Gradiente Tegra Note 7, o tablet para jogos da Nvidia

Paulo Higa
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• Atualizado há 11 meses
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A Nvidia apresentou em setembro de 2013 um tablet de referência voltado para o público gamer equipado com o recém-lançado Tegra 4, um processador para dispositivos móveis que tem como principal chamariz o desempenho gráfico proporcionado pela GPU GeForce de 72 núcleos. Batizado de Tegra Note 7, o tablet foi lançado pela EVGA nos Estados Unidos e pela Gigabyte na Austrália. No Brasil, ele leva a marca da Gradiente.

O Tegra Note 7 é distribuído exclusivamente pela Gradiente no Brasil e custa 999 reais na loja online da empresa brasileira. Será que ele é uma boa opção para quem procura um tablet de alto desempenho com Android? Todas os detalhes estão nos próximos parágrafos, mas posso adiantar que sim.

Design e pegada

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O tablet da Nvidia, apesar de ser voltado para um público gamer, tem um design relativamente conservador, sem aquelas firulas encontradas em notebooks da Alienware, por exemplo. O único detalhe que destoa dos outros tablets está na traseira, que possui uma área com textura emborrachada. Ao segurar o tablet no modo paisagem, essa textura ajuda a tornar a pegada mais confortável.

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A moldura em torno da tela não é das mais finas. Mesmo com um visor de 7 polegadas, o Tegra Note 7 tem dimensões próximas do tablet da LG com tela de 8,3 polegadas. Embora não seja esteticamente agradável, isso não é um defeito: com bordas maiores, é possível segurar o tablet confortavelmente sem causar toques acidentais na tela.

Em uma das extremidades do tablet, há um orifício que guarda a caneta DirectStylus da Nvidia para fazer desenhos e anotações à mão. A caneta não faz milagres, mas é precisa, muda o traço de acordo com a pressão, possui um atraso mínimo que não chega a incomodar e certamente influenciará na compra de pessoas que desejam guardar registros manuscritos.

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Do outro lado, há uma haste removível que esconde o buraco para inserir a Slide Cover, vendida separadamente pelo preço não muito atrativo de 145 reais. O funcionamento da capa protetora do Tegra Note 7 é parecido com o da Smart Cover dos iPads: ela pode ser dobrada em pelo menos duas posições, uma para deixar o tablet em pé, útil para assistir a vídeos, e outra que deixa o tablet paralelo à mesa com uma leve inclinação, facilitando a digitação.

Tire a haste...
Tire a haste…
...encaixe a Slide Cover...
…encaixe a Slide Cover…
...e pronto!
…e pronto!
Pode ficar deitado...
Pode ficar deitado…
...ou em pé.
…ou em pé.

Talvez por possuir um design simétrico e conectores muito próximos, eu tive bastante dificuldade para localizar o botão liga/desliga e o controle de volume durante as duas semanas de uso do Tegra Note 7: é o mesmo problema que temos ao tentar encaixar cabos USB e só conseguir na terceira vez. Os botões poderiam ser melhor localizados.

Os botões não são exatamente bem localizados
Os botões não são exatamente bem localizados

Tela

Nos Estados Unidos, o tablet da Nvidia compete por preço e está sendo vendido por 199 dólares, um valor ainda menor que o do Nexus 7, que custa 229 dólares. Para economizar, é claro que algum componente deveria ser afetado. Pelo visto, no caso do Tegra Note 7, a peça que mais sofreu com o corte de custos foi a tela.

Como a tela é bastante reflexiva, a foto ficou lavada — o preto é mais preto que isso (mas poderia ser melhor)
Como a tela é bastante reflexiva, a foto ficou lavada — o preto é mais preto que isso (mas poderia ser melhor)

A tela de 7 polegadas do Tegra Note 7 possui resolução de 1280×800 pixels, o que resulta em uma definição de 216 pixels por polegada, abaixo da média. Para fins de comparação, G Pad 8.3 e Nexus 7 possuem telas com densidade de 272 ppi e 323 ppi, respectivamente. Mesmo em distâncias normais de uso, olhos bons já conseguem enxergar pixels individuais na tela do Tegra Note 7 em determinados cenários, especialmente ao ler textos.

