Review Assassin’s Creed Valhalla: um conto viking de luz e sombras
Assassin's Creed Valhalla é um bom jogo em aspecto técnico, mas que tem problemas de criatividade e protagonistas fracos
Assassin's Creed Valhalla é um bom jogo em aspecto técnico, mas que tem problemas de criatividade e protagonistas fracos
Assassin’s Creed Valhalla marca a estreia do novo capítulo da série de ação e aventura da Ubisoft, dois anos após o título anterior, Odyssey. Este também é um Assassin’s Creed importante por outro motivo, pois foi lançado para uma enorme quantidade de plataformas, incluindo na nova geração de consoles: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S, PC (Windows) e ainda no Google Stadia, via streaming.
Mas seria Assassin’s Creed Valhalla um jogo digno da nova geração? Uma grande estreia da saga da Ubisoft em meio a um mar de outros jogos que também desembarcam nesta época do ano? Acompanhe o review do Tecnoblog para descobrir.
Para esta análise o jogo Assassin’s Creed Valhalla foi testado em um Xbox One S e também no Xbox Series X, posteriormente.
E vamos para o nosso aviso de ética. O Tecnoblog é um veículo jornalístico independente de tecnologia que ajuda as pessoas a tomarem sua próxima decisão de compra desde 2005. Nossas análises de produtos são opinativas e não possuem nenhuma intenção publicitária. Por isso, sempre destacamos de forma transparente os pontos positivos e negativos de cada produto.
Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Assasssin’s Creed Valhalla foi fornecido pela Ubisoft por doação, em versão para Xbox One e Xbox Series X. O Xbox Series X foi fornecido pela Microsoft por empréstimo por tempo indeterminado e será usado em conteúdos futuros.
Existe uma piada recorrente na Internet que diz que a Ubisoft é responsável pela criação do conceito “Jogo de Aventura: o Jogo”. Isso se dá por conta de alguns games que a empresa lançou que não foram os mais inspirados do mundo e que eram até decentes, porém genéricos.
Isso acontece pois, há muitos anos, a Ubisoft definiu como sua principal estratégia de mercado ter um grande representante de tipo de game no mercado. Para games de carros eles criaram The Crew. Um FPS de peso se encontra na série Far Cry. Os jogos de mundo aberto em terceira pessoa ficavam com a saga Assassin’s Creed, dividindo espaço com Watch Dogs tempos depois. E por aí vai.
Isso deixou a empresa confortável por algum tempo, pois permitiu que ela atuasse em vários gêneros de jogos e agradasse todo tipo de público. Mas mudanças foram necessárias e, assim, os games passaram a ter uma atenção especial e muitos mudaram drasticamente. Foi o que aconteceu com a marca Assassin’s Creed.
Em vez de lançamentos anuais, bianuais. Começando com Assassin’s Creed Syndicate, de 2015, a empresa tomaria um tempo extra para desenvolver seus jogos da série, em prol de uma melhor qualidade.
Isso deu bastante certo por um tempo, ainda que tenhamos o lançamento de Assassin’s Creed Odyssey em 2018, apenas um ano após Assassin’s Creed Origins, de 2017. Ainda assim, foram dois jogos muito elogiados, que antecederam a chegada do atual Assassin’s Creed Valhalla, que estamos recebendo neste ano de 2020.
É necessário pontuar esta parte da história por um motivo simples: Assassin’s Creed Valhalla parece mostrar que a estratégia da Ubisoft tem perdido um pouco de força. Tecnicamente? Impecável. Criativamente? Nem tanto.
Assassin’s Creed Valhalla volta bastante tempo na história e se foca na época em que o povo nórdico planejava suas expansões para outros territórios, ali pela época de 800 Depois de Cristo. O foco do jogo, aliás, é justamente este: mostrar o que aconteceu com os clãs vikings, conforme tentavam dominar outras terras.
Chamo de “retorno às raízes” por ser uma história que se passa apenas alguns anos antes do primeiríssimo Assassin’s Creed, que fica ali por volta dos anos 1000 Depois de Cristo. A escolha de cenário, porém, é mais comercial do que qualquer outra coisa.
Vikings estão na moda. Há um seriado com esse nome, inclusive, que faz um enorme sucesso. A temática viking anda de mãos dadas com a temática medieval europeia para traduzir “boas vendas” quando falamos de jogos, em especial games de RPG, sejam eles de mesa ou eletrônicos. Mas os guerreiros nórdicos estão cada vez mais populares, seja por personagens famosos da grande mídia ou simplesmente pelo apelo eurocêntrico que este tipo de cultura tem junto ao jovem do século XXI.
