Rage 2 – Atire primeiro e pergunte depois

RPG de ação e tiroteio da Bethesda traz uma boa mistura de Doom e Far Cry, mas que poderia ter sido bem mais explosiva

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 10 meses
rage 2

Rage 2 dá aos jogadores um mundo aberto pós-apocalipse pronto para te deixar fazer o que quiser e sem ligar tanto para história (mesmo sendo um RPG de ação com shooter). Com muita variedade de customização de armas, veículos e habilidades, aliada a sequências de ação frenéticas e com combos divertidíssimos, o maior “pecado” do game é não ter implementado toda essa agitação de forma mais vasta e menos repetitiva.

Publicado pela Bethesda (Skyrim, Fallout) e desenvolvido pelo Avalanche Studios (Just Cause, Mad Max) em parceria com a id Software (Quake, Wolfenstein, Doom), Rage 2 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. O jogo é single player, em primeira pessoa, e traz a opção de legendas em português do Brasil. Confira o review, a seguir.

Um “novo” pós-apocalipse

Se o primeiro Rage já era o pós-apocalipse, Rage 2 é o pós pós-apocalipse. Resumidamente, é uma nova sociedade fictícia que surgiu depois da quase total aniquilação da vida na Terra. A história, nem de longe, é o foco deste game, mas a critério de curiosidade, os eventos de Rage 2 acontecem décadas após um asteroide ter exterminado 80% da vida no planeta.

Os poucos humanos vivos tentam sobreviver como conseguem e alguns, por exemplo, se agruparam em gangues violentas, que aterrorizam as estradas. Outros formaram pequenas cidades. Como se não bastasse o caos já existente, Rage 2 traz o retorno do Coronel Cross como líder de uma organização mutante e tirânica, chamada de Autoridade. O objetivo de Cross? Adivinha! Isso mesmo, dominar o que sobrou do mundo. Como eu disse antes, a história não é o foco deste game.

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Coronel Cross

Você é Walker (que pode ser um homem ou uma mulher), o último Ranger dos Ermos e é óbvio que cabe ao combatente derrotar o Coronel Cross e tentar levar esperança aos poucos que ainda vivem na Terra devastada. Para isso, você vai literalmente ter que atropelar e explodir muita gente (e alguns mutantes). Também é necessário encontrar três antigos aliados da resistência (Marshall, Loosum e Kvasir), fazer vários favores para eles e, assim, convencê-los a te ajudar a aprimorar seus equipamentos e habilidades.

Nem Walker ou qualquer outro NPC são envolventes o suficiente para você se importar com a narrativa. Não há um desenvolvimento da personalidade do protagonista e ele (ou ela) serve pura e simplesmente como alguém (que poderia ser qualquer um) com várias armas e poderes legais. Também não existe aquela coisa de suas escolhas impactarem no desenrolar da campanha ou no final.

E a história de fundo é basicamente isso. Agora vamos ao que realmente importa, nesse caso: o gameplay.

Exploda tudo e deixe as perguntas de lado

O que mais me chamou a atenção em Rage 2, quando tive meu primeiro contato com o game na E3 2018, foram os tiroteios frenéticos acompanhados por combos de superpoderes e movimentação alucinada. Se você jogou Doom (2016), certamente vai sentir a mão da id Software nos combates deste título. Aquela sensação de por mais que você tente desacelerar um pouco a sensibilidade da câmera, ela ainda continuará rápida. Rage 2 se inspirou bastante na movimentação de Doom.

E por falar em referências a Doom, os momentos de ação e destruição (que poderiam ser bem mais constantes) dão uma satisfação mórbida incrível ao explodir inimigos em pedaços com alguma habilidade, dar um super soco no chão e fazer todos voarem, usar armas poderosas e seus mods especiais, e tudo isso combinado aos relaxantes sons de cabeças pipocando a cada headshot. Muito “gore”? Talvez, mas não tem como descrever os combates em Rage 2 de um jeito fofo.

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Eliminar inimigos em sequência ajuda Walker a encher e carregar o medidor de “especial” do personagem, chamado de Sobremarcha. Ativando essa habilidade, o protagonista entra numa espécie de overdose de ácido e joga nas alturas, por um tempo limitado, seu poder de dano. Inclusive, algumas armas têm ativações especiais quando você está em modo Carreta Furacão. Sobremarcha + superpoderes + ativação especial das armas é um convite ao paraíso (para você, é claro).

Particularmente, fazia tempo que uma sequência de tiros e combos não me era tão divertida em jogos de ação. Esqueça abordagens furtivas (apesar de ser possível jogar assim). O jogo te dá todas as possibilidades de sair atirando em modo berserker, inclusive essa é a melhor forma de recuperar vida e coletar alguns itens – se você desbloquear as habilidades certas. O game te incita a sair de uma possível posição de segurança para enfrentar os inimigos de frente. Em outros jogos, essa estratégia poderia ser suicida, mas não em Rage 2.

A inteligência artificial dos adversários não dará um prêmio de programação a ninguém, especialmente com capangas, às vezes, se perdendo pelo caminho e caindo morro abaixo ou ficando agarrados em escadas ou paredes. Mesmo assim, eles são bem agressivos e vão vir com tudo para cima de você assim que te avistarem.

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Mesmo com toda essa ação frenética, sinto que esse potencial poderia ter sido melhor aproveitado. É potencial de destruição demais para poucos alvos. Digo isso porque você passará um bom tempo rodando com seu carro por aí esperando que algo aconteça, sendo que a verdadeira ação está mesmo atrelada às missões. Até a arena do jogo não é tão emocionante assim. Faltou um lugar especial, tipo uma adaptação do Blood Palace, famoso na série Devil May Cry, para fazer valer tantas possibilidades de combos irados.

