Conversamos com o diretor-geral da Campus Party sobre tudo: infra, segurança, preços e o convidado especial que não veio
Mario Teza revela com exclusividade que Stan Lee quase participou do evento
Faltam cinco dias para o início do maior evento geek do país – e do mundo. A Campus Party acontecerá no Anhembi, em São Paulo, com a presença de quase oito mil campuseiros, como se denominam os participantes do evento. Nessa quinta-feira (24) eu conversei francamente por telefone com o diretor-geral do evento, Mario Teza, sobre os mais variados assuntos. Não houve tabus. Falamos sobre segurança, infraestrutura, credencias, reclamações e muito mais. Teza revela até que o roteirista e mago dos quadrinhos Stan Lee quase participou da edição deste ano. Saiba mais na entrevista exclusiva a seguir.
Qual é o grande destaque na Campus Party?
Todo mundo já conhece a Campus há bastante tempo. Um evento como o nosso tem que se recriar todo ano, como em qualquer evento – tem sua fórmula e tem que se renovar. O destaque pra mim é o aprofundamento dos temas que temos trabalhado ao longo dos anos. Também teremos um foco maior em empreendedorismo. Percebemos que o campuseiro vem amadurecendo e chega numa fase de tentar ser produtivo – seja em casa, seja montando uma startup com amigos. Temos os grandes nomes, como o Buzz Aldrin ou o Woz, mas também temos gente que ninguém nunca viu e que aparecerá na Campus.
A Telefônica patrocina fortemente e tem várias iniciativas no campo do empreendedorismo. Pesou na decisão?
Na primeira edição tínhamos o “Campuseiro Apresenta” no qual o participante mostrava seu projeto e uma banca avaliadora julgava. Não envolvia prêmio ou dinheiro. Ainda assim, investidores estrangeiros apareceram para participar. A segunda edição foi recheada de campuseiros “que inventam”, aqueles que queriam apresentar seu projeto e talvez trabalhar em algum lugar, e os campuseiros “que empreendem”, com o perfil de quem quer montar uma startup.
A Telefônica percebeu esse potencial com o passar do tempo. Eles apoiam outros eventos e decidiram criar a Academia Wayra para fomentar o empreendedorismo. Também lançaram um fundo de investimentos com mais de 200 milhões de euros para participar desse tipo de negócio. A Campus Party tem sido um grande laboratório para a Telefônica, bem como nosso parceiro Sebrae. Trabalharemos com outros grupos que também tenha esse interesse.
Houve reclamação relacionada ao Anhembi no ano passado. Quais são as mudanças?
Hoje nós dominamos um espaço incrível. Esse domínio faz toda a diferença. A própria administração do Anhembi melhorou a infraestrutura: teremos mais banheiros, além daqueles que nós construímos. Fizemos diversos ajustes depois de conhecer a movimentação dentro do pavilhão. A Sabesp nos ajuda no fornecimento de água, pois antes achávamos que a estrutura padrão de lá comportava os chuveiros e os banheiros, mas no fim não se confirmou. Teremos geradores. É como se montássemos uma pequena cidade por cinco dias.
E a acústica? Campus anteriores produziam muito barulho.
As nossas pesquisas mostram melhoria na questão do som de ano a ano. É impossível ter silêncio num evento com quase vinte palcos simultâneos. Isso faz parte do circo que nós montamos. Mas o espaçamento entre os palcos aumentou. Para quem está de fora pode parecer um enorme barulho, mas não haverá dificuldade para o campuseiro que quer acompanhar uma palestra ou painel específico. Outros eventos usam canais de rádio e fones tipo aqueles de tradução simultânea… Você consegue imaginar oito mil pessoas na Campus Party e nenhum barulho? Preferimos não usar essas soluções técnicas. O caos faz parte da nossa metodologia. Neste ano a acústica melhorou ainda mais.
No passado tivemos incidente envolvendo a polícia…
Nós tivemos um caso que foi bastante noticiado, inclusive por vocês. Existe a delegacia voltada para o turista dentro do Anhembi e nós fizemos o procedimento padrão: levamos o acusado às autoridades e foi dado o devido encaminhamento.
Para evitar este tipo de situação nós procuramos deixar o ambiente com mais segurança para que as pessoas curtam o evento. Seguiremos com o controle de segurança, uso de raio X e registro dos equipamentos. O número de agentes de segurança aumentou também. Se pensar bem, os incidentes são pequenos se comparados ao número de dias e número de pessoas que circulam pela Campus.
