Cuidado com o Pix falso: golpistas agendam transferência e cancelam depois

Agendamento de Pix e comprovantes falsos são usados para aplicar golpes; especialistas recomendam verificar todas as informações ao fazer transferências

Bruno Gall De Blasi
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• Atualizado há 11 meses
Cuidado com o Pix falso: golpistas agendam transferência e cancelam depois (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Cuidado com o Pix falso: golpistas agendam transferência e cancelam depois (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Pix garante inúmeras facilidades. Além da gratuidade, a plataforma oferece transações imediatas até mesmo de madrugada. Mas a simplicidade também abre portas para usos indevidos. E acredite: há quem utilize o agendamento de transferências para enganar atendentes, vendedores, taxistas e afins, para fazer compras ou contratar serviços sem gastar um centavo.

Descobri essa prática em um táxi no Rio de Janeiro (RJ). Durante a corrida, o motorista me contou que já lidou com passageiros que programam um Pix em vez de fazer o pagamento imediato. Depois, a transferência é cancelada e o taxista nunca vê a cor do dinheiro, caso não verifique a sua conta imediatamente.

Outros relatos aparecem em redes sociais. Pelo Twitter, uma pessoa alegou que, ao fazer uma venda, o cliente chegou a apresentar o comprovante da transação. Mas, em seguida, descobriu que tomou um prejuízo de R$ 50, pois se tratava de um agendamento de um Pix que foi cancelado em seguida, e não uma transferência. 

Diante da situação, outros usuários chegaram a oferecer dicas para evitar o contratempo. “Pede sempre para ver o comprovante de pagamento. Tem gente que agenda o pagamento de má fé, porque Pix agendado pode ser cancelado”, disse uma pessoa.

Teve até um tweet que destacou alguns gargalos para usar a plataforma do Banco Central (BC) nessas situações:

https://twitter.com/rafaels_dev/status/1542127290607407104

Pix falso já causou prejuízo de R$ 80 mil em mercado

O assunto também apareceu na imprensa regional. Em 15 de setembro, o Correio Braziliense reportou um caso de uma pessoa que foi presa em Minas Gerais após aplicar um golpe para comprar cabelos. Na ocasião, a golpista programou uma transferência de R$ 40 mil que nunca chegou à conta da vendedora. 

Um supermercado de Jaraguá do Sul (SC) foi outra vítima, segundo o ND Mais. Em 2021, um cliente fez várias compras com o Pix, mas o dinheiro nunca apareceu. Seis meses depois, o estabelecimento descobriu o golpe, mas sofreu um prejuízo de R$ 80 mil. 

Outro caso de “Pix falso” foi noticiado pelo Diário do Nordeste. Em 2020, uma pessoa usou um comprovante falso de R$ 402,80 ao fazer uma compra em uma loja de maquiagens pelo WhatsApp. Para despistar a vítima, a autora do golpe ainda fez um Pix de R$ 0,01 para que o banco emitisse uma notificação da transferência. 

Não, não é possível cancelar um Pix (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Não, não é possível cancelar um Pix (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Mas, afinal, é possível cancelar um Pix?

Diante dos relatos, algumas pessoas se perguntaram nas redes sociais se existe uma opção para anular um Pix já efetuado. “Não sabia que dava para cancelar Pix”, questionou um usuário do Twitter. “Não concluíram a operação, então”, comentou outra pessoa sobre um caso de agendamento cancelado após uma compra.

Outros temem por esse tipo de fraude. “Queria muito saber como fazem isso. Porque vi milhares de vendedores falando desse golpe e eu, como vendedora, também tenho medo de que aconteça comigo”, desabafou mais uma pessoa na rede social.

Bem, logo de cara, já posso te dizer: não dá para cancelar um Pix. E a confirmação parte da gerente de inovação e tecnologia da Febraban, Carolina Sansão: “o golpista não cancela a transferência, ele cancela o agendamento realizado”, disse ao Tecnoblog

“É importante ressaltar que quando se trata de um agendamento, no comprovante do cliente que faz o Pix, claramente está escrito que se trata de um ‘agendamento realizado’ e não uma transação realizada”, afirmou.

A gerente ainda ressalta que “as transações Pix são irreversíveis após a sua efetivação”. Sendo assim, o pagador não consegue cancelar a operação, com exceção do agendamento, pois o valor sequer saiu da conta. “O cancelamento não é da transação, mas sim da programação do pagamento”, concluiu.

