Review Zenfone 3 Deluxe: o meu é mais caro

O smartphone mais caro do Brasil tem a melhor combinação de hardware. É suficiente?

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses

O que fazer com 4.899 reais? Você pode comprar uma moto, passar umas férias em outra cidade ou ficar com o melhor celular da Asus. O Zenfone 3 Deluxe, smartphone mais caro à venda no Brasil, junto com o iPhone 7 Plus, tenta entregar o conjunto mais poderoso de hardware: sua versão mais potente tem 6 GB de RAM, 256 GB de armazenamento interno e um Snapdragon 821.

Qual é o resultado de tanto poder de fogo? Como o Zenfone 3 Deluxe se sai em relação aos seus principais concorrentes? Eu conto nos próximos parágrafos.

Review em vídeo

Design e tela

O design do Zenfone 3 Deluxe mistura a sobriedade na traseira de metal fosco com os reflexos chamativos na parte frontal. A Asus manteve sua linha de design com círculos concêntricos na base do smartphone, que também possui espessura bem fina (7,5 mm), corpo de alumínio e bordas chanfradas.

Um detalhe bacana é que, diferente de outros smartphones de metal, o Zenfone 3 Deluxe não possui faixas desagradáveis nas bordas para a antena do celular — em vez delas, há três pontos escondidos na região chanfrada que quase ninguém percebe no primeiro olhar. Não precisa nem chegar perto para notar que se trata de um aparelho bem sofisticado.

Os botões capacitivos são retroiluminados (aleluia!) e, assim como nos outros smartphones da Asus, o leitor de impressões digitais fica na traseira, talvez a pior localização entre as três possíveis (frontal, traseira e lateral). Se por um lado isso torna o desbloqueio mais natural ao tirar o smartphone do bolso, por outro o sensor biométrico fica praticamente inútil quando o celular está sobre uma superfície — é melhor digitar a senha do que levantar o aparelho só para colocar o dedo ali.

Falando dos defeitos, o smartphone traz uma moldura preta estranha ao redor da tela, que quebra o design (e ainda é assimétrica, sendo maior na parte inferior do que na parte superior). Também senti falta de resistência contra água, uma característica presente em todos os concorrentes, incluindo Galaxy S7 Edge, iPhone 7 Plus, Xperia XZ e Moto Z (este último apenas contra respingos, o que já é melhor que nada). É ruim saber que um descuido pode significar cinco salários mínimos indo embora.

Além disso, a Asus adotou a solução de slot híbrido, exigindo que você escolha entre um chip e um microSD ou dois chips e nenhum microSD. Mas esse ponto pode ser facilmente relevado se você considerar que o aparelho tem 64 ou 256 GB de memória interna, então é pouquíssimo provável que você tenha que recorrer a um cartão.

A tela Super AMOLED de 5,7 polegadas tem resolução de 1920×1080 pixels e apresenta boa qualidade, com brilho forte e preto real. Por padrão, as cores são exibidas no modo Super Cor, com saturação exagerada demais para o meu gosto (os vermelhos gritam nos olhos), mas é possível voltar facilmente para algo mais natural nas configurações do sistema.

Software

O software do Zenfone 3 Deluxe é basicamente o mesmo que acompanha outros smartphones lançados pela Asus em 2016, ou seja, é ruim.

Embora a ZenUI adicione bons recursos ao Android, como os gestos para ligar a tela, um bom gerenciador de arquivos e até gravação de chamada, saltam aos olhos a montanha de inutilidade pré-instalada (como um segundo navegador de terceiro, alguns joguinhos da EA e uma ferramenta de colagem de fotos) e a falta de cuidado, com botões que se sobrepõem a outros elementos da interface e erros como “inconvinientes”, “dados ,óveis” e “diarimamente”, que não deveriam passar numa revisão. Os mesmos problemas existiam no Zenfone 3 e nenhuma correção foi liberada.

É bizarro como “diariamente” foi escrito da forma errada duas vezes (e com erros diferentes)

Há pequenas novidades nas configurações, como o OptiFlex, que aproveita os 6 GB de RAM e mantém determinados aplicativos pré-carregados na memória, agilizando a inicialização. Outra boa adição é o Always-on Panel, que mostra o relógio e prévias de notificações com o aparelho em standby. No entanto, o recurso não é tão bom quanto o Moto Tela, da Lenovo, que suporta aplicativos de terceiros e permite até interagir com o player de música — é uma função mais parecida com o Always-on Display da Samsung, que também possui utilidade limitada.

O software inchado e desleixado, bem como a lentidão histórica na liberação de atualizações mesmo para os principais smartphones da marca, tornam a ZenUI a pior personalização de Android do mercado. Enquanto as concorrentes refinam seus softwares, a Asus seguiu pelo caminho contrário, apenas piorando as coisas do Zenfone 2 para o Zenfone 3.

Câmera

A câmera do Zenfone 3 Deluxe cumpre o que promete, entregando fotos com excelente nível de detalhes em qualquer condição de iluminação. O sensor IMX318 de 23 megapixels da Sony faz um ótimo trabalho, apresentando bom alcance dinâmico e baixo ruído mesmo em ambientes internos e áreas de sombra, sem prejudicar a definição.

A Asus caprichou no pós-processamento, gerando fotos com cores equilibradas e quase sempre acertando a exposição no primeiro clique, que é bem rápido. À noite, a lente com abertura um pouco menor que a dos concorrentes (f/2,0, contra f/1,8 e f/1,7 do iPhone 7 Plus e Galaxy S7 Edge, respectivamente) tende a gerar fotos com mais ruído (devido ao aumento do ISO), mas o nível de detalhes continua bastante satisfatório.

