Activision Blizzard contrata empresa conhecida por destruir sindicatos
Depois de ajudar a Amazon a impedir a formação de sindicatos, a WilmerHale deve "revisar" as políticas de RH da Activision Blizzard
Depois de ajudar a Amazon a impedir a formação de sindicatos, a WilmerHale deve "revisar" as políticas de RH da Activision Blizzard
Após prometer a criação de um ambiente de trabalho mais respeitoso e inclusivo para os funcionários, a Activision Blizzard deu um passo para trás nessa jornada. Para “revisar” as políticas de RH da empresa, a desenvolvedora de Call of Duty e World of Warcraft contratou um escritório de advocacia chamado WilmerHale — conhecido por destruir e impedir a formação de sindicatos de trabalhadores.
A possível sindicalização dos trabalhadores da Activision Blizzard foi um dos principais assuntos durante a greve e a passeata que aconteceram na última quarta-feira (28). Até mesmo funcionários da Ubisoft assinaram uma carta aberta em apoio às vítimas de abuso, cujo texto também sugeria a união de profissionais da indústria de videogames.
Nos últimos anos, empresas do setor de tecnologia têm enfrentado denúncias frequentes em relação a condições de trabalho precárias, como casos de descriminação, assédio sexual, demissões em massa e “crunch”. Com a formação de um sindicato, os trabalhadores poderiam conhecer seus direitos e exigir mudanças reais dos grandes empresários.
O problema é que, em vez de ouvir as demandas dos funcionários durante a greve, o CEO da Activision Blizzard, Robert “Bobby” Kotick, preferiu recorrer a um escritório de advocacia com reputação de violar sindicatos para lidar com os relatos de práticas discriminatórias e assédio sexual na empresa.
Ao Kotaku, um representante da Activision Blizzard disse que a WilmerHale seria responsável por “ajudar organizações a fortalecerem seus ambientes de trabalho, melhorando políticas e procedimentos relacionados a questões de discriminação, assédio e represália”. Porém, o histórico da agência não é tão simples assim.
Como destacado pelo usuário @JDespland, no Twitter, a WilmerHale foi a mesma empresa contratada pela Amazon para impedir que os funcionários da gigante do e-commerce se sindicalizassem, em fevereiro deste ano.
Além disso, o escritório de advocacia já representou outros clientes poderosos, como diversos bancos suíços acusados de lucrar com o Holocausto e empresas alemãs denunciadas por trabalho escravo durante o regime nazista.
Activision-Blizzard is working with a union-busting firm, "Wilmerhale" – the same one that Amazon is using. pic.twitter.com/lUTDThV77g
— Joachim (@JDespland) July 29, 2021
No serviço público dos EUA, a WilmerHale também é bastante presente. A advogada Stephanie Avakian — escolhida para liderar o processo de revisão das políticas da Activision Blizzard — já atuou como diretora de fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos durante o governo Trump.
No próprio site da WilmerHale, na seção “Executive and Workforce Training”, a empresa cita com orgulho seu trabalho de “aconselhamento sobre conscientização e prevenção sindical” entre os serviços prestados. O escritório também destaca trabalhos anteriores nos quais defendeu companhias que receberam denúncias parecidas com as da Activision Blizzard.
Nem Kottick nem a Activision Blizzard se pronunciaram sobre o papel real da WilmerHale na empresa, por enquanto. Na última greve, mais de 2 mil trabalhadores e ex-funcionários da desenvolvedora se uniram em prol de igualdade salarial entre gêneros, além de incentivo à diversidade e inclusão em contratações e promoções.