A esperança para essa “falta do que destruir”, no momento, vem da própria Bethesda. A empresa afirma que Rage 2 terá uma série de eventos dinâmicos no futuro, além de atividades e outras adições. Esses tais eventos incluirão desafios comunitários de tempo limitado (garantindo recompensas especiais), alterações bizarras no mundo e monstros surpresa, sendo alguns imensos.

A promessa da desenvolvedora, no pós lançamento, também inclui novos veículos, missões, códigos de trapaça (é possível ativá-los no menu), dentre outras novidades. Fica, no entanto, a pergunta do porquê já não ter colocado tudo isso no jogo padrão para aumentar as vendas e, consequentemente, a base de jogadores. Aí sim liberariam mais coisas novas para manter o pessoal jogando. Faria mais sentido.

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Missões, outras atividades e customização

Tudo o que você usa, como armas, habilidades, itens consumíveis, carros e aliados têm upgrades a serem desbloqueados. Isso é ótimo, pois permite uma customização maior do gameplay. O problema é que cada uma dessas categorias necessita de uma espécie de recurso específico para aprimorar.

E é aí que você precisa fazer baixar um espírito coletor para conseguir tudo isso. Boas fontes de recursos estão em missões, contratos (com pessoas nas cidades e em quadros de aviso), monstros, esconderijos de capangas, e etc.

Precisa vender seu lixinho coletado (e ele realmente é chamado de lixo no jogo) e comprar novos itens? Você tem três opções: ir até uma cidade comercial mais próxima, que também serve como ponto de viagem rápida; encontrar máquinas de venda espalhadas pelo mapa; ou encontrando algum vendedor ambulante rodando num veículo, que parece uma van, pelas estradas. Cada comerciante te oferece itens que podem ser únicos.

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Há várias coisas para construir e aprimorar. É possível, por exemplo, comprar projetos de seus aliados usando os pontos que recebeu ao completar missões secundárias de cada um deles. Esses projetos dão diversos benefícios. Conforme encontra outros aliados, você ganha acesso a novos e melhores projetos, com bônus referentes à especialidade de cada novo aliado.

Encontrar certos tipos de missões e atividades vai depender se decidir explorar o mundo primeiro ou ir direto ao primeiro objetivo, pós prólogo. Se aceita um conselho, recomendo ir atrás de algumas Arcas logo de cara. É nelas que você irá desbloquear os superpoderes e conseguir suas armas. Nos baús de Arca também é possível encontrar recursos que desbloqueiam novos poderes para suas habilidades, além de itens raros.

As atividades e pontos de interesse no mapa vão se abrindo aos poucos. Fique de olho também em meteoros, que caem de vez em quando e são excelentes fontes de Feltrita, usada como um dos recursos para aprimorar níveis de habilidades, armas e outros bônus.

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O grande problema das missões é a repetição de objetivos. Por mais que o jogo seja focado em andar, atirar, explodir e coletar, é possível tornar essa experiência mais criativa, quebrando a expectativa do jogador de que tudo está ganho ou com mais inimigos épicos. Por falar nisso, a campanha principal leva mais ou menos umas 20 horas para fechar e boa parte desse tempo será gasto em missões para seus aliados, que só te ajudam se forem ajudados também.

Uma mistura de estilos

Se você tem alguma experiência com jogos do tipo sandbox, ou seja, que dão muita liberdade de exploração ao jogador, além de títulos de ação e RPG, vai notar que Rage 2 é um corte e costura dos vários estilos das empresas que participaram da sua criação.

Além de alguns aspectos do gameplay, como a pesada inspiração em Doom, já mencionada antes, o game é uma mistura do universo de Mad Max e Fallout New Vegas, com pitadas do sarcasmo e a loucura Borderlands, e a paleta de cores de Far Cry New Dawn (esses dois últimos exemplos de jogos não são da Bethesda, mas também se fazem presentes).

Apesar do visual majoritariamente “Wasteland”, ao explorar o mapa é possível encontrar variações do cenário que vão de desertos, a pântanos e bases militares. Tirando algumas quedas de frames ao ativar o turbo do carro e alguns leves travamentos quando muitos elementos explodem ao mesmo tempo, o motor gráfico – desenvolvido pela própria Avalanche Studios – funciona relativamente bem.

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Conclusão

Microtransações desnecessárias à parte, Rage 2 pode ser algo diferente a se jogar para os fãs do estilo de gameplay conhecido em séries como Fallout e Far Cry (ação, exploração, tiros e RPG). Ele é bem divertido, especialmente por ser despretensioso, mas você sente que ele tem potencial para ser muito mais. Espero que a Bethesda cumpra sua promessa de acrescentar mais conteúdo.

Mesmo com um mundo aberto mais vazio que o normal para jogos do tipo, é clara a evolução deste título em relação ao primeiro. Acredito que se o nível de evolução continuar, um possível Rage 3 seria sensacional. Só coloquem mais coisas para atirar e explodir, por favor. É tão relaxante…

Prós

  • Jogo evolui bastante em relação ao antecessor
  • Tirou o melhor do gameplay estilo DOOM
  • Combinação explosiva de poderes e armas

Contras

  • Carisma dos NPCs e do protagonista passa longe
  • Às vezes, leva-se muito tempo para algo acontecer
  • Missões ficam repetitivas bem rápido
Nota Final 7.7
Áudio
7
Desafio
8
Diversão
8
Inovação
7
Jogabilidade
8
Replay
8
Visual
8

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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