Review: The Walking Dead – A House Divided recupera a força da série

Renata Persicheto
Por
• Atualizado há 5 meses
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“Uma casa dividida contra si mesma não para em pé”, disse Abraham Lincoln em seu famoso discurso “A House Divided”, em junho de 1858. Sintomaticamente, A House Divided também é o título do segundo episódio da segunda temporada de The Walking Dead: The Game

Como sempre, é impossível se ater apenas à parte técnica de The Walking Dead. A série maravilhosamente produzida pela Telltale é considerada uma das melhores da história dos videogames, exatamente por conta de seu enredo. Isso quer dizer que, como sempre, teremos que contar um pouco da trama do jogo aqui, para conseguir compartilhar o que de melhor ele tem a oferecer. Em outras palavras, estamos falando de spoilers – Ainda dá tempo de correr! 

Do início de TWD, em meados de 2012, até hoje, muito se falou na evolução de Clementine, a garotinha que protagoniza o jogo. De uma criança inocente de onze anos separada dos pais, Clem amadureceu gradualmente o suficiente para estreitar laços com um total estranho, a quem teve como tutor. Aprendeu a empunhar e atirar com armas de fogo, sobreviveu sozinha em meio a criaturas sanguinolentas e conseguiu conquistar novos grupos de pessoas. No entanto, Clementine sempre aparentou seguir uma linha de pensamento, que aflora neste capítulo: não depender de ninguém.

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Em retrospecto, na segunda temporada de The Walking Dead vimos que a garotinha, após constatar a morte de seus pais e ajudar a por fim no sofrimento de Lee Everett, reencontrou uma dupla de adultos conhecidos e decidiu seguir em frente com eles. Vimos também que esse grupo não durou muito tempo e que logo Clem precisou começar a utilizar a frieza arrecadada nos últimos episódios e fazer escolhas não muito agradáveis (principalmente para uma criança de, agora, 12 anos).

No segundo episódio, Clementine permanece ao lado do grupo complexo de sobreviventes que a acolheu ao final de All That Remains, a fim de encontrar uma reserva onde todos possam viver seus próximos dias protegidos do apocalipse. É aqui, entretanto, em que percebemos que, apesar de todo o foco na menina ter abafado os demais fatores, The Walking Dead evoluiu muito sua narrativa.

Não se veem mais escolhas levianas e diálogos gratuitos, muito menos pessoas desarmadas. A House Divided não inova em jogabilidade, visual ou trilha sonora, mas isso nem de longe chega a ser uma coisa ruim: todas as escolhas, os diálogos e a trama fazem deste o melhor episódio do jogo até agora.

Como sugere o título, o novo grupo de Clem se vê obrigado a deixar sua antiga cabine e perambula pelas montanhas até encontrar uma estação de esqui desativada, onde descobrem morar um segundo grupo que traz de volta um velho conhecido. Identificados como amigos, todos são convidados a partilhar da comida e recursos da casa, desfrutando de conforto (ou pelo menos do mínimo que se pode encontrar de conforto no meio de um apocalipse zumbi) o suficiente para começarem a se abrir e partilhar histórias sobre suas vidas. Aí entra a tal casa dividida: ambos os grupos têm suas peculiaridades e regras pré-definidas, bem como fardos trazidos do passado e os ônus que os acompanham.

É neste episódio que William Carver (cuja voz é feita por Michael Madsen, de Cães de Aluguel) entra para a história, e sua primeira aparição, cercada por mistérios, leva a crer que esse será um personagem importante em outros momentos do jogo. Aqui se faz necessária a menção a uma cena especial: de volta à cabine, Carver, sob um pseudônimo, surge durante a ausência do grupo e enche Clementine de perguntas, demonstrando interesse especialmente em um dos membros do clã: Rebecca, esposa grávida de Alvin. Dividida entre proteger seu novo grupo de desconhecidos e acreditar nas palavras de um completo estranho, neste ponto a garota demonstra a solidificação da personagem. Apesar de percebermos nitidamente sua vulnerabilidade diante do homem, as possíveis respostas de Clem agora fogem de vitimizações e oferecem uma sorte de palavras duras (até um tanto grosseiras).

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Algumas nuances inéditas são trabalhadas em A House Divided. Caso você tenha jogado o conteúdo adicional 400 Days, perceberá a reconexão de outra personagem, também importante no enredo do episódio (e este é um daqueles capítulos melhor aproveitados com todos os saves anteriores carregados). Outro ponto a se comentar é o relacionamento entre dois membros do grupo, Matthew e Walter, que introduzem, ainda que muito sutilmente, a primeira relação homossexual do jogo. Parceiros de longa data, os dois escolheram um local importante para suas histórias para passarem o resto de seus dias, e a gente só se dá conta disso quando já é tarde demais, infelizmente.

Dos episódios clássicos, revisitamos a velha história do “não confie em ninguém” – mais uma vez, a mão que alimenta acaba sendo a que morde e lembramos de por que devemos, em situações de urgência feito um surto de zumbis, esquecermos da conduta da boa vizinhança. Nesse ponto, notamos ainda mais forte a experiência adquirida por Clementine e o quanto a garota está calejada, sendo a única, num grupo de vários adultos, a ter um pingo de bom senso, discernimento e desconfiança.

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Com o foco total nos personagens e em suas particularidades, The Walking Dead: A House Divided dá fim ao traço remanescente da perda de foco que encontramos no desfecho da primeira temporada do jogo, e que permaneceu em All That Remains. Talvez essa, mais do que todas as outras, tenha sido a grande reviravolta do episódio: após uma ascensão estrondosa, a série, para seu padrão, se encontrava em baixa, e o último episódio devolve a ela todos os louros que merece.

Ficha técnica

  • Plataforma: PC, PlayStation 3, Xbox 360, iOS
  • Lançamento mundial: 4 de março de 2014
  • Preço sugerido: R$ 44,99 pela season pass no Steam
  • Desenvolvedor: Telltale Games
  • Distribuidor: Telltale Games
  • Requisitos mínimos: Windows XP Service Pack 3, processador Intel Core 2 Duo de 2 GHz ou equivalente, 3 GB de RAM, GPU ATI ou NVidia com 512 MB, DirectX 9.0c, 2 GB de armazenamento
  • Requisitos recomendados: Windows 7, processador Intel Core 2 Duo de 2,3 Ghz ou equivalente, 4 GB de RAM, GPU ATI ou NVidia com 1024 MB

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Renata Persicheto

Renata Persicheto

Ex-redatora

Renata Persicheto é formada em marketing pela Anhembi Morumbi e trabalhou no Tecnoblog como redatora entre 2013 e 2015. Durante sua passagem, escreveu sobre jogos, inovação e tecnologia. Já fez parte da redação do portal Arena IG e também tem experiência como analista de inteligência de dados.

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