Isso não quer dizer que a escolha tenha sido ruim. Não, ainda não é o tão sonhado Assasin’s Creed que se passa no Japão feudal, como muitos já pediram, eu sei. Mas é interessante ver como a Ubisoft abordou o povo viking neste jogo, desconstruindo alguns conceitos que ficam mais populares do que a verdade.
Sim, os nórdicos ainda são mostrados como um povo guerreiro e que não foge da luta, o que era até verdade. Mas o game também se posiciona como um mediador para explicar que vikins não eram meros bárbaros desmiolados, mas sim uma sociedade muito bem organizada, com suas próprias políticas, alianças, debates e planos estratégicos sócio-culturais.
É até curioso como, em algumas cenas, os produtores de Assassin’s Creed Valhalla tentam incluir pequenas referências a problemas modernos, mas no contexto de personagens que viveram há mais de 1200 anos. Deve incomodar quem estudou um pouco mais da história dos vikings, mas vale lembrar que isto é um videogame, que trabalha com temas fantasiosos e exagerados em muitos aspectos.
A jogabilidade de Assassin’s Creed Valhalla é muito boa, mas pouco inovadora. Há elementos inéditos, mas não tantos quanto vimos nos dois jogos passados. Na verdade, em sua maior parte do tempo, Valhalla se parece com uma skin de Origins ou Odyssey, o que pode não ser tão ruim assim, se você pensar que são ótimos jogos.
Por mais que inovações não sejam uma má ideia, quando bem implementadas, também não dá para reclamar do “mais do mesmo” de Assassin’s Creed Valhalla. O jogo é tecnicamente impecável, dá gosto de controlar os personagens pelos cenários ou lutas. Os comandos são fluidos e tudo funciona muito bem.
Escalar um paredão de pedra nunca foi tão fácil. Subir uma montanha inteira apenas com as mãos parece ser um desafio formidável e, quando chegamos lá em cima, é muito recompensador ver os resultados. Andar de cavalo de um ponto a outro do mapa também pode ser gratificante, seja de maneira automática ou controlando tudo pelo caminho.
Assassin’s Creed Valhalla também faz bonito nos combates. Os controles funcionam igualmente bem por aqui. O jogo foi bem equilibrado em termos de dificuldade e os objetivos variam além de simplesmente “mate o inimigo X para avançar”. O jogador vai ter que pensar, constantemente, se ataca ou se espera seus aliados, se destrói uma barreira ou se encurrala os oponentes, tudo é bem estratégico.
O combate também é valorizado em Assassin’s Creed Valhalla por conta do sistema de incursão, ou “raids”, no original em inglês. Ele pega emprestado a fama de vikings bárbaros para dar ao jogador o prato cheio de invadir ilhas, terrenos, acampamentos e cidades, aportando com seu navio – que pode navegar para praticamente qualquer canto do mapa, aliás.
As incursões vão te fazer gastar um tempo considerável de exploração, já que elas podem render recompensas exclusivas, que não são encontradas em lugar nenhum do jogo. É sempre bom também poder contar com seu clã de vikings para lidar com os inimigos. Os soldados estarão quase sempre presentes neste tipo de combate ao lado do jogador e por isso mesmo temos uma mecânica totalmente nova para as lutas de Assassin’s Creed Valhalla.
Por falar em “gastar tempo”, dificilmente alguém vai se entediar com Assassin’s Creed Valhalla. O jogo tem simplesmente muita coisa para se fazer. Só na primeira área da aventura, que faz parte de seu prólogo, podemos gastar até 10 horas para concluir todas as missões, tarefas, buscas e segredos – quando sua duração normal deveria ser de, no máximo, duas horas, se o jogador fizer tudo correndo.
Todo o conteúdo se completa com minigames, desafios, animais lendários, modos adicionais de exploração e também pelos inúmeros diálogos gravados com os vários personagens que ficam espalhados pelo mapa.
É realmente um game imenso e que não vai te deixar parado por muito tempo. Além das missões principais, que fazem a história andar, há muito a se desbravar em Assassin’s Creed Valhalla.
