Review Final Fantasy VII Remake – De volta à Midgar

Final Fantasy VII Remake entrega um ótimo RPG, bem mais emotivo, com gameplay renovado e sem pressa de acabar

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 3 meses
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O Final Fantasy VII original (1997) é tido como um dos jogos mais marcantes de todos os tempos, mesmo ele não sendo o preferido de todos os fãs da franquia da Square Enix. Dada a fama do título, o hype por este remake não poderia ser maior e a espera valeu a pena: com algumas novidades, mas mantendo a essência do que cativou no game de 23 anos, Final Fantasy VII Remake é um presente para quem já o conhece e também para os novatos na cidade de Midgar.

FFVII Remake é exclusivo do PS4 (ao menos por enquanto) e, infelizmente, não traz dublagem em PT-BR. Para ter as legendas em português você precisa alterar o idioma do console para PT-BR.

Este review não tem spoilers! 😉

Midgar: o progresso e o caos

Essa primeira parte de FFVII Remake (sim, porque a história não termina quando o jogo “acaba”) se passa na cidade capital de Midgar. Neste local também se encontra a base de operações da Shinra, uma gigantesca e poderosa companhia de energia que usa o Lifestream, substância etérea responsável pela vida no planeta do jogo (Gaia), para alimentar seus reatores.

O problema disso, segundo os revolucionários do grupo Avalanche, é que a Shinra extrai essa essência de forma gananciosa e descontrolada – o que potencialmente levará o mundo à extinção. E é aí que você começa o jogo, no controle do mercenário (e ex-Soldado) Cloud Strife. Ele foi inicialmente contratado, como visto na versão demo do game, para ajudar uma equipe da Avalanche (liderada por Barret Wallace) a explodir o reator do Setor 5.

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O interessante de Midgar é também observar, claramente, a divisão e a diferença de classes sociais. Você tem a cidade alta, onde os mais poderosos e principais trabalhadores da Shinra residem e a chamada cidade baixa, que o jogo chama de “Slums”. Em bom português, favela mesmo.

Bom, acredito que se você é um fã já deve conhecer bem essa história e, para os novatos em Final Fantasy, é sempre bom deixar algum mistério. No entanto, o que eu gostaria de ressaltar mesmo neste remake é todo o cuidado dos desenvolvedores em aprofundar os backgrounds de alguns personagens, em relação ao game original.

Saber mais do passado de algum deles, mesmo que por flashbacks ou devaneios com o Sephiroth (no caso do Cloud), ajuda o jogador a criar mais empatia por eles e até entender alguns comportamentos mais excêntricos ou introvertidos.

Os laços de amizade, e até alguns flertes, estão bem mais tocantes agora e, por vezes, você vai soltar um sorrisinho em algumas cenas mais românticas (ou o mais próximo disso possível), rir em alguns momentos de descontração ou com as meninas tirando uma onda com a cara do Cloud (e ele sem saber direito como reagir).

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Se emocionar… É basicamente isso que o game procura estimular em você com a narrativa.

PS: alguém precisa criar um fã-clube para o Wedge e seus gatinhos!

Gameplay: bom híbrido entre a ação e o tático

Alguns jogadores veteranos ficaram receosos em relação à mudança no gameplay por turnos (do título de 1997) para algo envolvendo mais ação, neste remake. No fim das contas, o que fizeram foi um híbrido entre os dois mundos que funcionou bem, dentro da nova estética do game.

Os combates ganharam mais fluidez, mas sem perder a parte tática de escolher o melhor momento para trocar de personagem controlado ou de escolher alguma magia, por exemplo.

Vale deixar claro que, por mais que tenha ação, FFVII Remake não é um “esmaga botão”, como um Devil May Cry da vida. Isso até pode resolver ao enfrentar inimigos fracos, mas martelar somente o quadrado em qualquer outra situação pode complicar muito o seu lado.

Acessar a parte tática do combate colocará toda a cena em câmera lenta, o que te dará um breve momento para analisar qual melhor magia usar, golpe especial ou mesmo escolher a quem curar, dentre outras opções.

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Há alguns atalhos no controle também para trocas mais dinâmicas e combos especiais, que você desbloqueia conforme alcança proficiência nas armas (que não são muitas). Resumidamente, o “segredo” para ser mais eficaz nas batalhas é descobrir o ponto fraco dos oponentes.

Se tiver alguma matéria (orbes que desbloqueiam diferentes skills) equipada que te dê a habilidade de ver as fraquezas do inimigo, use-a para ajudar a escolher o melhor ataque em situações de aperto. Falarei mais sobre matéria e os benefícios de aprimorá-las adiante.

