Combatendo bitcoin, China já levou yuan digital para 20% da população

Com proibição de bitcoin e outras criptomoedas, China impulsiona base de usuários de carteira do yuan digital para competir com AliPay e WeChat Pay

Pedro Knoth
Por

O aplicativo da carteira do yuan digital tem adesão cada vez maior dos chineses. O app, criado pelo People’s Bank of China (PBOC, ou Banco do Povo da China, em tradução literal), é um dos mais baixados do país, com 261 milhões de contas individuais abertas — ou um quinto da população da China —, sem contar as empresas cadastradas. O governo quer desassociar moeda digital dos criptoativos, como bitcoin, que são proibidos em território chinês.

Yuan digital é diferente de bitcoin e criptomoedas

O yuan digital vem se popularizando na China como um meio alternativo de pagamento às carteiras digitais já presentes, como Alipay e WeChat Pay. De acordo com Zou Lan, diretora de mercado financeiro do PBOC, usuários do e-CNY — carteira digital do banco central — já movimentaram mais de 87,5 bilhões de yuans — o equivalente a US$ 13,78 bilhões.

Pelos últimos dois anos, a China colocou o yuan digital em fase de testes, realizando programas piloto em diversas cidades do país, como Shenzhen.

Antes, para se tornar um usuário da e-CNY, era necessário fazer uma aplicação em um teste, que levava ao cadastro em uma fila. Mas isso acabou em 2022, quando o banco central decidiu disponibilizar a carteira do yuan digital para iOS e Android, na tentativa de acelerar o desenvolvimento do moeda.

A e-CNY tem o objetivo de diversificar as formas de pagamento permitidas pelo PBOC, satisfazer a demanda do público chinês por uma moeda digital e pavimentar o caminho para inclusão financeira.

A ansiedade do chinês por uma moeda digital aumentou em julho de 2021. Na época, a China proibiu todas as transações com bitcoin, ether e outros criptoativos. Isso porque, segundo o governo chinês, eles são usados para fins ilícitos, como lavagem de dinheiro, além de serem voláteis, altamente especulativos e sem valor intrínseco.

AliPay e WeChat Pay disputam mercado com e-CNY

Um documento criado pelo time de Pesquisa & Desenvolvimento da e-CNY aponta que o yuan digital também visa agilizar transações feitas e recebidas do exterior. Isso sem agir de forma anticompetitiva com Alipay e WeChat Pay.

O BPOC alega que a moeda digital seria funcionaria de forma complementar às carteiras digitais. Por exemplo, pequenos depósitos de yuan digital poderiam ser efetuados de forma anônima, como funciona com pagamento em dinheiro físico. Outra função seria eliminar a corrupção em gastos públicos, pois valores transferidos entre um governo provincial e uma cidade poderiam ser rastreados.

Aplicativo de carteira do yuan digital, desenvolvido pelo banco central da China (Imagem: Reprodução/ App Store)

Em um segundo passo do programa de testes, o banco central quer que chineses façam operações com o yuan digital sem estarem conectados à internet.

Mesmo com o app disponível para download, apenas usuários de uma lista de cidades do projeto piloto da e-CNY podem abrir uma conta, depositar dinheiro e fazer transações. São 8 milhões de cenários de teste que aceitam o pagamento em yuan digital, dentre eles realizar compras na Alibaba ou pagar corridas no Didi.

Para depositar dinheiro na conta da e-CNY, o cliente deve fazer uma transferência de um dos bancos autorizados pelo BPOC para movimentar o yuan digital. Essa permissão já foi concedida e dois bancos populares na China: o WeBank, da Tencent, e o MyBank, do Ant Group, afiliado ao Alibaba.

Resta saber se a carteira do yuan digital terá a uma melhoria na experiência de usuário para competir com os aplicativos das varejistas chinesas e conquistar uma base ainda maior de clientes.

Com informações: TechCrunch

Relacionados

Escrito por

Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

Temas populares