Mas o que mais me incomodou foi a qualidade do painel. Apesar de ser IPS e possuir bons ângulos de visão, o Tegra Note 7 exibe cores pouco saturadas, o que resulta em imagens lavadas: tons de azul e vermelho ficam menos azuis e vermelhos do que deveriam ser. O preto, que fica parecendo um cinza escuro, poderia ser bem mais profundo, e o contraste é apenas razoável.

Como o brilho não é dos mais altos e o vidro que cobre o painel é muito reflexivo, é muito difícil enxergar a tela do Tegra Note 7 em locais com bastante iluminação. E nem estou me referindo à luz do sol: lâmpadas fluorescentes um pouco mais fortes no ambiente já são suficientes para interferir na tela do tablet.

Software

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A primeira boa notícia para os que abominam as interfaces mal otimizadas das fabricantes é que o Tegra Note 7 roda um Android praticamente puro, bem parecido com o dos Nexus. As poucas interferências da Nvidia no software se limitam a colocar a marca do parceiro na tela de boot (no caso, a Gradiente) e poucos aplicativos adicionais para aproveitar os diferenciais do tablet: a GPU potente e a caneta DirectStylus.

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TegraZone dá acesso aos games otimizados para o chip da Nvidia
TegraZone dá acesso aos games otimizados para o chip da Nvidia

Além dos aplicativos nativos do Android e do pacote do Google, o Tegra Note 7 traz cinco adicionais:

  • Jogos do Tegra Zone: lista jogos gratuitos e pagos otimizados para o chip Tegra 4;
  • Lançador do DirectStylus: é aberto automaticamente ao tirar a DirectStylus do orifício e lista aplicativos definidos pelo usuário (por padrão, mostra atalhos para abrir o Tegra Draw e o Write);
  • Tegra Draw: quase um Microsoft Paint; permite fazer desenhos;
  • Write: caderno com folhas virtuais pautadas para fazer manuscritos com a DirectStylus;
  • Zen Pinball HD: joguinho de pinball. Não é uma versão de demonstração (até porque ele é gratuito).

A segunda boa notícia é que o Tegra Note 7 está sendo constantemente atualizado pela Nvidia. O modelo que testei veio com o Android 4.4.2 pré-instalado, a versão mais recente do KitKat disponível no momento. Se ainda não temos um Nexus 7 à venda no mercado brasileiro, temos um tablet que oferece uma experiência próxima a do tablet do Google.

Os players de áudio e vídeo são os padrões do Google. Aqui, vale destacar um ponto positivo: os dois alto-falantes do Tegra Note 7 emitem som alto e bem definido. Para um produto que deverá ser usado principalmente para jogos e aplicações multimídia, é muito bom saber que a Nvidia acertou em cheio nesse ponto.

Hardware e desempenho

A ausência de grandes modificações na interface ou aplicativos de utilidade duvidosa instalados de fábrica fez muito bem para o hardware. Não presenciei excesso de travadinhas no Android, e alternar entre os aplicativos sempre foi bastante rápido. Mesmo com 1 GB de RAM, metade do que possui o G Pad 8.3, o Tegra Note 7 dá um banho no tablet da LG quando considerado o fator fluidez.

Este é apenas mais um exemplo de como as interferências das fabricantes no software, embora às vezes resultem em funcionalidades adicionais úteis, não raramente acabam piorando a experiência de uso. Também é mais um daqueles casos que mostram na prática que especificações de hardware não dizem quase nada.

O desempenho em games é ótimo. É possível jogar Real Racing 3Asphalt 8: Airborne, Modern Combat 4 e FIFA 14 com ótimos gráficos. Dead Trigger 2 roda na configuração Ultra High sem o menor sinal de engasgo. Aqui, a resolução relativamente baixa da tela do Tegra Note 7 acaba se tornando um ponto positivo: com menos pixels para serem processados, a taxa de frames nos jogos é muito boa.

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Nos benchmarks sintéticos, o Tegra Note 7 obteve bons números. A pontuação no teste HTML5 do Vellamo foi afetada, provavelmente, pelo novo núcleo de renderização do KitKat: o smartphone Nexus 5 também obteve resultados menores que os concorrentes com hardware do mesmo nível.

Câmera

As fotos tiradas pela câmera de 5 megapixels do Tegra Note 7 são aproveitáveis, mas possuem baixo nível de detalhes. Já a câmera frontal está ali porque não seria bom um tablet vir sem câmera frontal: você pode usá-lá para chamadas em vídeo, mas não espere muita definição, uma vez que a resolução é apenas VGA.