Acertar um crítico pode colocar seu adversário em modo “staggered” (algo como “desnorteado” ou “cambaleando”), ou seja, ele ficará impossibilitado de atacar por alguns segundos e com a guarda totalmente aberta para golpes devastadores da sua equipe. Esse é o seu momento de brilhar e dar o máximo de dano possível, sem correr o risco de contra-ataque.

É importante saber, no entanto, que você não poderá usar magias, golpes especiais ou mesmo itens comuns a qualquer momento e quando você quiser (em modo combate). É necessário causar dano até para ter a possibilidade de se curar. Ataques básicos ajudam a carregar sua barra de ATB, que permite usar skills únicas das armas do seu time, além de spells e itens.

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Pode parecer complicado, no início, mas é algo que você conseguirá ter um bom controle ao longo da campanha. Meu único obstáculo, nesse novo sistema de combate, foi a câmera. Inclusive, esses é um dos pontos baixos de todo o jogo – na minha opinião.

É possível fixar a mira num inimigo e até aí tudo ótimo, pois você conseguirá segui-lo com mais facilidade. Mas se o seu adversário resolver, do nada, sumir do campo de visão ao preparar um ataque especial, é bem capaz da câmera ficar perdida apontando para uma parede, para o chão, para o além, menos para o bicho.

Por conta disso, optei por jogar sem fixar a câmera, na maioria das vezes, e só usei o recurso quando havia apenas um adversário grande e com partes do corpo quebráveis.

Sua party é sua família: cuide bem dela!

Sua party vai variar durante todo o jogo, em combinações geralmente de dois ou três entre os personagens: Cloud Strife, Barret Wallace, Tifa Lockhart e Aerith Gainsborough. Há momentos em que você jogará solo também. O mais interessante é que nem sempre Cloud será o principal a ser controlado. Este é mais um motivo para ter sempre todos esses quatro bem preparados.

No menu de pausa, você poderá equipar acessórios e armas a cada um deles. Há mais acessórios disponíveis do que armas, mas dada as possibilidades de upgrades você nem sentirá tanta falta.

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Para despertar as habilidades especiais de cada arma você precisa preencher os pré-requisitos dela. Geralmente envolvem uma certa quantidade de vezes que precisa realizar determinado combo e por aí vai. Cada arma tem sua própria skill tree.

Conforme subir de nível, seu personagem acumula Skill Points (SP) para investir em upgrades de arma. Eles refletem na ficha do personagem também. Por exemplo, ao desbloquear +100 HP de uma espada, automaticamente, esse número passa a contar para Cloud – que é o único dos quatro jogáveis que usa esse equipamento.

Distribua os pontos de acordo com seu estilo de combate. Não há uma forma certa de fazê-lo. Você acaba se guiando mais pelo perfil de cada um. Cloud é mais striker, Barret é longa distância, Tifa é corpo a corpo e Aerith tem um perfil mais de healer. É interessante ter papéis versáteis para organizar melhor sua estratégia.

Além dos upgrades, é importante coletar e adicionar matérias (os tais orbes que falei antes) às armas e acessórios. Você pode encontrar matérias espalhadas pelo cenário ou comprar em alguns comerciantes específicos.

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Com elas, é possível desbloquear várias tipos de magias para os personagens que as têm equipadas, como: ataques elementais, cura, armadura, boosts em HP e MP, e etc. Quanto mais você usa uma matéria equipada, mais ela evolui e – dependendo da raridade – desbloqueia um efeito mais forte.

Ao passar da campanha, você terá acesso a matérias para invocar criaturas aliadas (summons). Quando estiver diante de uma batalha mais difícil, um medidor de summon começará a se preencher na tela. Quando ele estiver completo, você poderá chamar essa criatura para te ajudar, por um período de tempo. Antes de ir embora, este aliado executará um último ataque cinematográfico e devastador.

Exploração limitada e sidequests tediosas (na maioria)

Final Fantasy VII Remake é dividido em capítulos e não é um game de mundo aberto, inclusive o mapa é até simples. Os poucos locais “exploráveis” já ficam no meio do caminho de alguma missão, então nem se pode chamá-los de secretos em si.

Você sente, a todo momento, o jogo te puxando de volta para o roteiro traçado – com alguns NPCs até gritando algo do tipo “por que está indo por aí?”. E nem adianta tentar desobedecer.

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Ainda sobre tentar explorar alguma coisa, mais uma vez o ângulo da câmera dá um show de irritação. Algumas vezes ela simplesmente te “segura pela cabeça” e te faz olhar para onde ela quer e pronto.

