Se você joga com alguma frequência, mesmo que não assiduamente, já deve ter sido chamado de “viciado em videogame” ou algo assim. Apesar dos tons frequentemente exagerados e brincalhões que esse tipo de conversa assume, há pessoas que realmente têm comportamentos nocivos com relação a jogos eletrônicos. É por isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) vai considerar transtornos associados aos games como problemas de saúde mental.

Para ser exato, em 2018, a OMS vai incluir transtornos patológicos ligados a jogos digitais à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde ou, simplesmente, CID. Atualizado pela última vez em 1990, esse catálogo de doenças, por assim dizer, é usado mundialmente por governos, autoridades e serviços de saúde para fins estatísticos, cálculos de despesas médicas, aprovação de tratamentos e por aí vai.

Ainda que o reconhecimento dos transtornos associados a jogos eletrônicos pela OMS não implique diretamente na obrigatoriedade de tratamento pelos serviços de saúde — cada país tem protocolos próprios para tratar doenças físicas e psicológicas —, a decisão provavelmente abrirá portas para o problema ser tratado com mais seriedade.

Esse é um passo mais importante do que parece ser. Pessoas com vício em álcool, por exemplo, até sofrem discriminação, mas a busca por tratamento é socialmente aceita e incentivada. Já pessoas com transtornos associados a condições mais abstratas, como jogos eletrônicos, muitas vezes são vistas como preguiçosas, antissociais (no sentido pejorativo) ou “frescas”. Elas precisam de ajuda, mas frequentemente não são levadas a sério.

Vício em jogos eletrônicos

Vários comportamentos associados aos games podem ser considerados nocivos, como o indivíduo que fica agressivo após não ter sucesso no jogo. Mas, em um caso como esse, o que a pessoa tem é dificuldade para lidar com uma frustração, na verdade. O que requer mais atenção é mesmo o vício. Mas o que define uma pessoa viciada em jogos eletrônicos?

A definição da OMS ainda não está pronta, mas os critérios principais já são claros. Começa pela dificuldade de controle sobre a frequência, o tempo e o contexto em que se joga, como quando a pessoa passa horas jogando e não para nem para fazer refeições.

Por Clay Bennett
Por Clay Bennett

Depois vem a prioridade sobre o jogo em detrimento de atividades diárias ou compromissos importantes. É o caso do indivíduo que falta ao trabalho ou à escola para ficar jogando ou deixa de dar atenção à família.

Há ainda a manutenção do comportamento nocivo: a pessoa sabe que pode encarar diversas consequências, como ser demitida ou ter notas baixas na escola, e até tem sentimento de culpa por isso, mas continua com a conduta indevida.

É ou não é?

De acordo com a OMS, o assunto é estudado por seus especialistas pelo menos há uma década. Apesar disso, as discussões não devem terminar. Mesmo com a identificação dos três critérios estabelecidos não é possível afirmar que uma pessoa é viciada em jogos. O contexto tem que ser avaliado. Muitas vezes, o que ela tem é um quadro de ansiedade ou um problema de relacionamento social que a faz recorrer aos games como válvula de escape.

Não por menos, um grupo de especialistas, quando soube dos planos da OMS de incluir transtornos com jogos digitais no CID, publicou um artigo com críticas à ideia. Para eles, problemas com games não devem ser ignorados, mas ainda não está claro se eles podem ser atribuídos a um novo transtorno. Ainda no entendimento do grupo, essa falta de consenso pode causar “pânico moral” ou levar a “diagnósticos prematuros”.

Diante de uma provável necessidade de mais estudos sobre o assunto, a percepção do indivíduo sobre o próprio comportamento, seja por autocrítica ou por alerta de pessoas próximas, é o que faz diferença: se os jogos atrapalham seu trabalho, interferem em seus relacionamentos ou frequentemente te deixam angustiado, por exemplo, sem que você consiga lidar com isso, talvez tenha chegado a hora de procurar ajuda profissional.

Com informações: New Scientist, El País

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.