LG Q6+: as bordas mínimas chegam aos intermediários

Smartphone de 5,5 polegadas da LG tem design compacto e aposta no reconhecimento facial, mas falha

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

Quando a LG anunciou o smartphone Q6, eu falei: “finalmente!”. Até então, a linha de celulares da fabricante coreana no Brasil não fazia muito sentido na minha cabeça: havia os aparelhos de entrada, como K4, K8 e K10, que custam até mil reais; e depois o topo de linha G6, que foi lançado por R$ 3.999. O abismo entre as duas principais famílias de produtos era muito grande.

Agora, até que enfim, existe um smartphone da LG para ocupar o segmento de aparelhos intermediários “quase premium”. O Q6 se parece com o G6, mas é menor, tem hardware mais simples e preço mais convidativo. Ainda assim, no Q6+, a empresa colocou alguns números que chamam atenção, como os 4 GB de RAM e os 64 GB de armazenamento interno.

Será que vale a pena? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Em vídeo

Design

Com certeza, o maior destaque do Q6+ é ter um design relativamente compacto, com poucas bordas em volta da tela, mas sem custar uma fortuna: o Q6 desembarcou por R$ 1.299, enquanto o Q6+ custa R$ 1.599. E ambos os modelos têm moldura de alumínio e um bom aproveitamento de espaço na parte frontal, que dão um aspecto mais sofisticado ao produto.

Mas é claro que, cobrando um terço do preço de lançamento do G6, a LG fez algumas concessões. O principal problema é a traseira de plástico, não por algum preconceito pessoal, mas por causa da escolha do acabamento. Existem basicamente três opções quando não se usa vidro ou metal: plástico fosco, plástico texturizado (as fabricantes acabam indo para essa opção) e plástico brilhante.

No caso do Q6+, o resultado é esteticamente bom, mas o material risca com extrema facilidade. Depois de uma semana, parece até que eu passei uma lixa no aparelho (mas ele só ficou no meu bolso e na minha mesa). Cheguei a pensar que foi algum descuido da minha parte, mas reviews estrangeiros também citam essa falha; e outras pessoas que estão com o Q6+ notaram o problema. O uso de uma capinha é obrigatório.

Outro ponto negativo é a ausência do leitor de impressões digitais, um componente que até smartphones de 700 reais já estão trazendo. A LG seguiu o caminho da Apple e decidiu apostar todas as fichas no reconhecimento facial. O problema é que, no caso do Q6+, a tecnologia é simplesmente ruim.

Em condições normais de temperatura e pressão, você simplesmente levanta o aparelho, vê a tela ligar, olha para a câmera frontal, e ele é desbloqueado magicamente. Na prática, acontece o seguinte:

  • Primeiro: ele não funciona no escuro. E, se a iluminação estiver um pouquinho ruim, a câmera já se atrapalha para reconhecer o rosto.
  • Segundo: qualquer alteração no rosto prejudica o reconhecimento, seja uma alteração no penteado do cabelo ou se eu colocar meus óculos. Existe uma opção para melhorar a precisão do reconhecimento facial, cadastrando seu rosto mais de uma vez, mas nem isso foi suficiente.
  • Terceiro: a tecnologia não é segura porque pode ser burlada com uma simples foto na tela de outro smartphone. Uma opção de reconhecimento facial avançado, que não é ativada por padrão, resolve o problema, mas em compensação faz o aparelho demorar 3 ou 4 segundos para desbloquear; é praticamente inutilizável.

O reconhecimento facial do Q6+ foi uma tentativa da LG em economizar dinheiro na fabricação que definitivamente não deu certo.

Tela

O Q6+ se dá bem dentro de sua categoria quanto o assunto é tela. O painel IPS LCD de 5,5 polegadas com resolução de 2160×1080 pixels (proporção 18:9) entrega boa definição, cores equilibradas e contraste satisfatório. O brilho é um pouco fraco, mas esse é um ponto negativo constante em aparelhos dessa faixa de preço.