Agora vamos ao lado ruim: Assassin’s Creed Valhalla parece genérico. Poderia ser qualquer jogo, “Vikings The Game”. Tem elementos da história dos assassinos, mas que parecem muito jogados ali no meio.
É um bom jogo, tecnicamente impecável, com jogabilidade incrível e muito inspirada nos antecessores. Mas ele simplesmente não clicou em nenhum momento para mim.
Não soube definir se os problemas eram os personagens, o cenário, a época em que o game se passa. Apenas não absorvi a empolgação necessária que a aventura deveria me propor, e isso me deixou um pouco incomodado.
Eivor, o personagem principal, que pode ser homem ou mulher, é um poço sem carisma. Remete à figura do viking genérico loiro, com algumas marcas no rosto por conta de uma história do passado e o comportamento estóico que é esperado de um personagem do tipo.
Todos os coadjuvantes e personagens terciários não ajudam. Um outro, aqui ou ali, fazem parte de subtramas mais interessantes, mas que nunca decolam de verdade.
Assassin’s Creed Valhalla até tenta apresentar reviravoltas interessantes em seu enredo, especialmente envolvendo Eivor, mas não chega a ser o suficiente. Aliás, como em todo Assassin’s Creed, este aqui também tem uma porção jogável nos tempos atuais, fora da máquina do Animus, mas que prefiro não detalhar para não estragar a surpresa de alguns jogadores e também para respeitar embargos de informações solicitados pela produtora.
Mas vale ressaltar: o que digo aqui são meras opiniões pessoais. Talvez eu esteja achando que a série Assassin’s Creed tenha estagnado um pouco, de novo, como estava acontecendo antes de Syndicate. Por isso mesmo comecei esta análise relembrando qual foi o caminho que a Ubisoft traçou até chegar aqui. Mas o game poderia oferecer um “algo mais”.
Um dos meus problemas, sim, tem relação com a questão da temática. Apesar de ser um sucesso comercial, “vikings” não estão exatamente no topo dos meus interesses. Mas beleza. Mesmo relevando este ponto ainda esbarramos no entrave de personagens que não se diferenciam tão bem entre si e um, ou uma, protagonista que beira o conceito de “sem sal”.
Agora falando mais pelo lado dos gráficos, joguei o novo Assassin’s Creed Valhalla uma boa parte no Xbox One S. Depois recomecei a história e joguei totalmente no Xbox Series X, o novo console da Microsoft.
Os elogios técnicos continuam a valer para a parte gráfica. O jogo já era bonito na antiga geração de consoles e fica ainda melhor no aparelho mais recente. Não são só efeitos de luz ou maior resolução, mas também a suavidade e tempo de carregamento muito mais rápido, praticamente eliminando telas de “loading” – e sabemos como elas normalmente são demoradas em jogo da série.
Chama a atenção o mundo vasto que Assassin’s Creed Valhalla cria com seus gráficos e elementos visuais que são gerados com enorme qualidade. No início do jogo, por exemplo, a neve impressiona bastante, apesar de não ser algo tão inédito assim – quem jogou o recente God of War, outro jogo da área “viking”, sabe do que estou falando.
É gratificante ver a diferença do jogo entre as duas gerações. Aproveitar o game em um console realmente rápido e poderoso te deixa até mais feliz na hora de controlar o personagem ou ao sentar e aproveitar a história, por mais que minhas críticas estejam direcionadas a este segundo ponto.
Não tive acesso às versões de PS4 ou PS5, mas o mais provável é que os jogos também mantenham a mesma qualidade nas plataformas da Sony.
Não se engane pela minha provável amargura com o tema, Assassin’s Creed Valhalla é indicado para quem gosta do assunto nórdico e que amaria viver algum tempo nas terras vikings, expandindo seus domínios pela Europa.
Mas é fato que a série demonstra alguns sinais de cansaço. Por mais que tecnicamente seja um jogo impecável e sem grandes defeitos, com boa jogabilidade e controles, Assassin’s Creed Valhalla falha ao entregar uma história criativa e até se prende em alguns clichês, ao depender de reviravoltas surpreendentes que acontecem na trama – e espere ter reais surpresas por aí, sem spoilers.
Jogar na nova geração é um outro nível de entrega. O game simplesmente brilha no Xbox Series X, literalmente. É uma boa opção para quem está comprando o console agora e quer um jogo que vai durar bastante tempo, já que há muito a se fazer por aqui, dentro e fora da campanha principal e enredo.
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