Positivo Octa X800: o octa-core brasileiro

Custando cerca de 800 reais, Positivo Octa é um concorrente a ser considerado entre os intermediários

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses
Positivo Octa X800

A Positivo está querendo arriscar em novos segmentos e lançou recentemente o Positivo Octa X800, um smartphone que foca no processador octa-core de 1,4 GHz para atrair os olhares dos consumidores. Com design mais sofisticado, câmera de 13 megapixels, tela HD de 5 polegadas e até uma versão dourada, ele tem o duro desafio de brigar com os competitivos smartphones na faixa dos 800 reais.

O octa-core brasileiro empolga? Depois de uma semana usando o Positivo Octa como meu smartphone principal, escrevo minhas impressões nos próximos parágrafos.

Design e tela

Pela primeira vez, a Positivo, que sempre apostou nos segmentos mais baixos, está investindo num smartphone com hardware mais potente, voltado para um público mais exigente. O design do Positivo Octa definitivamente não me agradou: o formato quadradão e as várias marcas de encaixe visíveis na carcaça estão longe de serem atraentes.

Mas, se o Positivo Octa não empolga tanto no design, dá para ver que a empresa pelo menos tentou. A traseira é recoberta com vidro resistente a quedas, fugindo um pouco do excesso de plástico que vemos nos smartphones dessa faixa de preço. Com 7,9 mm de espessura, ele também é extremamente fino — embora isso traga uma implicação, que detalharei adiante.

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Como de costume nos smartphones da Positivo, a porta Micro USB fica posicionada na parte superior, próxima ao conector do fone de ouvido de 3,5 mm. Do lado direito, há a entrada do cartão microSD; do lado esquerdo, vemos uma bandeja com dois slots para chips no padrão Micro-SIM. Não é possível remover a tampa traseira ou a bateria de 2.000 mAh.

A tela IPS LCD de 5 polegadas tem resolução de 1280×720 pixels e não decepciona. É difícil enxergar pixels individuais; os níveis de saturação e contraste são bons; e o brilho está dentro do esperado para um smartphone da categoria. O ângulo de visão não é tão amplo, mas não chega a dificultar a visualização do conteúdo da tela em posições rotineiras, como quando o aparelho está deitado sobre a mesa, por exemplo.

Software e multimídia

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O Android 4.4.2 KitKat do Positivo Octa é quase idêntico ao original do Google, não fossem algumas personalizações que a Positivo decidiu fazer, como trocar os ícones dos aplicativos nativos e incluir softwares adicionais, alguns de utilidade bastante questionável. Além dos programas do Android e do Google, a Positivo deixou pré-instalado:

  • App Grátis Positivo: uma espécie de vitrine para promover apps de parceiros (e que, neste exato momento, mostra apenas um nada interessante, chamado Terra Futebol);
  • Apps BR: atalho para uma página da Positivo com uma lista de apps brasileiros (necessário para a desoneração de impostos da Lei do Bem);
  • Backup e Restauração: faz uma cópia de segurança dos dados pessoais e de apps (só funciona com um microSD instalado);
  • Gerenciador de arquivos: exibe os arquivos armazenados na memória do aparelho e microSD, mas nada de integração com algum serviço de nuvem;
  • Gravador de som: ferramenta simples, que salva as gravações em OGG (poderia ter uma opção para salvar num formato mais comum!);
  • Opera Mini: o conhecido navegador da Opera que ajuda a economizar dados;
  • Positivo: um atalho para o site Mundo Positivo;
  • Tarefa: ferramenta simples de lista de tarefas, com poucas opções de gerenciamento;
  • WPS Office: visualizador e editor de documentos, planilhas e apresentações.
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A intenção é boa, mas...
A intenção é boa, mas…

Em relação aos players de áudio e vídeo, a Positivo decidiu manter os padrões do Google, Play Música e Play Filmes. O recurso de rádio FM, cada vez mais raro, continue firme e forte no Positivo Octa e permite inclusive gravar a programação. O alto-falante, localizado na parte inferior, emite som com qualidade satisfatória, mas distorce em volumes mais altos.