Minha crítica fica por conta de um filtro estranho que a LG aplica na tela, por software, para tentar aumentar a percepção de nitidez. Sharpening é algo que as fabricantes costumam colocar nas câmeras, mas a LG é a única que eu vi fazendo isso no display. E, como o Q6+ já possui uma tela naturalmente com excelente definição, essa modificação só piora as coisas.

A questão é que, se você olha um pouquinho mais de perto, percebe algumas bordas artificiais em volta de caracteres de texto, ou mesmo fotos que parecem ter sido mal editadas. É uma tentativa da LG em melhorar uma característica do produto que acabou mais atrapalhando que ajudando.

Software

A LG já teve o problema de outras fabricantes de Android, como a Samsung, quando incluía um monte de aplicativos de utilidade duvidosa e desenvolvia uma interface cheia de cores sem sentido. No entanto, o Android 7.1.1 Nougat que chega com o Q6+ me agrada bastante.

A interface da LG tem um visual predominantemente branco, com algumas animações bem sutis, que não pesam nem aos olhos e nem ao hardware. Faz um tempinho que a empresa consegue entregar uma interface bastante fluida mesmo em celulares que não possuem uma GPU tão potente. Ponto para a LG.

Existem poucos aplicativos pré-instalados no Q6+, como a suíte do Google, que é obrigatória; os aplicativos de suporte da LG; algumas ferramentas básicas, como um gerenciador de arquivos (que é bem simples, poderia ser melhor) e um gravador de áudio; e os aplicativos necessários ao funcionamento de determinados recursos, como rádio FM e TV digital.

A TV digital, que exige um rabicho no conector de fone de ouvido para servir como antena, sintoniza bem os canais em alta definição. O aplicativo permite gravar programas (ou até agendar uma gravação) e mostra o guia de programação das emissoras, como todo bom software do gênero.

Câmera

Como o Q6+ foi lançado por R$ 1.599, ele entra na faixa de preço dos intermediários premium, na qual existem câmeras boas de verdade. Nesse cenário de lançamento, comprar um Q6+ por causa da fotografia não faz sentido. Mas, considerando que os preços de smartphones da LG despencam depois de algumas semanas ou meses, dá para avaliá-lo como se ele custasse uns mil reais.

No entanto, mesmo assim, a câmera da LG não impressiona tanto. Ela pode servir pra compartilhar suas fotos capturadas em boas condições de iluminação em alguma rede social, como o Instagram, que mostra as imagens comprimidas e em tamanho pequeno. Entretanto, se você exige uma certa qualidade, o Q6+ não é para você.

Com bastante luz, o Q6+ tira fotos com cores que chamam a atenção, sem parecer artificial demais, e com um alcance dinâmico satisfatório. Ele estoura bastante os pontos de iluminação, mas em geral é possível conseguir boas imagens. O nível de ruído é baixo e a nitidez é satisfatória.

Em cenários noturnos, a câmera de 13 megapixels com lente de abertura f/2,2 mostra suas limitações. A nitidez continua relativamente boa, mas dá para notar bastante ruído em áreas de sombra.

Já câmera frontal de 5 megapixels serve para o básico. As cores agradam, mas a definição é de mediana para ruim, especialmente considerando a existência de aparelhos como o Galaxy A5 (2017), que entrega resultados melhores. Além disso, o ruído está sempre presente e aumenta em ambientes com luz artificial.

Hardware e bateria

A parte estranha do Q6+ é o hardware. Ele tem 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento, inclusive com direito a uma entrada para microSD, que não é híbrida — você pode expandir a memória e utilizar dois chips de operadoras simultaneamente. O problema é o processador Snapdragon 435.

O Snapdragon 435 é composto de oito núcleos Cortex-A53 de 1,4 GHz e não é exatamente ruim; ele é um pouco pior que o Snapdragon 625 em termos de CPU. Só que a GPU Adreno 505 se mostra um fator limitante do Q6+, talvez devido à tela com resolução ligeiramente maior que Full HD.

