Review Motorola One: corpinho novo, hardware nem tanto
Primeiro Android One do Brasil não faz feio, mas tem chip desatualizado, além de tela e câmera que poderiam ser melhores
Primeiro Android One do Brasil não faz feio, mas tem chip desatualizado, além de tela e câmera que poderiam ser melhores
A Motorola deu um novo gás para sua linha de celulares no Brasil: além dos tradicionais Moto E, G e Z, que já ganharam novas gerações em 2018, temos o Motorola One. Ele é bem diferente dos outros aparelhos da marca, tanto pela nomenclatura quanto pelo visual, e também se destaca por ser o primeiro Android One a desembarcar no país, prometendo atualizações por dois anos e correções mensais de segurança.
Por R$ 1.499, será que o Motorola One é uma boa opção? O processador não é muito novo, mas será que dá conta do recado? As câmeras duplas são boas? E o software, como é? Eu testei o lançamento da Motorola nos últimos dias e conto minhas impressões nos próximos parágrafos.
O Motorola One é o primeiro smartphone da Motorola no Brasil com um notch. Ele não pode ser ocultado por software de forma nativa e, para mim, que já testei diversos aparelhos com chifres no último ano, isso não foi um problema. A sensação de estranhamento não existiu; os aplicativos se adaptam bem ao formato; e a tela com proporção 19:9 permite que os conteúdos sejam exibidos em sua plenitude.
O aparelho é bem construído e tem uma pegada confortável, graças à tela mais estreita. A traseira, que também abriga um leitor de impressões digitais, é de vidro e adora atrair marcas de dedo, mas elas felizmente não ficam muito visíveis na versão branca. Aqui, um ponto bacana é que a Motorola seguiu a tendência do mercado e passou a enviar uma capinha, bem simples, para proteger o celular dos usuários mais desastrados.
Falando dos acertos, a Motorola manteve a entrada padrão de 3,5 mm para fones de ouvido e uma bandeja tripla, que permite colocar simultaneamente dois chips de operadoras e um cartão de memória para expandir o armazenamento interno de 64 GB. Destaque também para o carregador rápido, de 18 watts, que a empresa já envia na caixa, diferente do que certas fabricantes vêm fazendo.
Mas um ponto controverso é a tela LCD de 5,9 polegadas com resolução HD, de 1520×720 pixels. Ela não é ruim, mas fica abaixo da média da categoria, que já traz displays Full HD. A definição é apenas satisfatória; as cores agradam, com dois modos de saturação que devem deixar todo mundo contente; e o brilho é somente razoável, mostrando uma certa limitação em situações com bastante incidência de luz solar.
O nome do produto não é por acaso: o maior destaque do Motorola One, claro, é o Android One. Ele é o primeiro smartphone do mercado brasileiro a fazer parte desse programa do Google que, basicamente, garante atualizações de sistema por dois anos e correções de segurança mensais por três anos.
Só que a Motorola já não começou muito bem. O Motorola One vem de fábrica com o Android 8.1 Oreo, sendo que o Android 9 Pie já foi lançado, está disponível nos smartphones Google Pixel e está até sendo distribuído para aparelhos da Sony. Enquanto isso, a Motorola ficou só na promessa de liberar o Pie até o final do ano. Sem contar que os pacotes de segurança de setembro e outubro ainda não foram liberados no momento em que eu escrevi este review.
A interface é a mesma que você encontra em celulares da linha Moto. Não existem muitas modificações em relação ao Android puro, mantendo um visual limpo e poucos aplicativos pré-instalados. Além do pacote padrão do Google, o Motorola One traz uma ferramenta da Dolby para melhorar a qualidade de som e o aplicativo Moto, que reúne o Moto Tela, para exibir o relógio e as notificações com o aparelho em standby; e o Moto Ações, com gestos para abrir a câmera e ligar a lanterna.
A câmera traseira do Motorola One é dupla, com um sensor principal de 13 megapixels, além de um secundário de 2 megapixels que não serve para tirar fotos, apenas para fazer o efeito de desfoque de fundo. Aqui, eu já ressalto que o modo retrato funciona razoavelmente bem, dentro do que os outros aparelhos da mesma faixa de preço entregam, mas fica a sensação de que o aplicativo de câmera não foi otimizado: o processamento do efeito bokeh demora bastante.
