Resident Evil 3 (2020) – A última chance de sobreviver

O capítulo final da saga de Raccoon City marca o retorno de Jill Valentine e do temido Nemesis

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 10 meses
Resident Evil 3

A Capcom percebeu que deu certo dar cara nova a Resident Evil 2 e, mesmo sendo um remake, o game foi um hit em 2019. Aproveitando esse hype, Resident Evil 3 também chega todo reformulado para marcar o retorno, com muito mais pixels, de personagens icônicos da franquia, como Jill Valentine e o temido Nemesis.

RE 3 acompanha o capítulo final de Raccoon City, como os fãs já devem conhecer, e tem legendas em PT-BR. O jogo está disponível para PC, Xbox One e PS4. A novidade fica por conta do inédito Resident Evil Resistance, modo multiplayer assimétrico 4 vs 1. Essa é a primeira experiência do tipo na série.

Para este review, o jogo foi testado num PlayStation 4.

Fuga de Raccoon City

A cidade de Raccoon City está em ruínas e tomada por zumbis e várias outras anomalias genéticas. Os poucos sobreviventes, ainda não infectados, estão tentando desesperadamente fugir. Em meio ao caos, os que resolveram ficar (mais por obrigação do que vontade) tentam resgatar quem pode e, outros, expor os culpados pela disseminação do T-Vírus.

Resident Evil 3

É aí que entra a protagonista da história de Resident Evil 3, a agente da S.T.A.R.S. Jill Valentine. Jill estava em Raccoon City investigando a Umbrella Corporation, empresa que usa a fachada de indústria farmacêutica para criar armas biológicas, quando o pior aconteceu.

Ao lado de um aliado até então improvável, Carlos Oliveira, um membro da U.B.C.S. – uma espécie de esquadrão de contenção de calamidades da própria Umbrella – os dois buscam suas próprias respostas enquanto também tentam sobreviver e escapar da cidade.

Mas como tudo o que já está ruim pode piorar, Jill ainda precisa lidar com uma situação (bem grande e extremamente perigosa) chamada apenas de Nemesis, uma bioarma descomunal e com sede de sangue dos S.T.A.R.S., neste caso, a própria Jill. Resident Evil 3 é o capítulo final do arco de Raccoon City.

Imagino que muito fãs da série Resident Evil já conheçam o desenrolar dessa história e os seus acontecimentos. Por respeito aos que estão entrando, pela primeira vez, no universo da franquia não darei mais detalhes sobre a narrativa. No entanto, mesmo os veteranos terão algumas surpresas com a história do remake.

Resident Evil 3

Inclusive, relembrei várias coisas ao longo do gameplay, já que da última vez que joguei Resident Evil 3 foi há muito tempo e a versão em japonês para PC, que tinha o nome de Biohazard 3: Last Escape.

Gameplay descomplicado e terror de sobrevivência

Se jogou o remake de Resident Evil 2, você não sentirá dificuldade alguma em se adaptar ao gameplay de RE 3. Isso porque os controles são exatamente os mesmos. Na verdade, a sensação (às vezes) é que RE 3 é como uma expansão do 2. A câmera sobre o ombro também está de volta e você ainda pode aumentar um pouco mais o campo de visão, ao seu redor, nas opções do menu de pausa.

No entanto, esta câmera não vai facilitar a sua vida para identificar emboscadas. Olhar para os dois lados, ao chegar no final de um corredor com uma bifurcação, por exemplo, é quase que obrigatório para evitar mordidas surpresas dos zumbis das sombras (como os apelidei, carinhosamente).

Resident Evil 3 é um terror de sobrevivência, mesmo os personagens controláveis tendo armas (até muito boas) à disposição. O quesito sobrevivência é mais aplicado à escassez de itens de cura e munição, te instigando bastante a dar valor a cara tiro disparado, além da alta possibilidade de ser encurralado por vários inimigos nos estreitos e claustrofóbicos corredores e esquinas dos cenários.

A atmosfera opressora e sombria do jogo é sufocante e pode te levar ao maior erro em qualquer survival horror: sair correndo em desespero. Não que você vá se perder, o mapa (idêntico ao estilo do RE 2 também) facilmente te mostrará onde está, mas num game em que muitas vezes se está andando em labirintos, correr de um problema pode apenas te fazer encontrar mais um, ao virar a esquina.

Resident Evil 3

Falando do mapa, ele será seu grande aliado ao longo da campanha. Não apenas ele serve para te orientar por uma região, mas também mostra pontos de interesse e itens que você já encontrou, mas esqueceu de pegar. Assim como em RE 2, você identifica que já explorou toda uma localidade se ela estiver na cor azul, ou que ainda há o que fazer – se ela estiver em vermelho.

