Por que você não deve se preocupar com a nova política de privacidade do Spotify

Jean Prado
• Atualizado há 3 meses

A privacidade vem sendo uma das questões mais discutidas ultimamente (e com razão), o que nos leva a ler mais cuidadosamente a política de privacidade, aquele termo que explica o que exatamente estamos concordando ao fazer parte de um serviço. Recentemente, o Spotify atualizou os termos com algumas permissões estranhas e que, olhando de longe, parecem invasivas demais para um serviço de streaming de música. Vamos analisá-las com cuidado.

Uma das maiores críticas a essa nova política de privacidade foi feita pela Wired; a revista divide os termos em três principais tópicos: o Spotify quer vasculhar seu celular, o Spotify quer saber para onde você está indo e o serviço de streaming de música também quer “ser o seu amigo do Facebook”, em referência à coleta de informações publicamente disponíveis em aplicativos de terceiros integrados ao Spotify.

Abaixo, um dos principais trechos alvos de reclamação:

3.3 Informações Armazenadas no Seu Dispositivo Móvel

Com a sua permissão, nós podemos coletar informações armazenadas no seu dispositivo móvel, como contatos, fotos ou arquivos de mídia. A lei local pode exigir que você obtenha consentimento de seus contatos para fornecer suas informações pessoais para o Spotify, que pode usar essa informação para os propósitos especificados nessa Política de Privacidade.

Alguns trechos também explicitavam que o serviço coletaria suas informações públicas em aplicativos de terceiros integrados ao serviço, como os posts que você curte no Facebook, por exemplo. Outros, queriam ainda acessar sua localização e outros sensores:

3.4 Informações sobre localização e sensor

Dependendo do tipo de dispositivo que você usa para interagir com o Serviço e suas configurações, nós também podemos coletar informação sobre a sua localização baseado em, por exemplo, dados do seu GPS ou outras formas de localizar dispositivos móveis (Bluetooth, por exemplo). Nós também podemos coletar dados do sensor (por exemplo, dados sobre a velocidade dos seus movimentos para descobrir se você está correndo, parado ou em trânsito).

O receio de aceitar esses termos que parecem altamente invasivos é compreensível, afinal, o ponto da Wired em criticar a nova política de privacidade é que, segundo eles, o usuário não tem escolha. “Se você não concorda com os termos desta Política de Privacidade, então por favor não use o Serviço”, diz o Spotify.

“Nós nunca vamos…

…acessar suas fotos, localização, voz e contatos sem sua permissão”. A citação é do comunicado emitido nesta sexta-feira (21) pelo presidente do Spotify, Daniel Ek, que resolveu clarear tudo em um post no blog do Spotify, entitulado “DESCULPE-ME” (sim, em caixa alta).

Ainda que a empresa tenha soltado uma tímida nota sobre as atualizações no blog britânico do serviço, Ek pediu desculpas pela confusão gerada pela nova política de privacidade e reconheceu que deveria ter feito um “trabalho melhor em comunicar o que essas políticas significam”.

Assim, ele o fez. Antes de tudo, Ek deixou claro, em um texto cheio de “Nós nunca vamos…”. Ele explica:

“Deixe-me ser bem claro aqui: Se você não quer compartilhar esse tipo de informação, você não precisa. Nós vamos pedir explicitamente pela sua permissão antes de acessar qualquer dado como esse ― e nós só vamos usar para propósitos específicos que vão permitir que você personalize sua experiência no Spotify”.

E quais propósitos são esses, então? Se você não lembra, há alguns meses, o serviço anunciou uma série de novidades no seu aplicativo como playlists automáticas e o recurso Running. A partir de informações como o ritmo da sua corrida, o Spotify pretende colocar músicas que combinam com o seu movimento a fim de melhorar o seu exercício ― e aí está a explicação para o acesso aos seus sensores.

Quanto à localização, Ek esclareceu que ela vai ser usada para “personalizar recomendações ou informá-lo sobre músicas que estão em tendência na sua região.” Caso você escolha compartilhar a localização mas depois mudar de ideia, também é possível interromper o compartilhamento.

A nota do presidente do Spotify também sugere que algumas novidades estão por vir no serviço para fazer uso das permissões de fotos, voz e contatos. A primeira, se você escolher compartilhar, só acessa as fotos que você selecionar para criar uma capa personalizada para uma playlist ou alterar a sua foto de perfil, por exemplo.

No futuro, também poderemos ver comandos de voz para pular, pausar ou navegar pelo aplicativo, o que explica a necessidade da permissão para acessar o microfone. Também está iminente um recurso para achar seus amigos no Spotify a partir dos contatos.

Por fim, Ek clarifica que os alguns dados dos usuários do serviço são compartilhados com seus parceiros para aprimorar questões de marketing e anúncios, mas alerta que todas essas informações são descaracterizadas, ou seja, seus dados pessoais não ficam atrelados a essas informações e consequentemente não são visíveis pela equipe de marketing.

Caso você não se sinta muito confortável com isso, pode ir até a seção Editar perfil das configurações do Spotify e desativar a terceira opção, “Compartilhe os dados acima com os provedores de conteúdo do Spotify para fins de marketing”. Assim, nenhum tipo de informação do seu usuário será compartilhada para melhorar os anúncios.

No mais, é só esperar que o serviço cumpra com a sua promessa de sempre te avisar antes de acessar algum sensor do seu smartphone para usá-lo em algum recurso. Ainda que no Android seja mais difícil garantir permissões seletivas, é esperado que essa permissão seja feita pelas configurações. Quando o Android 6.0 Marshmallow for liberado, no entanto, provavelmente ficará mais fácil para o Spotify controlar tais permissões na plataforma do Google.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.