo: ele tem o preto real do AMOLED, um branco que não deve quase nada aos IPS LCD e cores vibrantes, sem exageros. Praticamente não há perda de brilho ou contraste mesmo em ângulos de visão mais desafiadores, e é possível enxergar perfeitamente o conteúdo da tela sob a luz do sol.

Com resolução de 2560×1600 pixels, acho desnecessário comentar qualquer coisa sobre a definição da tela.

Tá, mas e essa dobrinha?

Ok, a curvinha na tela do Galaxy Note Edge é bem legal, mas e daí? Para tentar responder a essa pergunta, a Samsung implantou alguns recursos de software, que fazem uso do chamado Edge Screen.

Personalização, personalização, personalização

Durante um bate-papo que tive na sede da Samsung, em São Paulo, os executivos da empresa bateram muito na tecla da personalização. De fato, a bordinha do Galaxy Note Edge pode ser modificada de algumas formas para deixá-la ao seu gosto. Você pode, por exemplo, escrever uma mensagem para ser exibida constantemente na lateral do aparelho e escolher uma imagem de fundo, que será mostrada na tela de bloqueio.

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Mas não há nada muito interessante que se possa fazer com a lateral da tela. Durante os dias em que usei o aparelho, talvez a única função bacana tenha sido a barra de atalhos, que me permitia abrir aplicativos de forma rápida e prática — bastava um deslizar de dedo e um toque no ícone, em vez de ter que voltar para a tela inicial ou para o menu de aplicativos do Android.

A barra lateral possui outras funções: ela traz algumas ferramentas (como uma régua de 10 centímetros!); mostra o horário constantemente durante a noite, sem gastar muita energia; e suporta painéis adicionais, inclusive de terceiros, mas eles se resumem a notícias ou previsão do tempo. Além disso, para aproveitar a borda, a Samsung decidiu que as notificações, como as de novas mensagens e chamada recebida, seriam exibidas nessa lateral, e não no topo da tela, como estamos acostumados no Android.

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O problema é que a Samsung criou uma solução antes do problema. Isso causou um problema.

Minha ideia é que a Samsung criou a solução antes do problema — e os engenheiros tiveram que quebrar a cabeça para desenvolver funcionalidades que justificassem, de alguma forma, a presença da dobrinha. Parece que o Galaxy Note Edge foi um experimento da Samsung para o que depois viria a ser o Galaxy S6 Edge, que usa a tela curvada apenas como um detalhe de design, sem tentar forçar recursos de software que não empolgam nem um pouco.

O resto do software

O Galaxy Note Edge traz os recursos que diferenciam um Galaxy Note de um Galaxy S. A canetinha S Pen é especialmente útil no aplicativo de notas S Note. Dá para fazer anotações manuscritas, e o software possui um modo que, quando ativado, aceita apenas comandos da S Pen, ignorando qualquer toque com a mão — isso é ótimo para escrever, e fica evidente que houve uma integração entre hardware e software bem feita aqui.

A S Pen é útil, mas às vezes faz sentido simplesmente digitar

A stylus dá acesso a outras funções que acabam sendo ignoradas, seja por desconhecimento, ou porque no final das contas são apenas perfumarias. Um exemplo que tenho em mente é o Lembrete de Ação. Você pode, por exemplo, escrever com a canetinha um nome e um número de telefone, e então tocar num botão mágico, que reconhecerá a sua escrita e adicionará as informações em um novo contato.

Mas, veja bem: é muito mais fácil, rápido e prático digitar essas letras e números no teclado virtual, como você faria basicamente em qualquer smartphone. É o tipo de recurso que até funciona para impressionar os amiguinhos, mas faz pouca diferença no uso diário.

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O Android 4.4 KitKat do Galaxy Note Edge traz as modificações da Samsung que você conhece: tudo é diferente do Android original, até o menu de configurações. Na tela de multitarefa, há um botão para deixar dois aplicativos ocupando uma parte da tela, aproveitando melhor o tamanhão do display do aparelho.

Os aplicativos pré-instalados fazem bom uso do hardware. O gravador de voz usa os três microfones para captar um som de melhor qualidade; e o S Health usa os sensores para contar seus passos, medir seu nível de estresse e até analisar a radiação ultravioleta. Use protetor solar.

Câmera

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A câmera do Galaxy Note Edge faz jus ao preço do aparelho. O sensor de 16 megapixels em conjunto com a lente de abertura f/2,2 consegue capturar belas imagens, com cores que agradam, nível de detalhes acima da média e pouquíssimo ruído. O alcance dinâmico é bom, e está dentro do que costumamos ver nos smartphones mais caros.

Com zoom em 100%, é possível enxergar alguns artefatos gerados pelo algoritmo de pós-processamento da Samsung, que usa um filtro de sharpening mais agressivo que o dos concorrentes para melhorar a nitidez do quadro e uma técnica de redução de ruído que deixa um efeito de aquarela em objetos mais detalhados. Ainda assim, o Galaxy Note Edge chega perto do limite tecnológico do que é possível fazer hoje com uma câmera de celular.