Mais um aspecto notório do survival horror que existe em Resident Evil 3 é o gerenciamento do seu inventário. Definitivamente, não dá para carregar cada vasinho de erva vermelha que encontrar, na esperança de achar ervas verdes para misturar num papel e criar um… Como posso dizer… Um composto mais potente de ervas de cura. Pronto.

Faltou espaço e está distante de uma safe house para acessar o baú (não esqueça de salvar o jogo na máquina de escrever!)? Tente combinar coisas, agrupar similares e descartar itens quando aparece um ícone de lixeira neles (eles não serão mais úteis). Combinar certas matérias-primas, além de cura, também pode produzir variados tipos de munição.

É possível fazer alguns upgrades para suas armas. Claro que terá que encontrar essas modificações pelo mapa, mas vale muito a pena ir atrás delas. Você pode encontrar melhorias para armazenar mais balas, mira, estabilizadores e etc.

Resident Evil 3

Inclusive, já que toquei no assunto da mira, uma das características da série Resident Evil é mesmo a dificuldade, especialmente inicial, em focar o retículo da mira na cabeça dos inimigos ou em qualquer outra parte do corpo deles (especialmente se estiver correndo). No entanto, a pontaria em RE 3 às vezes é um tanto confusa.

Houve um momento em que, claramente, mirei para frente (com os braços fazendo um ângulo reto em relação ao tronco) e a mira, ao contrário, fazia um ângulo fechado quase focando no joelho do zumbi. Isso acontece, na maioria das vezes, quando se tenta atirar estando muito próximo do alvo. No final das contas, fui obrigada a ajustar a minha distância e o tiro acertou o bicho onde eu queria.

Alternância entre personagens e Nemesis

Resident Evil 3 segue um esquema “diferente, mas parecido” de troca de personagens jogáveis em relação ao remake de RE 2. No game de 2019, você jogava toda a história ou com Claire Redfield ou com Leon S. Kennedy. Para fazer o final verdadeiro, você precisava terminar o jogo duas vezes – controlando cada um deles.

A diferença agora é a alternância entre Jill Valentine e Carlos Oliveira – que ganhou mais espaço de atuação neste remake, em relação ao game original. No entanto, a protagonista continua sendo Jill, portanto, até mesmo o gameplay de Carlos acontece dentro da narrativa dela e não é necessário jogar o jogo todo de novo só para ter o ponto de vista de Oliveira.

Resident Evil 3

Por motivos de spoilers pesados, não posso dar muitos detalhes sobre o Nemesis neste review (e quando e como ele vai aparecer), mas comparativamente falando (se você jogou o remake de 2019), nota-se que sua mecânica foi inspirada no próprio Mr. X., de RE 2. A diferença, bem clara – por sinal, é o upgrade feito na inteligência artificial do brutamontes de sorriso largo e constante e também no fato de que ele pode usar armas.

Em resumo: ele será um tormento quase que constante (e cada vez pior) na vida da Jill, acredite.

“Staaarrs…”

Exploração limitada e backtracking

A premissa de Resident Evil sempre foi o foco na narrativa, survival horror e progressão linear. Para manter o jogador imerso nesta atmosfera não há tanto espaço assim para explorar outros lugares, fora do roteiro pré-determinado pelos desenvolvedores. Sua exploração estará limitada a locais onde possivelmente encontrará itens de sobrevivência, alguns colecionáveis e outros itens essenciais para progredir no jogo. Da metade para frente, na campanha, o game ganhará um tom até mais de ação do que sobrevivência em si.

Você fará muito backtracking nesse sentido, ou seja, terá que voltar algumas vezes na mesma localidade em busca de chaves, peças para resolver puzzles e etc. Às vezes, a resposta que precisa para passar por uma porta, ou abrir um cofre, pode estar escrita em uma das várias anotações espalhadas pelo mapa ou mesmo em alguma salinha que você não inspecionou direito. Ah, existem alguns easter-eggs também. Fique atento!

Resident Evil 3

Visual e trilha sonora dão o tom do terror

O motor gráfico RE Engine, desenvolvido pela Capcom (inicialmente para Resident Evil 7: Biohazard), está de volta e é responsável por acrescentar toda uma nova variedade de técnicas de renderização, que se pode notar no aspecto mais realista da pele humana no jogo, por exemplo.

Além disso, é indiscutível que (dados os avanços técnicos desde o jogo original) toda a atmosfera está bem mais imersiva, com momentos de tensão devido a total escuridão ou claustrofobia, ao se sentir perdido num labirinto decorando com entranhas mutantes. O uso das sombras dá todo um toque “noir” ao terror já existente.

Senti falta, no entanto, de uma maior variedade nos modelos usados para os zumbis. Tirando as monstruosidades, que são parecidas por padrão, os defuntos humanos se repetem com muita frequência, até a roupa e tipos de machucados pelo corpo são iguais.

