Quantum Go: o smartphone bonito e acessível

Primeiro smartphone da fabricante brasileira é boa pedida para quem precisa de espaço e desempenho.
Quantum Go não é livre de defeitos, mas custo-benefício e design caprichado atraem.

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

Criada por funcionários da Positivo, a Quantum é a mais nova fabricante de smartphones do Brasil. O primeiro aparelho da marca, o Quantum Go, tenta imitar o modelo de negócios que deu certo com as gigantes chinesas Xiaomi e Meizu: eliminar intermediários, espremer as margens de lucro e oferecer o melhor hardware possível sem cobrar muito caro por isso.

Custando a partir de R$ 699, o Quantum Go chega ao Brasil com especificações de hardware que enchem os olhos, como o processador octa-core, 2 GB de RAM e pelo menos 16 GB de espaço interno. Por duzentos reais a mais, a memória dobra para 32 GB, algo bastante incomum para um smartphone intermediário. E, mesmo custando pouco, o design caprichado não denuncia que estamos falando de um aparelho básico.

Será que vale a pena? Depois de uma semana usando o Quantum Go como meu aparelho principal, conto minhas impressões nos próximos parágrafos.

Design e tela

O Quantum Go é um smartphone produzido pela Positivo para quem gosta do design da Sony. A carcaça lembra bastante o Xperia Z3, com bordas arredondadas de aspecto metálico e um posicionamento bastante peculiar da câmera traseira e flash LED. Claro que foram feitas algumas economias para que o aparelho tivesse preço acessível: a moldura é feita de plástico e, consequentemente, o acabamento não é tão preciso.

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Para um smartphone que custa a partir de R$ 699, isso não é nenhum demérito: o Quantum Go é um aparelho muito bonito e aparenta ser mais caro do que realmente é. A traseira revestida de vidro com proteção Gorilla Glass 3 reflete a luz elegantemente. O peso de 115 gramas e espessura de 6,5 mm contribuem para a sensação de que o design está acima da média da categoria, ocupada por aparelhos como Moto G e Zenfone 5.

Assim como nos outros smartphones da Positivo, o conector Micro USB fica na parte superior, ao lado da entrada para fone de ouvido de 3,5 mm. A parte inferior abriga duas pequenas grades, uma para o microfone (esquerda) e outra para o alto-falante mono (direita), que emite som alto, embora sem muita definição — é um bom speaker para chamadas viva-voz ou quebrar o galho na hora de assistir à TV, mas você provavelmente não irá querer ouvir músicas nele.

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Na mão, o primeiro aparelho da Quantum é confortável de segurar. As bordas ao redor da tela de 5 polegadas são relativamente finas, o que contribui para deixar o corpo do smartphone mais compacto. Somando isso à espessura de apenas 6,5 mm, a ergonomia é boa. O vidro na traseira, um ponto frequente de reclamações nos smartphones, não foi um problema aqui: a aderência é ótima, e em nenhum momento senti que o aparelho escorregaria.

A tela de 5 polegadas com painel AMOLED de 1280×720 pixels é um misto de sensações. Do lado positivo, há o preto real, que contribui para aprimorar a relação de contraste, economizar energia em algumas situações e melhorar a visibilidade sob a luz do sol — o brilho não é mais alto que a média da categoria, mas o contraste maior do AMOLED colabora bastante nesse cenário.

Mas fazer uma boa tela AMOLED é mais difícil do que fazer uma boa tela LCD. No caso do Quantum Go, ainda que a definição de 294 pixels por polegada seja interessante no papel, na prática não é difícil perceber pequenos pontos ou serrilhados nas bordas de fontes menores. Esse efeito desagradável é causado pelo arranjo PenTile, que teoricamente possui durabilidade maior, mas sacrifica um pouco a qualidade da imagem, especialmente nas telas com resoluções menores.

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Além disso, mesmo no modo de cor padrão, as cores são muito saturadas e alguns tons de vermelho gritam nos olhos (há um modo de cor vívido, que piora a situação). De qualquer forma, para quem se sentir incomodado com a calibração da Quantum, há uma tecnologia chamada MiraVision, da MediaTek, que permite ajustar configurações finas da tela, como contraste, saturação e temperatura de cor.

Não é uma tela ruim, e aqui também entra o gosto pessoal — talvez você goste de cores estouradas ou ache os tons dos LCDs muito lavados, por exemplo. Mas definitivamente não é a melhor da categoria.

Software e multimídia

A Quantum está usando a mesma estratégia que fez a Motorola se reerguer das cinzas: além do preço atraente, um Android quase isento de modificações e recursos que ninguém vai usar. O Quantum Go roda Android 5.1 de fábrica, com possibilidade de atualização para o Marshmallow, e não traz muito mais que o essencial, uma abordagem que me agrada bastante.

