60% do tráfego online de bitcoin passa por 3 operadoras, mostra estudo

Pesquisa indica que redes de criptomoedas, incluindo o blockchain do bitcoin (BTC), não são tão descentralizadas quanto imaginávamos

Bruno Ignacio

Uma das principais e mais vantajosas características das criptomoedas é oferecer um sistema descentralizado. Ou seja, teoricamente, as moedas digitais não estão sob o controle de nenhuma empresa ou banco central. No entanto, um estudo recente diz que há “centralidades não intencionais” nessa tecnologia, apontando que 60% do tráfego de bitcoin (BTC) se concentra em apenas três operadoras de internet.

Bitcoin
Bitcoin (Imagem: Dmitry Demidko/Unsplash)

Os resultados foram apresentados nesta semana em um relatório da Trail of Bits, a empresa de pesquisa de segurança de software que trabalhou na pesquisa encomendada pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA). O estudo indica que o sistema financeiro em blockchain não é tão descentralizado enquanto existem pessoas ou organizações que detém a maioria das criptomoedas.

As “centralidades não intencionais” no blockchain

Em entrevista à NPR, o CEO da Trail of Bits, Dan Guido, disse que a crença amplamente aceita no mercado de que as moedas digitais são descentralizadas não é completamente verdadeira. “Foi dado como certo que o blockchain é imutável e descentralizado, porque a comunidade diz isso”, afirmou.

A empresa definiu esse fenômeno como “centralidades não intencionais”. Trata-se de uma circunstância em que uma ou mais entidades dominam um sistema descentralizado, como o blockchain de uma criptomoeda. Dessa forma, o estudo aponta que, se houver interesse, esses controladores teriam a oportunidade de adulterar os registros “imutáveis” e considerados extremamente seguros das moedas digitais.

Representação de rede blockchain a partir de uma roda de computadores conectados
Uma rede blockchain é sustentada por múltiplos computadores em todo o mundo (Imagem: Tumisu/Pixabay)

Maior parte do tráfego de BTC passa por 3 operadoras

Como o principal exemplo dessa condição, o relatório aponta que apenas três operadoras de internet concentram 60% de todo o tráfego de bitcoin no mundo. Sendo assim, uma rede blockchain pode sofrer seriamente se um regulador de comunicações, um hacker ou outra pessoa de dentro dessas empresas decidir desacelerar ou interromper o tráfego do ativo.

O estudo também identificou outros pontos fracos na própria rede dessa criptomoeda. Segundo os pesquisadores, 21% dos nós (nodes) do blockchain do bitcoin executa uma versão antiga e mais vulnerável do sistema principal do ativo digital. Se descobertos, esses nós podem se tornar alvos de hackers, ainda que uma invasão bem sucedida seja bem improvável pelo tamanho da rede.

Tudo isso não significa que o blockchain não cumpre o que promete. Essas redes ainda trazem benefícios, mas nem tudo é como imaginávamos. Conforme evidenciado pela pesquisa encomendada pela DARPA, a tecnologia descentralizada por trás das criptomoedas possui suas falhas.

Enquanto existirem as chamadas “baleias” (whales), poucas contas que detém grande parte das moedas digitais em circulação, as “centralidades não intencionais” continuarão ocorrendo.

Com informações: Engadget

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.