Há algumas paredes invisíveis esquisitas bloqueando e impondo o limite do cenário também. Em uma sequência de fuga, tentei correr por uma calçada, em que os únicos “obstáculos” eram algumas garrafas no chão, e dei de cara contra a “parede”. Aparentemente, as garrafas eram os marcadores (que eu não tinha como saber e, por isso, morri) de que o limite explorável daquele mapa terminava ali.

Resident Evil 3

Sobre a trilha sonora, o áudio do jogo casa perfeitamente com a atmosfera de terror e ajuda a criar toda a tensão e sensação de ansiedade de que, a qualquer momento, algo irá pular sobre sua cabeça (geralmente é o Nemesis).

Resident Evil Resistance

Inédito na franquia de terror da Capcom, Resident Evil Resistance (incluso ao adquirir RE 3) é um modo multiplayer assimétrico 4 vs 1, onde quatro jogadores controlam sobreviventes e um jogador controla o Vilão (Mastermind), responsável por posicionar os inimigos no cenário. Algo parecido foi feito pela Ubisoft, na época do ZombiU.

Se for jogar com os sobreviventes, você deve escolher entre quatro perfis de personagens, cada um com habilidades, pontos fortes e fracos diferentes. Nesse quesito, a escolha de com quem jogar se assemelha a Dead by Daylight, por exemplo.

O objetivo dos sobreviventes é fugir de uma instalação, resolvendo puzzles e matando inimigos conjurados pelo Vilão. Para aumentar a tensão e a sensação de urgência, há um cronômetro na tela. Se ele zerar e os sobreviventes ainda estiverem presos, todos morrem e o Mastermind vence a partida.

É possível ganhar segundos extras, ainda como um sobrevivente, ao completar puzzles, mudar de área e matar inimigos. Você perde tempo quando recebe dano ou alguém da equipe é abatido.

Resident Evil Resistance

Do lado do Vilão, a estratégia impera. É necessário analisar os melhores lugares para posicionar inimigos, além de escolher qual zumbi é o mais adequado para cada emboscada, já que as opções de monstros disponíveis são aleatórias. O Mastermind também pode colocar armadilhas, trancar portas, assumir o controle de alguma criatura invocada (inclusive o Tirano!) para um ataque mais furioso e etc.

Quanto mais o tempo passa, mais a situação dos sobreviventes se complica, por isso, o trabalho em equipe é essencial. Das vezes que perdi, como sobrevivente, foi justamente porque cada um ia para um lugar diferente.

É importante dar cobertura para que estiver resolvendo um puzzle, curar quem estiver dando mais dano ou usar as habilidades para detectar pontos de interesse e desarmar armadilhas. Não é só andar e atirar.

Conclusão

O remake de Resident Evil 3 não é apenas uma roupa nova num game clássico. Os desenvolvedores tiveram todo um cuidado de acrescentar algumas novidades até para os veteranos na franquia, mais ação (para quem gosta), mas com alguns cortes na narrativa original. Você consegue se envolver na história mesmo assim – a meu ver, sentir a indignação de Jill várias vezes e ter crises de ansiedade ao ser perseguido pelo Nemesis.

Resident Evil 3

Ao terminar a campanha pela primeira vez, há mais algumas coisas para desbloquear que podem te incentivar a encarar o terror mais uma vez. Apesar de ter achado o fator replay, ou seja, a vontade de jogar de novo, de Resident Evil 2 (2019) maior que em RE 3, o game consegue te prender neste universo por mais tempo com o multiplayer Resident Evil Resistance.

O modo é divertido, angustiante e também frustrante – se não encontrar uma equipe que saiba jogar cooperativamente. Mas… Isso são ossos do ofício em quase todo multiplayer coop.

No geral, Resident Evil 3 (2020) é um bom jogo para os fãs da série da Capcom, mas será uma experiência diferente (para o bem ou para o mal), e uma aventura de survival horror e ação interessante para os novatos. Seja você um caso ou outro vale dar uma chance, mas super recomendo jogar o RE 2 remake primeiro. Você vai entender o porquê ao avançar na campanha do RE 3.

Prós

  • Indicado para fãs de longa data e novatos na franquia
  • A dupla Jill Valentine e Nemesis
  • Mais tempo de jogo para Carlos Oliveira
  • O multiplayer Resident Evil Resistance

Contras

  • A esquiva da Jill, mesmo no tempo certo, às vezes se torna um adversário extra
  • A mira, muito próxima de um alvo, pode ficar meio perdida
  • Faltou mais variedade para os modelos de zumbis humanos
  • Cortaram partes legais do roteiro original
Nota Final 8.3
Áudio
9
Desafio
8
Diversão
8
Inovação
8
Jogabilidade
8
Replay
8
Visual
9

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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