Google prometeu banir anúncios de apps para stalkers – só faltou cumprir

Após se comprometer em combater stalkerwares, Google ainda exibe anúncios de programas de espionagem; algoritmo usado é fraco e facilmente driblado

Bruno Ignacio
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Stalkerware
Stalkerware monitora e coleta dados de outros dispositivos (Imagem: Sora Shimazaki/Pexels)

Em 2020, o Google se comprometeu publicamente a banir anúncios de aplicativos e softwares voltados para stalkers (ou stalkerware). Quase dois anos depois, vemos que a empresa não conseguiu cumprir sua promessa. Em 2022, ainda é possível encontrar publicidade de programas de espionagem nos resultados de busca, que driblam facilmente o algoritmo de monitoramento.

Os chamados stalkerwares são programas projetados para monitorar secretamente uma pessoa ou dispositivo. Aplicativos do tipo tendem a coletar informações pessoais ou confidenciais do alvo sem alertar o usuário sobre a atividade.

Existe uma grande variedade de programas assim, cada um com suas características. No entanto, há alguns fatores comuns entre eles. Stalkerwares são geralmente capazes de gravar uma grande quantidade de dados sensíveis. Algumas dessas informações incluem, por exemplo, localização, chamadas telefônicas, mensagens, e muito mais.

Evidentemente, esses apps são polêmicos e problemáticos. Por isso, em setembro de 2020 o Google se comprometeu em banir anúncios desse tipo de programa de seus resultados de busca. No entanto, foi aberta uma exceção para softwares destinados a pais que querem rastrear seus filhos e outros voltados para negócios.

Os desenvolvedores desse tipo de programa tiveram que se adaptar para cumprir determinados requisitos impostos pelo Google. Porém, parece que a política de exceções da empresa deu margem para que verdadeiros stalkerwares driblassem o banimento.

Stalkerwares se passam por apps para monitorar filhos

Uma pesquisa da Certo Software e da MIT Technology Review conseguiu confirmar que os resultados do Google ainda apresentam sites e publicidade relacionados a aplicativos de rastreamento ou espionagem. Segundo os pesquisadores, esses anúncios são claramente direcionados a usuários que procuram ferramentas para espionar outras pessoas.

Privacidade e proteção de dados (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)
Privacidade e proteção de dados (Imagem: Pete Linforth/Pixabay)

Aos olhos do Google, os sites e os desenvolvedores desses stalkerwares são direcionados para pais que desejam monitorar seus filhos. No entanto, o MIT Technology Review descobriu que essas empresas compraram anúncios para termos relacionados à espionagem digital.

Ao analisar os sites das companhias, o MIT viu que os apps se identificam como programas legais para monitorar filhos. Há ainda avisos sobre as restrições de uso do software em dispositivos de adultos. Mesmo assim, eles podem ser facilmente usados para espionar cônjuges, por exemplo.

Buscas contendo frases como “Spy app”, “aplicativo para ler mensagens da esposa” ou “app para ler mensagens da namorada” ainda mostram publicidade de stalkerwares.

A Certo Software usou uma ferramenta de análise de busca chamada Spyfu para ver os anúncios que essas empresas compram no Google. Os pesquisadores descobriram que a publicidade dessas companhias inclui termos como os citados acima.

Quando questionado pelo MIT, um porta-voz do Google afirmou:

“Não permitimos anúncios que promovam spyware para vigilância de cônjuges. Analisamos a publicidade em questão e removemos aqueles que violam nossa política.”

Google usa algoritmo fraco para monitorar anúncios

Desde que os pesquisadores entraram em contato com o Google, alguns anúncios foram removidos, mas não todos. Por mais que a empresa tenha se comprometido em combater a disseminação desse tipo de software, não há uma equipe humana dedicada às análises. Na realidade, tudo é monitorado por um algoritmo que ainda não funciona muito bem.

Ironicamente, anúncios de empresas anti-spyware, por exemplo, acabam sendo penalizados no sistema atual. Frases como “pare o stalkerware, baixe nosso aplicativo” são pegas pelas proibições das palavras “stalkerware”, “spyware” e outras. Enquanto isso, o algoritmo ainda não consegue identificar com precisão anúncios para frases que não carregam esses termos.

Jan Penfrat, consultor sênior de políticas da European Digital Rights, afirmou ao MIT Technology Review:

“O sistema de triagem é geralmente automatizado por algoritmos e não funciona muito bem… Eles cometem muitos e muitos erros, e a pesquisa mostrou repetidamente que é muito fácil contorná-los.”

Jan Penfrat, consultor sênior de políticas da European Digital Rights

Pela legislação americana, instalar stalkerware no celular de um adulto sem seu consentimento é crime. Porém, realizar marketing desses aplicativos é algo legal. Seus desenvolvedores se isentam da responsabilidade ao afirmar em seus termos que os softwares são destinados para fins legítimos. Entretanto, já existe um histórico de condenações nos EUA por instalar secretamente apps do tipo em dispositivos de adultos.

Com informações: MIT Technology Review

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Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

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