Nos aplicativos de terceiros, o Q6+ não é fluido. Qualquer rolagem na timeline do Twitter, Instagram ou Facebook mostra travadinhas chatas a cada segundo, que eu não gostaria de encontrar em um aparelho dessa faixa de preço. Jogos também não se dão bem: Breakneck e Unkilled, por exemplo, têm quedas na taxa de frames que prejudicam a jogatina.

Se você não joga ou joga pouco, o Q6+ dá conta do recado. Mas não pense que o multitarefa é ágil por causa dos 4 GB de RAM: o processador acaba sendo um limitador, e o aparelho constantemente recarrega alguns aplicativos em plano de fundo. Parece até que o smartphone é incapaz de usar tanta RAM — é um conjunto desequilibrado, como se um Fiat Uno tivesse um tanque de combustível de Boeing 737.

Por outro lado, a duração de bateria agrada. Nos meus testes, tirando o Q6+ da tomada às 9h da manhã, navegando na web por 2 horas, ouvindo música por streaming por 2 horas, sempre no 4G, eu sempre cheguei em casa por volta por volta das 22h com algo entre 35% e 45% de bateria.

É uma bateria que pode não impressionar muito no papel, com capacidade de 2.900 mAh, mas que na prática funciona bem e deverá aguentar até o final do dia para a maioria das pessoas.

Conclusão

Eu tenho um problema com a LG: ela sempre lança algum smartphone que, no geral, parece bom, mas sempre existe(m) alguma(s) coisinha(s) que joga(m) tudo por água abaixo. Pegue o G6, por exemplo: ele é um excelente celular, com um design que chama a atenção e uma bateria que dura bastante, mas que custava injustificáveis R$ 3.999 no lançamento e tinha míseros 32 GB de espaço.

No caso do Q6+, eu gostei bastante do formato do smartphone, que traz as bordas mínimas para um segmento mais acessível; da bateria, que é boa e aguenta até o final do dia; e da capacidade de armazenamento generosa de 64 GB, que é suficiente para praticamente todo mundo, mesmo para quem está acostumado com aparelhos mais caros.

Mas ele não tem leitor de impressões digitais, e a alternativa que a LG adotou, que é o reconhecimento facial, não funciona direito. Além disso, a traseira de plástico brilhante risca com extrema facilidade, e o desempenho foi decepcionante, apesar de parecer bom na ficha de especificações técnicas.

O Q6+ não faz sentido pelo preço de lançamento, de R$ 1.599. Em alguma promoção do varejo, por 1 ou 1,1 mil reais, talvez ele comece a ser uma alternativa se você gosta do design quase sem bordas. Caso contrário, podem existir opções melhores, como o Galaxy A5 (2017) e o Moto G5S Plus que, embora não sejam superiores em tudo, entregam um conjunto mais equilibrado.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.900 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.2, USB 2.0, rádio FM, TV digital;
  • Dimensões: 142,5 x 69,3 x 8,1 mm;
  • GPU: Adreno 505;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 64 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 149 gramas;
  • Plataforma: Android 7.1.1 Nougat;
  • Processador: octa-core Snapdragon 435 de 1,4 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola;
  • Tela: IPS LCD de 5,5 polegadas com resolução de 2160×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

LG Q6+

Prós

  • Bastante capacidade de armazenamento
  • Bateria que dá conta do recado
  • Belo aproveitamento de espaço

Contras

  • Cadê o leitor de impressões digitais?
  • Câmeras não impressionam
  • Desempenho decepcionante na categoria
  • Reconhecimento facial lento e impreciso
  • Traseira de plástico risca com muita facilidade
Nota Final 7.4
Bateria
8
Câmera
6
Conectividade
8
Desempenho
7
Design
7
Software
8
Tela
8

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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