Os recursos são até úteis, mas precisam funcionar bem

Fuçando um pouco é possível encontrar alguns truques. Para evitar a necessidade de ficar apertando o botão liga/desliga a todo momento, a Positivo implantou alguns gestos que funcionam com a tela desligada: dois toques ligam a tela e um “C” abre o aplicativo de câmera. É um recurso bom, mas precisa ser refinado: por várias vezes, o aparelho ligou sozinho enquanto estava no meu bolso, por isso, preferi desativá-lo.

O aplicativo de câmera possui algumas funções legais, mas apenas na teoria. Para tirar uma selfie, por exemplo, não é necessário tocar em nenhum botão: basta fazer um gesto de “V de vitória“ com a mão e a foto será tirada em três segundos. Mas o reconhecimento desse gesto falhou tantas vezes nos meus testes que a melhor opção acaba sendo tocar sempre no botão.

Outro detalhe é que, por padrão, o Positivo Octa vem com um papel de parede animado, com uma planta que se movimenta de acordo com o acelerômetro e fica piscando a todo momento. É uma personalização incômoda, desnecessária e pesada, mas pelo menos dá para trocar o wallpaper com dois toques, sem drama.

A Positivo prometeu que a atualização para o Android 5.0 Lollipop chega ainda neste primeiro semestre. Veremos se esses inconvenientes serão corrigidos.

Câmera

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Embora tenha resolução maior que a dos concorrentes, a câmera traseira de 13 MP não oferece nada muito além do que estamos acostumados nos smartphones intermediários. A definição das fotos parece um pouco acima da média, devido ao filtro de sharpening que a Positivo aplica nas cenas. No entanto, o pós-processamento é bastante pesado: qualquer gramado ao fundo fica parecendo um conjunto de bolinhas de algodão verdes.

Apesar de ter suas limitações, o Positivo Octa consegue entregar resultados satisfatórios em fotos noturnas, com um nível de ruído relativamente baixo e uma definição boa. A lente com grande abertura, de f/2,0, certamente deve ajudar nesse ponto.

f/2, ISO 436, 1/60s: filtro de sharpening para aumentar a nitidez das marcas das canetas
f/2, ISO 436, 1/60s: filtro de sharpening para aumentar a nitidez das marcas das canetas
f/2, ISO 1234, 1/4300s: boas cores, mas pós-processamento além da conta faz a grama ao fundo parecer um "tapete"
f/2, ISO 1234, 1/4300s: boas cores, mas pós-processamento além da conta faz a grama ao fundo parecer um “tapete”
f/2, ISO 103, 1/25s: mais uma vez, é visível o uso de sharpening no rótulo da latinha
f/2, ISO 103, 1/25s: mais uma vez, é visível o uso de sharpening no rótulo da latinha
f/2, ISO 605, 1/10s: em fotos noturnas, o Positivo Octa se sai melhor que muito smartphone por aí
f/2, ISO 605, 1/10s: em fotos noturnas, o Positivo Octa se sai melhor que muito smartphone por aí
f/2, ISO 96, 1/1150s: o sensor mostra suas limitações em cenas de alto contraste; e a grama tem aspecto de algodão
f/2, ISO 96, 1/1150s: o sensor mostra suas limitações em cenas de alto contraste; e a grama tem aspecto de algodão

Hardware e bateria

Um dos grandes atrativos do Positivo Octa é o processador octa-core, uma característica que deve brilhar nas prateleiras das lojas. Na prática, nós sabemos que se trata de um chip acessível da MediaTek: o MT6592 é formado por oito núcleos ARM Cortex-A7 de 1,36 GHz, os mesmos usados no básico Snapdragon 400, mas com clock ligeiramente mais alto. Mesmo assim, o chip é bem competente.

Não enfrentei lentidões durante os dias em que usei o aparelho, o que significa que a Positivo fez um bom trabalho em otimizar o software. Não há engasgos na interface, e alternar entre apps é uma tarefa rápida. O Positivo Octa só mostra sinais de cansaço depois de sair de um jogo pesado, quando o launcher é reiniciado, mas isso acontece inclusive com aparelhos mais caros.