Em um certo momento, eu queria admirar um lindo jardim a minha volta (para garantir um print legal), mas a câmera simplesmente não permitiu que eu girasse meu personagem no eixo, me forçando a continuar andando adiante. Por que isso? Me deixa ver o matinho em paz!

Sidequests, puzzles e minigames

Não tenho críticas em relação ao desenrolar das missões principais, felizmente. Todas são conduzidas dentro do contexto de cada capítulo, intercalando sequências de mais ação, aflição e urgência, com momentos de respiro e até mais contemplativas. Não há muitos puzzles e, particularmente, não encontrei nenhuma complexidade em resolvê-los.

Meu problema foi com algumas sidequests que praticamente só consomem o seu tempo (e bota tempo nisso). A justificativa do jogo é para você ganhar mais reputação com a comunidade local, em troca de alguns prêmios que nem são lá tão indispensáveis assim.

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Tirando uma missão opcional dessas ou outra, como a de ajudar um NPC para ganhar uma arma nova ou com pesquisas para desenvolver novas matérias, as demais não acrescentam quase nada à narrativa, como: encontrar os gatos de uma menina, matar ratos, chamar as crianças de volta para a escola e coisas do tipo.

As coisas se tornam mais interessantes, em relação a atividades extras, ao chegar no Wall Market, no centro do Setor 6. Essa é uma área puramente voltada à diversão (e coisinhas ilegais), onde há uma arena bem peculiar (depois entenderão o porquê) que você participará como parte da história principal, mas que poderá voltar outras vezes.

Há alguns minigames e quick time events nessa região também, mas eles servem mais para você se divertir, tirando Cloud da sua zona de conforto, do que qualquer outra coisa.

Trilha sonora fenomenal e visual justo

Toda a trilha sonora que envolve esse jogo é maravilhosa, fantástica ou qualquer outro elogio que queira inserir aqui. Fazia tempo que as melodias de um game não me cativavam tanto, de forma a controlar meus próprios sentimentos em cada cena. Tive crises de ansiedade em sequências de fuga, quase que entrei em estado de meditação nos momentos mais calmos e também me fez sentir dentro de uma batalha, com os tons mais épicos.

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A música de Final Fantasy VII Remake emociona tanto quanto a narrativa e seus personagens. Se o jogo não ganhar algum prêmio, ao menos nessa categoria, é o fim do mundo mesmo!

Visualmente, FFVII Remake faz um bom serviço, especialmente considerando-se que ele foi refeito do zero, em relação ao original. Não há nada de extremamente memorável, mas foi feito um bom trabalho. Notei algumas quedas de frames, em momentos de mais ação e, principalmente, problemas com as texturas de alguns objetos. Vi algumas portas e veículos nas favelas que pareciam ter sido pintadas com giz de cera.

Conclusão

Preciso admitir que, para alguém que nunca foi uma fã da franquia Final Fantasy, eu me diverti com FFVII Remake mais do que sequer imaginaria na vida. Tirando a maioria das sidequests consumidoras de tempo e a câmera autoritária, este é um jogo memorável (mesmo ainda incompleto) e com personagens muito cativantes. Por vezes, senti vontade de abraçá-los e dizer que precisavam ser fortes, mesmo com todas as adversidades.

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Ao terminar o game pela primeira vez, você tem a oportunidade de revisitar capítulos anteriores e terminar o que precisar (como encontrar todos os gatinhos da menininha). Há várias cutscenes também, a maioria fazendo um ótimo trabalho ao iniciar e finalizar os capítulos, bem como mostrar todas as transformações de chefes de fase mais poderosos.

A história pode ficar um pouco confusa, para os novatos, mas nada que vá comprometer a experiência. As coisas vão se explicando aos poucos e com o passar do tempo. Inclusive, você não pode ter pressa para terminar, pois quase tudo acontece devagar e os acontecimentos são mostrados gradativamente. É uma narrativa mais lenta, mas mesmo assim interessante.

Por fim, Final Fantasy VII Remake é um game que merece ser jogado e apreciado dentro do tempo de cada um. Estou agora muito curiosa para saber como os desenvolvedores vão mostrar o que está por vir!

Prós

  • Personagens estão bem mais envolventes
  • Narrativa principal te prende do início ao fim
  • Estilo de combate híbrido (ação e tático)
  • Cloud de vestido com cara de paisagem <3

Contras

  • A maioria das sidequets são um sonífero consumidor de tempo
  • Câmera ditadora que não te deixa explorar direito
  • Texturas mal acabadas de alguns objetos
  • Faltou uma dublagem para PT-BR
Nota Final 9
Áudio
10
Desafio
9
Diversão
10
Inovação
9
Jogabilidade
9
Replay
8
Visual
8

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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