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Há poucas mudanças em relação ao Android concebido pelo Google. Os ícones de aplicativos nativos, como Contatos, Telefone e Calculadora, foram modificados para “dar uma identidade” ao aparelho, segundo a fabricante, mas os softwares em si continuam com a mesma interface e as mesmas funções. Alguns poucos programas foram pré-instalados:

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  • Apps Brasileiros: atalho para uma lista de aplicativos desenvolvidos no Brasil, um requisito para obter os benefícios de desoneração de impostos da Lei do Bem (que deve acabar em dezembro para os smartphones).
  • Backup e Restauração: ferramenta para fazer cópias de segurança de contatos, histórico, mensagens de texto e outros dados do sistema. Só pode ser executado com um cartão microSD inserido.
  • DashCam: funciona como uma câmera veicular que filma constantemente o que está se passando. É algo comum na Rússia, mas não pegou no Brasil e nem sei se um dia vai pegar.
  • Gerenciador de arquivos: bem simples, lista seus arquivos por categoria, mas não possui nenhuma integração com serviço de nuvem ou alguma função mais avançada.
  • Gravador de som: salva todas as gravações em OGG.
  • Música: faz pouco sentido quando se tem o Play Música pré-instalado, que também lê arquivos locais, mas funciona bem.
  • Selfie: abre o aplicativo de câmera diretamente na câmera frontal.

Faltou capricho no desenvolvimento dos aplicativos, já que eles usam a interface Holo, lançada na época do Ice Cream Sandwich, não o Material Design, o que cria uma inconsistência visual com o restante do sistema operacional. Alguns deles, como o gravador de som e o player de música, são exatamente os mesmos que vinham com o Positivo Octa X800, um smartphone que rodava Android 4.4.

Um ponto curioso do Quantum Go é que, para usar o recurso de TV digital, é necessário plugar a antena, mas não no conector de fone de ouvido, como é comum nos smartphones da Motorola, Sony e Microsoft: na caixa do aparelho, há um dongle para ser conectado na porta Micro USB (uia!). Trata-se de uma pequena pecinha que processa a transmissão e possui conector para uma antena removível.

Infelizmente, os canais são sintonizados em 1-Seg (320×240 pixels), então a TV digital serve apenas como um quebra-galho, para quando você quiser muito ver algum programa ao vivo e não estiver com uma TV por perto. A Quantum poderia ter sido mais agressiva nesse ponto, uma vez que concorrentes como Moto G de 3ª geração e Galaxy Win 2 Duos TV possuem a capacidade de sintonizar em alta definição.

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Câmera

Todo smartphone acessível tem algum ponto fraco. No caso do Quantum Go, a escolhida parece ter sido a câmera traseira. Embora o sensor com resolução de 13 megapixels encha os olhos, na prática ele decepciona um pouco, mesmo entre os aparelhos da mesma categoria.

Em cenários com iluminação natural ou bastante luz artificial, as fotos agradam, apresentando definição satisfatória e um nível de ruído relativamente baixo. O pós-processamento não é muito agressivo, diferente do que costumamos ver em smartphones dessa faixa de preço, o que permite preservar bons detalhes dos objetos.

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A bronca fica por conta do baixo alcance dinâmico, o que frequentemente estoura as regiões mais claras da imagem. Além disso, o algoritmo da Quantum parece ter uma tendência a subexpor as cenas, o que deixa as fotos mais escuras do que eu gostaria. Mas o pior problema são as fotos noturnas: a definição vai embora e o ruído toma conta do quadro.

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Foi particularmente difícil fotografar à noite com o Quantum Go, porque a câmera tendia a borrar a imagem mesmo segurando o aparelho bem firme e prendendo a respiração. Depois de analisar as fotos e verificar os metadados EXIF, notei que as imagens foram capturadas com abertura f/2,8, bem pequena para os padrões atuais de smartphones — até o Redmi 2, que custa R$ 499, tem lente f/2,2. Com uma abertura menor, o obturador precisa ficar aberto por mais tempo, o que gera esse inconveniente.

Atualização: segundo a Quantum, a lente da câmera traseira tem abertura f/2,0, mas o software possui um bug no preenchimento do EXIF, que acaba sendo registrado como f/2,8. Minhas considerações permanecem as mesmas.

A câmera frontal de 5 megapixels está dentro da média do que esperamos de um smartphone dessa categoria. Mesmo a definição não sendo tão boa, como um sensor com essa resolução pode sugerir, não existem smartphones que capturam selfies muito melhores nessa faixa de preço.

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Hardware e bateria

Se a câmera do Quantum Go não impressiona, o mesmo não pode ser dito do hardware, onde a empresa foi bastante agressiva. O modelo que testei possui chip Mediatek MT6753 de 1,3 GHz, formado por oito núcleos Cortex-A53 (64 bits) e GPU Mali-T720, acompanhado de 2 GB de RAM e 32 GB de armazenamento interno. É uma combinação de hardware que não existe por R$ 899.