Nos benchmarks sintéticos, o Positivo Octa foi superior aos seus concorrentes diretos. Como estamos falando de um processador e GPU diferente do que estamos acostumados, vale a pena comparar o desempenho em relação ao Snapdragon 400 (Moto G de 2ª geração e uma penca de outros smartphones) e Intel Atom Z2560 (Zenfone 5):

Como se vê, do ponto de vista do desempenho, o MT6592 é um chip bastante interessante para um smartphone dessa faixa de preço. A GPU está acima dos concorrentes e o desempenho por núcleo não decepciona — embora o processador mostre seu poder apenas em apps otimizados para múltiplos núcleos.

O chip da MediaTek é bom, mas às vezes esquenta a cabeça

O problema foi que, embora o Positivo Octa seja um aparelho bastante frio no uso normal, inclusive com uso constante de dados móveis, ele esquenta bastante em apps que exigem mais do processador — caso de jogos como Dead Trigger 2 e Real Racing 3, quando, provavelmente, os oito núcleos estão funcionando a todo vapor. Após 15 ou 20 minutos de jogatina, a região logo abaixo da câmera traseira ficou muito quente, incomodando bastante.

Além disso, a bateria de apenas 2.000 mAh é um problema para um smartphone com processador mais gastão. Após sete horas, com brilho no automático, cerca de uma hora de navegação no 3G, uma hora de streaming no 3G e apenas 1h17min de tela ligada, o Positivo Octa já indicava 43% de carga restante. É bastante provável que você queira levar seu carregador na bolsa para não ficar sem carga até o final do dia.

Conclusão

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Antes de afirmar se o Positivo Octa vale a pena ou não, me permita divagar um pouco.

O Positivo Octa é um bom smartphone, que ainda tem algumas falhas, mas pode ser o primeiro passo para que a Positivo se fortaleça no mercado nacional de smartphones. É estranho como fabricantes locais dominam o mercado de certos países, como China (Xiaomi) e Índia (Micromax), mas o Brasil seja totalmente tomado por meia dúzia de marcas, todas estrangeiras.

Além de fazer um produto bom, a Positivo deverá enfrentar a resistência da marca

Antes de conseguir emplacar no mercado de smartphones, a Positivo precisará vencer sua principal resistência: o sentimento negativo da marca. É bem verdade que o nome Positivo ainda nos remete a uma empresa que vende produtos baratos e com qualidade inferior. Por isso, fica difícil competir com marcas estabelecidas em faixas de preço mais altas, caso do Positivo Octa.

Mudar a imagem de uma marca é difícil, mas não impossível: basta lembrar que a Motorola, há três anos, era bastante queimada com o consumidor, resultado dos péssimos smartphones com a terrível interface Motoblur que a norte-americana produzia na época, bem como as frequentes decisões de não liberar atualizações do Android mesmo para aparelhos caros.

Dito isso, dá para afirmar que a Positivo está no caminho certo. O Positivo Octa poderia ter um design mais caprichado, uma bateria de capacidade maior e um software mais refinado, mas tem boas qualidades: o MT6592 entrega um desempenho melhor que a média, a tela não deve em nada até para smartphones mais caros e o uso de vidro na traseira o coloca num patamar superior ao dos concorrentes.

Embora tenha sido lançado por quase mil reais, o Positivo Octa já pode ser encontrado custando entre 700 e 850 reais no varejo, o que o coloca na mesma faixa de preço do Moto G (2ª geração) e Zenfone 5. Ele ainda precisa de alguns ajustes, mas é uma forte opção a ser considerada na sua próxima compra, desde que você tenha consciência das limitações (e não tenha problemas com a marca).

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.000 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0;
  • Dimensões: 140 x 70 x 7,9 mm
  • GPU: Mali–450MP;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB;
  • Memória interna: 8 GB (5,3 GB disponível para o usuário) ou 16 GB;
  • Memória RAM: 1 GB;
  • Peso: 150 gramas
  • Plataforma: Android 4.4.2 (KitKat);
  • Processador: octa-core (Cortex-A7) MediaTek MT6592 de 1,36 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, luminosidade;
  • Tela: IPS LCD de 5 polegadas com resolução de 1280×720 pixels (294 ppi).

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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