Facebook tem dados de milhares de empresas para cada usuário, revela estudo

Estudo usa dados sobre usuários disponibilizados pela própria Meta para analisar dimensão do rastreamento e da microssegmentação de anúncios

Giovanni Santa Rosa
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Telas do Facebook
Facebook chegou a reunir dados de 48 mil empresas sobre uma só pessoa (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Um estudo com 709 usuários do Facebook mostrou que eles são rastreados, em média, por 2.230 empresas. Um exemplo extremo teve seus dados coletados e enviados para a rede social por quase 48 mil companhias diferentes. Além disso, uma empresa estava na lista de 96% dos voluntários, mais de 90 mil tinham apenas uma pessoa entre os participantes como público-alvo, e mais de 7 mil usam caracteres aleatórios para não se identificar.

A pesquisa foi realizada pela Consumer Reports, com ajuda do site investigativo The Markup, que recrutou os voluntários. Eles usaram a própria ferramenta que o Facebook disponibiliza, baixaram suas informações pessoais dos três últimos anos e repassaram esses arquivos aos pesquisadores.

Ao todo, 186.892 empresas constaram nos registros dos 709 voluntários. Em média, cada um dos arquivos tinha informações coletadas por 2.230 empresas. Em alguns casos, este número passava de 7 mil. Um deles tinha quase 48 mil companhias na lista. O relatório diz que era provavelmente alguém com “uso incomum de aplicativos” ou um “candidato com muito apelo para propaganda direcionada”.

Os responsáveis pelo estudo alertam que, como o grupo de usuários foi autosselecionado e não ajustado demograficamente, ele não é uma amostra da população dos EUA.

Logo da Meta no Menlo Park, Califórnia
Ferramentas da Meta encontram pessoas com interesses similares a clientes de cada anunciante (Imagem: Lucas Lima/Tecnoblog)

Microssegmentação de anúncios

A Consumer Reports também chama atenção para o fato de que 96 mil (ou 52%) das empresas listadas no estudo tinham apenas um dos 709 voluntários como “alvo” de suas propagandas. Ou seja, elas provavelmente não estavam direcionando anúncios para grandes grupos demográficos, e sim para pessoas com perfil bastante específico.

Para os pesquisadores, isso mostra que até mesmo empresas pequenas, com pouco dinheiro para marketing, conseguem usar a plataforma de anúncios da Meta.

“A Meta fornece aos pequenos negócios implementações fáceis de tecnologias de anúncios com vigilância avançada”, diz o relatório. A Consumer Reports explica que basta definir orçamento, dar informações pessoais dos clientes (como endereços de e-mail) e reportar o comportamento de compras. O serviço da Meta faz o resto.

Nem todas as empresas se identificam

Entre os 709 participantes, uma empresa estava presente entre os fornecedores de informações de 96% deles: a data broker LiveRamp. Data brokers são empresas especializadas a coletar dados pessoais ou corporativos.

O top 10 de companhias mais frequentes tem outros nomes do tipo, como a Acxiom e a Experian Marketing Services. A lista também traz as varejistas Amazon e The Home Depot.

Na outra ponta, há cerca de 7 mil empresas usando combinações aleatórias de caracteres, como “Bm 5 100tkqc nlm”, e muitas outras usando nomes genéricos, como “Viking”. Isso impede que elas sejam identificadas.

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook (Imagem: Anthony Quintano/Flickr)
Mark Zuckerberg, CEO da Meta; empresa alega ter políticas de transparência (Imagem: Anthony Quintano/Flickr)

O relatório da Consumer Reports traz também algumas propostas de políticas para melhorar a privacidade, como exigir que as empresas adotem estratégias de “minimização de dados”, coletando apenas o necessário, e melhorem a transparência de dados.

Ao Markup, a Meta defendeu suas práticas. “Nós oferecemos várias ferramentas de transparência para que as pessoas possam entender as informações que as empresas escolhem compartilhar conosco, bem como gerenciar como essas informações são usadas”, disse um porta-voz.

Com informações: Consumer Reports, The Markup The Verge

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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