Comissão Europeia: o Spotify está mesmo dando uma ajudinha no combate à pirataria

Mas também está ajudando a reduzir as vendas de músicas digitais, ainda que discretamente

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 9 meses
Spotify

O Spotify está mesmo ajudando a diminuir a pirataria. Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo Centro Comum de Investigação (JRC, na sigla em inglês) da Comissão Europeia com o intuito de avaliar o impacto dos serviços de streaming no mercado de música. Só que a pesquisa também mostra que ainda há algumas pedras no caminho.

Na primeira olhada, esse tipo de estudo pode parecer um desperdício de tempo e dinheiro. Não está claro para todo mundo que o streaming reduz os downloads ilegais? Para nós, meros mortais, a conclusão soa óbvia porque temos como referência o nosso comportamento como consumidores de conteúdo. Mas a Comissão Europeia ansiava por dados concretos para ter uma noção mais exata das dimensões desse segmento.

Para tanto, os pesquisadores do JRC avaliaram os números das vendas de músicas digitais de 8 mil artistas durante 2012 e 2013. Eles também analisaram serviços de torrents para estimar o quanto esse conteúdo foi pirateado nesses mesmos anos. Por fim, todos esses dados foram comparados com as estatísticas de acesso aos acervos desses artistas no Spotify no mesmo período.

A conclusão foi essa: para cada 47 vezes que uma música de um artista foi executada no Spotify, um download a menos da mesma faixa foi realizado ilegalmente via P2P.

Parece pouco, né? Mas se levarmos em conta a quantidade de usuários que o Spotify tem (cerca de 75 milhões, sendo 20 milhões pagantes, segundo dados divulgados em junho) e o tanto de músicas que eles escutam diariamente pelo serviço, não é uma proporção para se ignorar.

Embora esse não tenha sido o foco do estudo, esses dados ajudam reforçar o ponto de vista defendido, por exemplo, por Reed Hasting, fundador e CEO da Netflix: há uma demanda por conteúdo não atendida e isso contribui substancialmente para os números da pirataria.

Pirataria digital

Em outro estudo, desta vez publicado em maio, a Comissão Europeia mostrou que a velha tática de fechar serviços ilegais de compartilhamento de música não funciona: se um site de torrents sai do ar, não demora muito para alternativas virem à tona.

Serviços de streaming foram apontados como uma solução, é claro. A pesquisa de agora ajuda a reforçar essa tese. Mas há um problema: conforme gravadoras, distribuidoras e artistas vêm apontando, a diminuição da pirataria não se traduz necessariamente em aumento de receita.

Entre as vantagens de um serviço de streaming está o fato de que você não precisa se preocupar em baixar as músicas. Um dispositivo com acesso à internet é suficiente. Dá para ouvir as suas faixas preferidas quantas vezes você quiser, pelo menos para quem é assinante de um plano pago.

Isso é positivo, pois indica que o usuário não vê necessidade de fazer downloads ilegais. O problema é que, segundo o estudo, o streaming também está derrubando as vendas de faixas digitais, ou seja, as pessoas estão vendo menos necessidade de adquirir músicas em serviços como iTunes.

Essa constatação seria pouco significativa se não fosse por um detalhe: não é de hoje que indústria fonográfica têm reclamado da remuneração obtida com os contratos de licenciamento estabelecidos com serviços de streaming.

Tamanha insatisfação tem até gerado pressão por parte de gravadoras e afins para que o Spotify, entre outras medidas, limite ainda mais ou mesmo elimine os planos gratuitos de seu serviço. Mas não se preocupe. A empresa vem resistindo bravamente à ideia sob o argumento de que a modalidade gratuita é uma vitrine para os planos pagos.

O efeito do streaming sobre as vendas de músicas digitais não quer dizer que o modelo de negócio seguido por Spotify e outras empresas do ramo está ameaçado. Não dá para deixar a proporção passar despercebida, por outro lado, ela não é grande: o JRC estima que, para cada 137 vezes que determinada música foi ouvida via Spotify, uma venda da mesma faixa em versão digital deixou de ser feita. O efeito sobre a pirataria continua sendo mais relevante, consequentemente.

Esse estudo, por si só, não é suficiente para que possamos ter real noção do impacto do streaming na indústria da música, mas indica que essa modalidade é mesmo um caminho a ser seguido. O que é necessário agora é encontrar uma fórmula que torne esse tipo de serviço uma solução que agrade todas as partes: consumidores, artistas, gravadoras e canais de transmissão.

Loja de CD

Chegar a um consenso não é uma tarefa fácil, afinal, serviços de streaming ainda não têm conseguido gerar lucro, portanto, não basta simplesmente aumentar a remuneração dos contratos. No outro extremo, gravadoras e afins, de certa forma, ainda almejam as cifras generosas da época em que a venda de álbuns em mídia física era o que regia o mercado.

Hoje, o consumidor está mais interessado em playlists que reúnem apenas as músicas que lhe agradam. Álbuns inteiros continuam importantes para aqueles que querem apreciar o conjunto da obra, mas ninguém mais precisa comprar um disco somente para ter acesso a duas ou três músicas de seu interesse.

Por essa e outras razões, pouco provavelmente a indústria fonográfica voltará a ter a lucratividade de outrora. Nesse sentido, o estudo da Comissão Europeia talvez ajude a deixar claro que o segmento de streaming pode ainda estar imaturo, mas, dadas as circunstâncias, é o melhor aliado a se ter.

Com informações: Ars Technica, TorrentFreak

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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