A qualidade das fotos em geral é somente ok. Com boa iluminação, o alcance dinâmico se mostrou muito limitado com o HDR desligado, mas é só ativá-lo que o software faz um bom trabalho em manter as áreas de sombra visíveis, sem estourar os pontos de luz. O ruído é controlado, mas a definição fica claramente abaixo de outros aparelhos intermediários da própria Motorola, como o Moto G6 Plus.
Quando a iluminação é reduzida, o Motorola One sofre mais. A Motorola optou por um ajuste em que a velocidade do obturador cai bastante para tentar manter o ruído sob controle. Na prática, como a lente não tem estabilização óptica de imagem, isso resulta em fotos com nitidez satisfatória para um aparelho mais simples, mas exigindo um pulso bem firme do usuário — eu tive um pouco dificuldade para não deixar tudo tremido.
Já as fotos noturnas ficam quase inviáveis. Para tentar compensar o ruído do sensor, a Motorola aplica um efeito de pós-processamento que acaba deixando todo o quadro com um “efeito aquarela”, sem detalhes. Nesse ponto, o Moto G6, que é um smartphone mais acessível na linha da Motorola, consegue se sair melhor.
O hardware certamente é uma das polêmicas do Motorola One, em especial para quem acompanha o mercado de tecnologia de perto. Ele vem com o Snapdragon 625, um processador octa-core que já foi utilizado à exaustão em smartphones intermediários premium e tem dois anos de mercado; depois dele, vieram o Snapdragon 626, o 630 e o 636.
Para o público em geral, eu diria que isso não faz muita diferença. Nos meus testes, o Motorola One entregou um desempenho decente, dentro do que eu espero de um celular de R$ 1.499 no mercado brasileiro. Sim, fica a sensação de que a Motorola poderia ter caprichado mais. Mas, em conjunto com os 4 GB de RAM e os 64 GB de armazenamento interno, ele não ficou engasgando e rodou bem os jogos de teste.
Uma qualidade que eu sempre destaquei nos vários smartphones com Snapdragon 625 que analisei é a eficiência energética. A bateria de 3.000 mAh do Motorola One não tem um número que salta aos olhos, mas foi mais do que suficiente para me manter conectado o dia inteiro sem me preocupar com uma tomada ou power bank.
No meu dia de testes, eu tirei o Motorola One da tomada às 8h30 da manhã, ouvi músicas por streaming no 4G por duas horas e naveguei na web (entre e-mails, sites e aplicativos de redes sociais) também por duas horas, sempre com brilho no automático. Às 20h, ele ainda tinha 41% de carga. O fato de o processador ser eficiente e a tela não apresentar um brilho muito forte certamente contribuíram para a autonomia.
Se o Motorola One fizer sucesso, provavelmente será mais por causa do design, bem diferente dos outros aparelhos que a empresa já lançou, do que pelas qualidades técnicas. Não dá para negar que ele traz uma sensação de “novidade” e, na mão, passa a impressão de ser um produto muito bem construído, independente de ter um notch ou não.
Mas parece que a Motorola focou demais no visual e esqueceu do resto. A boa duração de bateria e a versão única com generosos 4 GB de RAM e 64 GB de espaço são pontos fortes do Motorola One, mas ele deixa a desejar na tela e na câmera — e isso comparando com os celulares da própria Motorola, especialmente com o Moto G6, que é inclusive mais em conta. A proposta do Android One é interessante, mas ele já veio com um Android desatualizado e sem as correções de segurança prometidas.
Na concorrência, o Asus Zenfone Max Pro entrega um processador mais recente, uma tela com definição maior e bateria de 5.000 mAh; e o Samsung Galaxy J8, que era absurdamente caro no lançamento, hoje é mais acessível que o Motorola One e tem uma câmera um pouco mais confiável, especialmente quando a iluminação não está a favor.
O Motorola One não é um produto ruim, mas quem gosta de tirar fotos e consome muitos vídeos no celular talvez fique melhor servido com outra opção.
Leia | O que é Android One?