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O aplicativo da câmera é competente e traz recursos interessantes, como a possibilidade de alterar o ISO, capturar em HDR e colocar uma grade 3×3 ou até de proporção áurea na tela. É uma pena que ele tenha sido tão mal traduzido: na interface, há termos como “Apertar zoom” (?), “Arquivos nublados” (?) e “Estabelizasão de Imagem” (sic). O Google Tradutor faria um trabalho muito melhor que isso.

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Bateria

A bateria de 4.100 mAh está dentro da média de um tablet de 7 polegadas. Justamente por isso, a autonomia é apenas razoável e não impressiona. De acordo com a Nvidia, o Tegra Note 7 é capaz de reproduzir um vídeo em HD por até 10 horas, mas ficou claro que isso ocorrerá somente em condições totalmente favoráveis (e talvez inexistentes).

Com até duas horas de uso por dia, rodando apenas aplicativos leves, a bateria do Tegra Note 7 deve durar o esperado para um tablet: de dois a três dias. O consumo de bateria ao deixar o tablet em espera não é tão alto: em seis horas, o nível caiu de 87% para 81%. Se o processador for mais exigido, a autonomia cai consideravelmente.

No teste de bateria, assistimos O Poderoso Chefão: Parte II em loop na Netflix com o brilho no máximo. Todos os outros aplicativos rodando em segundo plano foram encerrados. A duração foi de 4 horas e 43 minutos. Não é ruim, mas poderia ser melhor, ainda mais para uma tela que não possui um brilho tão alto.

Pontos negativos

  • Bateria poderia ter duração melhor.
  • Tela com pouco brilho, baixa saturação e muita reflexão de luz.

Pontos positivos

  • Alto-falantes com qualidade acima da média.
  • Boa relação custo-benefício, apesar do preço mais elevado no Brasil.
  • Interface sem modificações desnecessárias e Android atualizado para a última versão.
  • Ótimo desempenho no uso diário e nos jogos pesados.

Conclusão

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Se a intenção da Nvidia era construir um bom tablet para jogos, a fabricante conseguiu cumprir a tarefa muito bem. Embora os chips Tegra anteriores tenham sofrido críticas por prometerem muito e produzirem pouco, o Tegra 4 traz CPU e GPU muito competentes, que oferecem ótimo desempenho, tanto no uso diário quanto nos aplicativos que exigem mais processamento gráfico.

O Tegra Note 7 tem alguns pontos negativos, como a tela, mas o conjunto é bastante equilibrado. Os alto-falantes são ótimos, o Android quase puro colabora com a fluidez do tablet e a caneta DirectStylus será um adicional interessante para várias pessoas. Como o preço nos EUA é de apenas 199 dólares, ele poderia custar menos que os 999 reais cobrados no Brasil, mas o valor está dentro do esperado para os padrões brasileiros.

Se você procura um tablet Android com acabamento superior, prioriza a qualidade da tela e não se incomoda com travadinhas ocasionais (ou não se importa em se aventurar em uma ROM alternativa), o G Pad 8.3 será uma opção melhor: apesar de ter sido lançado por um preço mais alto que o do Tegra Note 7, o tablet da LG já pode ser encontrado em promoções por cerca de 800 ou 900 reais.

Para o público-alvo do Tegra Note 7, portanto, o tablet da Nvidia será uma boa compra. Para o resto, ainda será difícil bater a relação custo-benefício do LG G Pad 8.3.

Especificações técnicas

  • Bateria: 4.100 mAh.
  • Câmera: 5 megapixels (traseira) e VGA (frontal).
  • Conectividade: Wi-Fi 802.11n, GPS, GLONASS e Bluetooth 4.0.
  • Dimensões: 190 x 120 x 9,4 mm.
  • GPU: GeForce de 72 núcleos.
  • Kit contém: tablet Gradiente Tegra Note 7, caneta DirectStylus, cabo USB, carregador, guia de normas e manual do usuário.
  • Memória interna: 16 GB (12 GB disponíveis para o usuário).
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB.
  • Memória RAM: 1 GB.
  • Peso: 320 gramas.
  • Plataforma: Android 4.4.2 KitKat.
  • Processador: quad-core Nvidia Tegra 4, com núcleos Cortex-A15 de 1,8 GHz.
  • Sensores: acelerômetro, giroscópio, bússola, iluminação.
  • Tela: IPS LCD de 7 polegadas com resolução de 1280×800 pixels.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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