Nós sempre pedimos o apoio ao campuseiro para que não abandone seus pertences. Os novatos se sentem seguros e acabam afrouxando. Algum incidente pode acontecer. Também contamos com os veículos que nos cobrem para que peçam aos participantes que fiquem atentos. Poxa, fiquem atentos e nos ajudem! Nosso sistema é tão eficiente quanto o de um aeroporto e nunca tivemos algum caso mais grave.
Câmeras de vigilância seriam uma alternativa, não?
Tivemos uma enorme discussão relacionada ao uso de câmeras de segurança e a privacidade envolvida na questão. Chegamos à conclusão de que ainda não é necessário. Nosso esquema atual dá conta. Se for necessário em algum momento, certamente teremos. Serão câmeras aliadas a outras tecnologias, como reconhecimento facial e RFID. Essa questão não é tão simples.
A entrega de credenciais ocorreu conforme o esperado? Reportamos uma baita fila no ano passado.
Aquela fila no ano passado se deve a campuseiros que não acreditaram no nosso sistema de entrega de credenciais pelos correios. Acharam que não chegaria a tempo. Nesse ano a maioria optou por receber em casa, o que evita a primeira fila, na qual checamos a identidade e entregamos a credencial. Em mais algumas edições, o envio pelo correio será obrigatório porque assim nós não perdemos tanto tempo com isso.
Em eventos de outra natureza basta apresentar seu ingresso e está tudo certo. Uma partida de futebol ou show comporta múltiplas entradas. É mostrar o ticket e entrar. Nosso evento requer este incômodo para que depois tenhamos mais tranquilidade.
Falamos das críticas à falta de transparência da Campus Party e da Futura Networks, a organizadora do evento, em especial quando foram divulgados os preços para esta edição. Você tem planos de abrir as contas para os campuseiros?
Nós somos os mais transparentes que podemos ser. Mais do que isso é impossível. Recebemos sugestões para conteúdo que são avaliadas pelo nosso pessoal. Fazemos questão de ressaltar quando uma palestra foi sugerida por campuseiros via nosso site oficial ou a rede social que estamos montando. Financeiramente falando, se o indivíduo participa do ProUni, tem desconto. Falta grana? Também temos as bolsas para demais estudantes. Aquele valor que se paga pelo camping na verdade não pagaria nem uma barraca no varejo. Estamos conscientes de fazer um evento inclusivo e sabemos do valor que podem pagar.
Há regras de sigilo envolvidas. Temos contratos com nossos patrocinadores e devemos zelar também pela imagem deles. Nossa melhor forma de transparência é produzir a Campus com o apoio de patrocinadores e campuseiros, além do nosso esforço. Mas ainda somos uma empresa e há questões de contrato envolvidas.
Você sabe que eu sou um cara da comunidade [de software livre]. Fizemos outros eventos nos quais não podemos simplesmente abrir todas as nossas contas por causa dos patrocínios. Nem por isso a comunidade deixou de participar. Alguns continuam reclamando. Faz parte. Não obrigamos ninguém a concordar conosco. Nossas portas estão abertas.
Quem você gostaria de ver palestrando futuramente na Campus? Algum nome está na sua cabeça, mas nunca rolou de trazê-lo?
Olha só, tem sim! A gente define nossa grade com sugestões dos campuseiros e também com os pioneiros em suas respectivas áreas, em especial tecnologia. Nosso evento reúne as mais variadas tribos.
Não foi possível trazer o Steve Jobs, mas tivemos o Woz. Também estivemos perto de ter o Bill Gates. Talvez junto com o Linus Torvalds, e também o Mark Zuckerberg do Facebook. Sei que o Stallman não gosta de eventos barulhentos, o que me deixa temeroso de convidá-lo. Quase tivemos o Higgs, aquele do bóson.
Estávamos próximos de fechar com o Stan Lee para a Campus desse ano. Nem chegamos a avisar quando iniciamos a venda de ingressos, mas esse é um cara que eu queria muito. Imagina como seria? Aí ele teve um problema de saúde e teve de cancelar a participação por orientação médica. Seria um sonho meu.
A montagem da Campus Party leva quantos dias? E a desmontagem ao fim da festa?
Temos uma montagem remota de equipamentos que começa meses antes. Chegamos ao Anhembi por volta de 15 dias anteriores ao evento. Desmontamos em até cinco dias. Nessa quinta-feira (24) passamos de 60% da montagem e está realmente muito bonito. Acho que construiremos tudo em tempo recorde neste ano.
Como de costume, o TB estará na #cpbr6 trazendo a melhor cobertura do evento. Fique ligado! Este canal especial terá todas as notícias agrupadas. Você já pode conferir o mapa do local e descobrir a conexão que lhe aguarda por lá.