Spotify só vai pagar royalties para músicas com mais de 1 mil reproduções

Plataforma de streaming define novas regras de pagamento. Reproduções artificiais e playlists com ruído também estão na mira.

Giovanni Santa Rosa
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Spotify
Spotify (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

O Spotify anunciou suas novas regras para pagamento de royalties. Uma das principais mudanças diz respeito a músicas executadas poucas vezes. A plataforma não vai mais pagar artistas por canções que tiverem menos de 1 mil reproduções em uma janela de 12 meses.

Além disso, o serviço de streaming mudou a forma de remunerar gêneros chamados “funcionais”, como ruído branco, sons de natureza e efeitos sonoros, entre outros. Agora, estas faixas precisarão ter, pelo menos, dois minutos para gerar royalties.

O Spotify também pretende combater streaming artificial, quando robôs colocam músicas para tocar com o único intuito de gerar dinheiro para empresas.

A companhia diz que as mudanças vão liberar US$ 1 bilhão em royalties nos próximos cinco anos, tanto para artistas famosos quanto para novatos.

Músicas pouco reproduzidas geravam centavos

A mudança que mais chamou atenção é a do fim da remuneração para canções pouco populares. Segundo o Spotify, o impacto deve ser mínimo para os artistas.

A empresa diz que uma faixa com menos de 1 mil reproduções gera meros US$ 0,03 mensais, em média. Apenas 0,5% dos streams são em músicas assim.

Fones de ouvido
Músicas pouco populares não serão mais remuneradas (Imagem: Lee Campbell/Unsplash)

Como as gravadoras geralmente exigem um mínimo de US$ 2 a US$ 50 para retirada, e as taxas bancárias podem variar entre US$ 1 e US$ 20, esse dinheiro acaba esquecido. Por outro lado, essas pequenas quantias somadas chegam a US$ 40 milhões por ano.

O Spotify diz que não vai embolsar esta grana. Com a mudança, os centavos que eram destinados às músicas com menos de 1 mil reproduções serão realocados no pool de royalties. Ou seja: quem tem músicas acima desse limite deve ganhar um pouquinho a mais.

Combate aos sons “funcionais”

Outra mudança servirá para o Spotify não dar dinheiro demais para os gêneros “funcionais”: ruído branco, barulho de chuva, ASMR, sons de máquinas, e outros do tipo.

Nos últimos anos, muitos agentes mal-intencionados se aproveitaram da plataforma para ganhar dinheiro com isso. Eles faziam upload de várias faixas “funcionais” de 30 segundos (mínimo para ganhar royalties) e criavam playlists de horas de duração com estas faixas.

Playlist de chuva do Spotify com faixas com 31 segundos de duração
Exemplo de playlist que será combatida pelas novas regras (Imagem: Reprodução/Tecnoblog)

Assim, um usuário dava centenas de streams sem perceber, e o dinheiro ia parar no bolso de quem fez pouquíssimo esforço.

A partir de 2024, o Spotify só vai pagar royalties para faixas funcionais com, pelo menos, dois minutos de duração. Além disso, a empresa promete pagar um valor inferior ao que paga para músicas.

Com isso, a plataforma quer economizar nos pagamentos a esse tipo de produção e redirecionar o dinheiro aos artistas de verdade.

Detecção de fraudes

Por fim, a terceira mudança no esquema de pagamento de royalties do Spotify é que a empresa vai cobrar gravadoras e distribuidoras por faixa quando o streaming artificial for detectado.

“O Spotify é capaz de combater o streaming artificial assim que ele acontece na nossa plataforma”, diz o texto, “mas é melhor para a indústria se os agentes mal-intencionados forem desincentivados de fazer upload”.

Concorrência fez diferente

As mudanças feitas pelo Spotify foram bem recebidas por distribuidoras e selos independentes. Dois grandes nomes da indústria, porém, não se manifestaram no anúncio feito pela plataforma: Universal Music Group e Warner Music Group.

Coincidentemente ou não, ambas trabalharam com a Deezer em um novo modelo de pagamento de royalties, chamado “artista-cêntrico”, que tem diferenças importantes para o que o Spotify fez.

Deezer app (Imagem: Gabrielle Lancellotti/Tecnoblog)
Deezer (Imagem: Gabrielle Lancellotti/Tecnoblog)

Com as novas regras, a Deezer vai pagar o dobro de royalties para artistas com até 1 mil reproduções mensais, desde que elas venham de 500 ouvintes diferentes.

A empresa também vai dobrar os royalties de faixas com engajamento ativo do público — aquelas que o usuário digita na busca para ouvir, por exemplo.

Por fim, a Deezer teve uma posição radical contra as faixas “funcionais”: ela removeu todo esse tipo de conteúdo e colocou seus próprios sons. Assim, não é necessário pagar royalties.

Com informações: Spotify, Music Ally, Music Business Worldwide, Variety, TechCrunch

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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