Verifique todas as informações antes e depois de fazer um Pix (Imagem: terimakasih0/Pixabay)
Verifique todas as informações antes e depois de fazer um Pix (Imagem: terimakasih0/Pixabay)

Mas o que fazer para se precaver desses golpes?

Ao Tecnoblog, Daniel Barbosa, especialista em segurança da informação da ESET, ressalta que boa parte dos golpes são de engenharia social. Ou seja, os criminosos “induzem as vítimas a realizar ações que irão prejudicá-las”. 

O jeito mais importante para se precaver de um “Pix falso” é verificar todas as informações existentes. Segundo Sansão, da Febraban, “é extremamente importante que o vendedor leia o comprovante e verifique que se trata somente de um agendamento”. Ou seja, confira atentamente o documento apresentado pelo cliente:

“Verifique o comprovante: se aparecer ‘Agendamento realizado’ ao invés de ‘Transferência realizada’ ou ‘Pagamento realizado’, a operação não foi efetivada e poderá ser cancelada”, ressaltou.

Barbosa também destaca que é preciso se atentar ao comprovante:

“Caso a data seja do passado, significa que ele [o pagador] está enviando uma comprovação de transferência feita para outra pessoa/empresa”, orientou. “Mas, caso a data seja do futuro, a transferência ainda não aconteceu e a comprovação se refere ao agendamento, e isso traz a possibilidade de que a transferência seja cancelada a qualquer momento.”

Verifique o seu extrato no celular (imagem ilustrativa: Vitor Pádua/Tecnoblog)
Verifique o seu extrato no celular (imagem ilustrativa: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Há outros métodos para verificar se a transação foi concluída naquele instante e com o valor acordado. No geral, as instituições financeiras emitem uma notificação no celular quando um Pix é enviado ou recebido. O alerta traz tanto o valor quanto algumas informações de quem fez a transferência.

O velho extrato é um ótimo aliado nessas horas. Para se certificar se o Pix foi feito ou não, basta acessar o histórico de transações. Os estabelecimentos comerciais também podem utilizar um sistema integrado entre o banco e o lojista para verificar se não há problemas com aquela venda.

Barbosa destacou mais algumas ações para fazer transações seguras com o Pix:

  • Validar as informações utilizadas na transferência, seja para envio ou recebimento de recursos;
  • Sempre recorrer ao aplicativo do banco para validar se um recurso foi efetivamente enviado ou recebido;
  • Desconfiar de abordagens que exijam muita urgência. Afinal, criminosos costumam usar esta urgência para tirar a atenção das vítimas, fazendo com que não se atentem a validações importantes.
Pix é seguro, aponta especialista (Imagem: Reprodução)
Pix é seguro, aponta especialista (Imagem: Reprodução)

E onde os bancos entram nessa história?

As instituições financeiras garantem inúmeros mecanismos para tornar o Pix mais seguro. Seja por determinação do Banco Central ou por iniciativa própria, os bancos oferecem recursos para limitar o valor das transferências por horários, evitar que as chaves sejam roubadas, e daí por diante. Mas a situação é diferente com os casos de agendamentos cancelados e comprovantes falsos.

“Este tipo de golpe em que o comprovante é falso ou é feito um agendamento, foge completamente do controle do banco, pois não é algo que possamos impedir através dos nossos sistemas”, disse a gerente da Febraban. 

O especialista da ESET ainda lembra que o Pix é considerado extremamente seguro. “O Banco Central adota diversas medidas de segurança para torná-lo robusto e não temos informações de golpes que envolvam o sistema do Pix em si”, explicou.

Portanto, a dica segue a mesma: ao receber um pagamento via Pix, nunca deixe de conferir o extrato. Só assim você terá certeza absoluta de que a transação foi realizada ou não. Afinal, no Pix, as transferências são imediatas.

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Bruno Gall De Blasi

Bruno Gall De Blasi

Ex-autor

Bruno Gall De Blasi é jornalista e cobre tecnologia desde 2016. Sua paixão pelo assunto começou ainda na infância, quando descobriu "acidentalmente" que "FORMAT C:" apagava tudo. Antes de seguir carreira em comunicação, fez Ensino Médio Técnico em Mecatrônica com o sonho de virar engenheiro. Escreveu para o TechTudo e iHelpBR. No Tecnoblog, atuou como autor entre 2020 e 2023.

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