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De modo geral, as fotografias do Galaxy Note Edge não decepcionam em nenhum momento e são melhores que a de boa parte das câmeras compactadas dedicadas. Trata-se de uma das melhores câmeras do mercado.

Hardware e bateria

Diferentemente do Galaxy Note 4, que chegou ao Brasil com processador Exynos, o Galaxy Note Edge veio ao país com o Snapdragon 805, um chip com processador quad-core de 2,7 GHz e GPU Adreno 420, acompanhado de 3 GB de RAM.

O conjunto de hardware cumpre bem as expectativas. A criticada TouchWiz roda com rapidez e quase não há engasgos nas animações do Android 4.4 KitKat. Embora a resolução da tela de 2560×1600 pixels seja alta, a GPU dá conta do recado e executou sem dificuldade os jogos mais pesados, incluindo Dead Trigger 2, Real Racing 3 e Modern Combat 5: Blackout.

A tecnologia claramente não estava pronta

O botão de início esconde um leitor de impressões digitais, que serve para desbloquear o aparelho e confirmar pagamentos. Infelizmente, o sensor é muito ruim. A necessidade de deslizar o dedo e as incontáveis falhas no reconhecimento das minhas impressões digitais fizeram com que eu desativasse o recurso já no terceiro dia de uso. Na maioria das vezes, meu dedo só era reconhecido corretamente na terceira ou quarta tentativa. Além disso, por várias vezes, fui obrigado a digitar a senha de backup alfanumérica para conseguir desbloquear o aparelho depois de várias tentativas malsucedidas.

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A bateria de 3.000 mAh está dentro da média e deverá aguentar um dia inteiro de uso na maioria dos casos. Em um dia de teste, tirei o Galaxy Note Edge da tomada às 9h, ouvi duas horas de música no Spotify pelo 4G, assisti a um vídeo em 720p por 25 minutos e naveguei na web (entre redes sociais, sites e emails) durante cerca de 1h30min. O brilho permaneceu no automático e a tela ficou ligada por exatamente 2h04min. Pouco mais de 14 horas depois, às 23h30, o nível de carga chegou a 18%.

Quando o nível da bateria estiver baixo, o carregador rápido de tomada faz diferença. Ele possui dois modos automáticos: um de 5V a 2A (10 watts, padrão) e outro de 9V a 1,67A (15 watts, rápido). Consegui recarregar a bateria de 3.000 mAh do Galaxy Note Edge de 2% a 100% em apenas uma hora e meia.

Conclusão

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O Galaxy Note Edge é, como eu disse no título da análise, um experimento. A tela dobrada na lateral é uma inovação criada para solucionar um problema que ainda não existe. Esse fato fica bem claro quando olhamos os recursos de software que a Samsung implantou para tentar justificar o formato diferenciado. A curva é legal, sim, mas não faz a menor diferença para o usuário — isso quando não atrapalha.

Na prática, o Galaxy Note Edge parece um produto conceito, que por algum motivo começou a ser vendido no mercado, do que algo para as pessoas realmente comprarem. Ele traz um acabamento diferenciado, uma tela impecável, uma câmera que fornece ótimos resultados e uma bateria que agrada. Só que o Galaxy Note 4 traz tudo isso, com o diferencial de causar menos dor no bolso.

Nem a Samsung sabia direito o que fazer com uma tela curvada

Telas curvas são interessantes quando bem implementadas. A curvatura do G Flex 2 me faz gostar muito do design do aparelho: entre um smartphone curvado e um plano, com o mesmo hardware e preço, eu certamente escolheria a primeira opção. No Galaxy S6 Edge, as curvas nas laterais colaboram com o visual e melhoram a pegada. Já no Galaxy Note Edge, não há vantagem alguma.

Vale a pena comprar um Galaxy Note Edge? Não. Se você tem dinheiro sobrando e procura um aparelho similar, com as mesmas características e funções, a opção mais interessante é o Galaxy Note 4. Mas valeu o experimento.

Para os sobreviventes que leem textos longos e ainda estão aqui: na quinta-feira (14) sai um Tecnocast sobre telas curvas!

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 16 megapixels (traseira) e 3,7 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, Beidou, Bluetooth 4.1, USB 2.0, infravermelho;
  • Dimensões: 151,3 x 82,4 x 8,3 mm
  • GPU: Adreno 420;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 128 GB;
  • Memória interna: 32 GB;
  • Memória RAM: 3 GB;
  • Peso: 174 gramas
  • Plataforma: Android 4.4 (KitKat);
  • Processador: quad-core Snapdragon 805 de 2,7 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, luminosidade, impressões digitais, ultravioleta, batimentos cardíacos, barômetro;
  • Tela: Super AMOLED de 5,6 polegadas com resolução de 2560×1600 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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