Diferente dos outros Zenfones, como o Zenfone Zoom, é desnecessário recorrer aos inúmeros modos de fotografia da Asus, como HDR Pro e Pouca Luz, para tentar corrigir as deficiências do sensor, já que as imagens têm ótima qualidade no modo automático — mas eles estão ali para quem quiser brincar.

Hardware e bateria

Com Snapdragon 821, 6 GB de RAM e 256 GB de armazenamento, não preciso fazer comentários muito aprofundados sobre o desempenho do Zenfone 3 Deluxe — ele tem a melhor combinação de hardware do mercado brasileiro, um multitarefa otimizado e memórias rápidas. Se ele não rodar um aplicativo ou jogo na Play Store com um pé nas costas, é improvável que outro Android rode. Também há uma versão menos cara, com Snapdragon 820 e 64 GB de espaço, por R$ 3.899, que deve apresentar resultados semelhantes (a diferença no desempenho da CPU é de apenas 10%).

Se a ZenUI fica longe de ser a melhor personalização do mundo, não se pode dizer que ela é lenta. Inclusive, a Asus parece ter feito algumas otimizações para passar a melhor impressão possível: as animações da interface são visivelmente mais rápidas que o normal, como se a fabricante tivesse acelerado de fábrica a escala de animação nas opções de desenvolvedor do Android (mas não, está em 1x mesmo).

O processador mais potente da Qualcomm, aliado à traseira de metal na carcaça fina do Zenfone 3 Deluxe, fazem o aparelho esquentar bastante em tarefas intensas, mas não chega a incomodar nas mãos como o Snapdragon 617 na traseira de vidro do Alcatel Idol 4.

Mas toda essa potência dentro de apenas 7,5 mm de espessura tem um custo: a bateria de 3.000 mAh tem capacidade abaixo do que esperamos para um Android gigante de 5,7 polegadas, já que o principal concorrente, o Galaxy S7 Edge, tem 3.600 mAh. Na prática, os números menores resultam em autonomia apenas satisfatória, do tipo que vai deixar alguns usuários na mão em certos dias — não é tão ruim quanto a do Moto Z, mas também não é o que eu chamaria de “boa”.

No meu dia de teste, eu tirei o Zenfone 3 Deluxe da tomada às 9h, escutei 2h de música por streaming no 4G e naveguei na web por 1h30min, também pela rede móvel. A tela ficou ligada por 1h46min, com brilho no automático. Às 22h10, a carga chegou a 28%. Nas mesmas condições, a bateria maior do Galaxy S7 Edge chega a algo em torno de 45%.

Pelo menos, quando a bateria acabar, o carregamento será bem rápido pela porta USB-C, sendo possível encher o Zenfone 3 Deluxe em menos de 1h30min. Uma carga de zero a 50% não leva mais que 40 minutos pelo carregador de tomada de 18 watts, incluso na caixa.

Conclusão

Mais caro nem sempre é melhor. Isso fica claro com o Zenfone 3 Deluxe. O smartphone poderoso da Asus agrada aos que gostam de números grandes, com o chip mais potente da Qualcomm disponível no mercado, uma capacidade de armazenamento quase infinita para um celular e uma quantidade de RAM que seria suficiente até para abrir duas abas no Chrome. Mas ele não tem a melhor tela, nem a melhor bateria e, principalmente, nem o melhor software.

Assim como nos outros Zenfones, a Asus entrega uma bela peça de hardware, sendo bem competitiva quando falamos de especificações, mas a interface desleixada ainda é um grande ponto negativo dos smartphones da marca. Lixos pré-instalados são até compreensíveis (mas não aceitáveis) em aparelhos mais baratos, quando a margem de lucro é menor e os bloatwares ajudam a custear o aparelho, mas não num smartphone de R$ 4.899. E esse dinheiro também me parece suficiente para contratar um profissional freelancer que revisaria os bugs visuais e a tradução do software.

Além disso, o Zenfone 3 Deluxe me passa a impressão de ser um topo de linha com hardware de 2016, mas projeto de 2015. A bateria de 3.000 mAh é apenas razoável para uma tela gigante e um processador tão poderoso. E a falta de uma certificação IP67 ou IP68 para proteger o aparelho contra água é difícil de engolir, num momento em que smartphones bem mais acessíveis já estão tornando essa característica comum.

O Zenfone 3 Deluxe é um smartphone bom, mas que faz pouco sentido no mercado brasileiro. É pouco provável que ele tenha uma quantidade relevante de compradores por aqui: o aparelho serve mais para mostrar o que a Asus é capaz de fazer do que realmente dar dinheiro com alto volume de vendas. Mas, mesmo assim, alguns refinamentos ainda são necessários.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 23 megapixels (traseira) e 8 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac MIMO, GPS, Bluetooth 4.2, USB-C 3.0, rádio FM, NFC;
  • Dimensões: 156,4 x 77,4 x 7,5 mm;
  • GPU: Adreno 530;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 2 TB;
  • Memória interna: 64 ou 256 GB;
  • Memória RAM: 6 GB;
  • Peso: 160 gramas;
  • Plataforma: Android 6.0.1 Marshmallow;
  • Processador: quad-core Snapdragon 820 de 2,15 GHz ou 821 de 2,4 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola, impressões digitais;
  • Tela: Super AMOLED de 5,7 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels e proteção Gorilla Glass 4.

Review Zenfone 3 Deluxe

Prós

  • Câmera rápida que produz ótimas fotos
  • Melhor hardware de Android no Brasil
  • Tela AMOLED de alto brilho

Contras

  • Android no padrão Asus de qualidade
  • Bateria poderia ser melhor
  • Não tem resistência contra água
Nota Final 8.4
Bateria
8
Câmera
10
Conectividade
9
Desempenho
10
Design
8
Software
5
Tela
9

Receba mais sobre Asus na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

Relacionados