OCS Heart, a máquina que pode diminuir as filas para transplante de coração
O equipamento consegue manter o coração batendo fora do corpo até o momento da cirurgia
O equipamento consegue manter o coração batendo fora do corpo até o momento da cirurgia
Enquanto a ciência não consegue criar substitutos para órgãos doentes, o jeito é otimizar os recursos “naturais” que temos. É exatamente essa a proposta do “heart in a box”, um aparelho capaz de reanimar o coração de uma pessoa recém-falecida e mantê-lo batendo até o momento do transplante.
O tempo é precioso para uma pessoa que precisa receber um coração. No Brasil, estima-se que até 40% dos pacientes na fila de transplante cardíaco morrem aguardando o órgão. A espera costuma durar meses e, não raramente, o doente não tem tanto tempo disponível, o que obriga os médicos a darem preferência para os casos mais críticos.
Há vários fatores que explicam a demora na fila, mas um é o ponto mais crítico: assim como outros órgãos, o coração só pode ser extraído quando o doador tem morte cerebral constatada. O procedimento tem que ser feito com o corpo da pessoa ainda vivo, ou seja, tendo batimentos cardíacos e recebendo oxigênio. Se a pessoa falecer antes da operação, somente córneas e determinados tecidos (como a pele) podem ser doados.
Pode parecer um critério sem sentido, mas não é. Quando a pessoa tem o que se chama de morte circulatória (parada cardíaca irreversível), o coração deixa de receber oxigênio e as células do órgão começam a morrer.
Quando o coração é extraído a tempo (antes de uma parada cardíaca), inicia-se outro ciclo delicado: normalmente, os médicos têm de quatro a seis horas para realizar o transplante. Quanto mais tempo o órgão fica fora do organismo, maiores são as chances de complicação. É por isso que, muitas vezes, helicópteros da polícia ou até mesmo aviões do exército precisam ser escalados para realizar o transporte do órgão.
Essa etapa também é cercada de cuidados. Para evitar que o coração se deteriore, os médicos armazenam o órgão dentro de um recipiente que o mantém em uma temperatura bem baixa, quase congelante. Dessa forma, a deterioração do coração ocorre mais lentamente, fazendo com que haja um pouco mais de tempo para a realização do transplante.
O “heart in a box”, cujo nome oficial é Organ Care System (OCS Heart), foi idealizado por pesquisadores de Universidade da Califórnia há cerca de 20 anos e, atualmente, é produzido pela TransMedics. O equipamento vem sendo testado por equipes médicas no Reino Unido e na Austrália. Os cirurgiões afirmam que, até agora, o OCS ajudou a salvar pelos menos 15 vidas.
A máquina é composta por um compartimento que protege o coração. Há também tubos que levam ao órgão sangue em quantidade suficiente para que o coração continue “vivo”. Tudo é feito dentro da temperatura ideal para que o coração trabalhe perfeitamente. Como o sangue transporta oxigênio e outros nutrientes, o órgão pode continuar batendo fora do organismo sem se deteriorar rapidamente.
Há duas vantagens aqui. A primeira você já deve ter percebido: como o OCS Heart mantém o coração batendo, o órgão pode ser preservado por mais tempo após ser retirado do doador. A outra é que, como a máquina deixa o órgão aquecido e trabalhando, o coração de uma pessoa que teve morte circulatória pode ser aproveitado, desde que os médicos iniciem a remoção imediatamente após o falecimento.
Para os casos onde o doador teve morte cerebral, o OCS ajuda a reduzir os danos ao órgão por evitar eventos isquêmicos causados pela queda de temperatura e, assim, propicia o transporte até um receptor que está em um hospital bem longe.
Mas são os casos onde há morte circulatória que a máquina deve fazer mais diferença. Estima-se que, nos Estados Unidos, doações provenientes de pessoas que faleceram nessas circunstâncias podem aumentar entre 15% e 30% a quantidade de transplantes de coração.
Só não é possível avançar com tanta rapidez. Para aprovar esse tipo de procedimento, entidades reguladoras precisam ter certeza de que entre o falecimento do doador e a colocação do coração no OCS o órgão não sofrerá mesmo nenhum tipo de dano importante.
Há também questões éticas. Por exemplo: como atestar que a morte circulatória de uma pessoa é irreversível se o coração volta às suas funções em outro corpo? Algum protocolo terá que ser desenvolvido especificamente para tratar desse aspecto.
Tem ainda o fator custo: uma máquina OCS Heart não sai por menos de US$ 250 mil.
Apesar desses pontos, os resultados obtidos até agora devem facilitar a adoção da tecnologia. Além disso, tudo indica que é questão de tempo para esse tipo de equipamento fazer parte da rotina de hospitais. Além da TransMedics, há várias outras empresas desenvolvendo máquinas que preservam órgãos por mais tempo (não só o coração), como a Organ Assist e a OrganOx.
Com informações: MIT Technology Review
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