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Um ponto a se destacar do processador da MediaTek é que os oito núcleos são ativados sob demanda e todos eles podem alcançar a frequência máxima, diferente do Snapdragon 615, por exemplo, que trabalha numa combinação big.LITTLE, mesclando núcleos de alto desempenho com outros de baixo consumo de energia. Na prática, a performance da arquitetura da MediaTek acaba sendo maior em situações em que os aplicativos em execução usam vários núcleos ao mesmo tempo.

Eis alguns resultados de benchmarks sintéticos para os interessados em números:

A GPU Mali-T720 também faz um bom trabalho. Real Racing 3 rodou com boa taxa de frames, sem engasgos e com pouquíssimos serrilhados. O chip gráfico também consegue oferecer uma boa experiência em Dead Trigger 2 com os gráficos no médio. Em benchmarks, ela apresenta números parecidos com os da Adreno 405, uma GPU presente em aparelhos bem mais caros que o Quantum Go, como o Moto X Play.

O principal ponto positivo do hardware do Quantum Go é a memória flash generosa. Mesmo na versão mais simples, com conexão 3G e preço sugerido de R$ 699, a empresa colocou 16 GB de armazenamento, num segmento em que todas apostam em 8 GB. Ter 32 GB de espaço por R$ 899 é um belo custo-benefício, ainda mais considerando que muitas fabricantes insistem em vender smartphones com 16 GB de espaço por milhares de reais em pleno ano de 2015.

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A bateria de 2.300 mAh não decepciona. Confesso que não esperava muito da autonomia, já que o Positivo Octa X800, que trazia um processador de arquitetura semelhante e capacidade um pouco menor, de 2.000 mAh, era ruim nesse quesito. Mas algumas trocas no Quantum Go, como o painel AMOLED, parecem ter feito a diferença na duração da bateria.

No meu dia de testes com uso pesado de dados, tirei o Quantum Go da tomada às 9h40, ouvi podcasts (Pocket Casts) por streaming no 4G durante 2 horas e naveguei na internet, entre emails, redes sociais e páginas da web, também no 4G, por aproximadamente 1h40min. A tela ficou ligada por 1h51min7s, com brilho no automático. Às 22h50, a carga chegou aos 15%.

É uma autonomia pior que a de aparelhos como o Moto G de 3ª geração, mas ainda é aceitável. Usuários mais avançados, que gostam de jogar no smartphone, provavelmente terão que levar o carregador na mochila, mas é provável que a bateria dure até o final do dia para a maioria das pessoas.

Conclusão

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O Quantum Go é um bom “primeiro aparelho”. Ele deve ser considerado como uma opção de compra caso você esteja procurando um smartphone com design atraente, bom desempenho e muita capacidade de armazenamento, mas não quer gastar tanto dinheiro com um celular.

Cobrando entre R$ 699 e R$ 899, a Quantum conseguiu juntar uma combinação atraente de hardware e funcionalidades. O acabamento agrada, a tela AMOLED chama muito a atenção, o recurso de TV digital ainda é interessante para muitas pessoas e o processador é capaz de rodar qualquer aplicativo ou jogo atual com boa qualidade gráfica, sem enfrentar travamentos.

No entanto, embora a filosofia de vender diretamente ao usuário para cortar gastos seja muito interessante (e espero que outras empresas testem o mesmo caminho), o Quantum Go não é uma revolução no segmento de aparelhos intermediários: as especificações de hardware estão bem acima da média, mas fica claro que foi necessário sacrificar outros componentes, como tela, câmera e bateria, para manter o preço baixo.

Nessa faixa de preço, os principais concorrentes são o Moto G e Zenfone 5, e não há nenhuma escolha que seja melhor para todo mundo. Se você estiver procurando um conjunto mais equilibrado de tela, câmera, bateria e software, provavelmente ficará contente com o Moto G, mas talvez tenha que sacrificar o gigabyte extra de RAM e o armazenamento. Se ainda fizer questão dos 2 GB de RAM e tela boa, pode ir de Zenfone 5, mas terá bateria inferior, software mais poluído e nada de 4G ou TV digital.

Como diria o Alecrim no review do Zenfone Selfie, no final das contas, é tudo uma questão de prioridades.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.300 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G (opcional), Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0, rádio FM, TV digital 1-Seg;
  • Dimensões: 145 x 71,5 x 6,5 mm;
  • GPU: Mali-T720;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB;
  • Memória interna: 16 GB ou 32 GB;
  • Memória RAM: 2 GB;
  • Peso: 115 gramas;
  • Plataforma: Android 5.1 (Lollipop);
  • Processador: octa-core MediaTek MT6753 de 1,3 GHz (4G);
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola;
  • Tela: AMOLED de 5 polegadas com resolução de 1280×720 pixels e proteção Gorilla Glass 3.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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