Review The Outer Worlds: RPG envolvente sem drenar sua vida

The Outer Worlds traz elementos de Fallout, Mass Effect e BioShock, mas com identidade própria e ótima fluidez

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 3 meses
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The Outer Worlds marca o retorno da Obsidian ao mundo dos RPGs de mundo aberto e traz muito do que a desenvolvedora aprendeu ao criar Fallout New Vegas e ainda acrescenta alguns bons elementos estéticos e de gameplay das franquias Mass Effect e Bioshock. Tudo isso com cara própria, humor ácido, ótimo nível de fluidez da narrativa (incomum para jogos do tipo) e bem otimizado graficamente.

Em resumo, The Outer Worlds é tudo o que Fallout 76 teve potencial (e investimento) para ser e não foi. O game é quase que um presente de consolação para os órfãos de um RPG de ação “Bethesda-like”, mas bem melhor elaborado. Não me levem a mal, eu amo a série Fallout (mesmo com todos os bugs), mas a forma como entregaram Fallout 76 no lançamento foi uma afronta aos fãs da franquia.

Voltando… The Outer Worlds é jogado em primeira pessoa e está disponível para PS4, Xbox One e PC. O jogo tem opção de legendas em português do Brasil. Para este review, o game foi testado num PC equipado com uma GeForce RTX 2080 e configurações de vídeo no máximo.

História pouco original, mas se vende

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A história de The Outer Worlds não preza pela originalidade, mas tem seus momentos. Você e outras centenas de pessoas estavam armazenadas dentro de cápsulas e em sono profundo, numa estação espacial chamada Esperança. Com a Terra em colapso, a solução foi “congelar” as mentes mais célebres da humanidade e enviar para outro sistema, chamado no jogo de Bonança, a fim de tentar salvar a colônia humana, já estabelecida por lá, da extinção (um plot parecido com Mass Effect Andromeda).

Mas é claro que as coisas não funcionaram 100% como deveriam e a estação espacial ficou à deriva por 70 anos (jogando você descobrirá o porquê). O game começa assim que seu personagem é reanimado pelo cientista Phineas Welles, que te explica o perigo de colapso que Bonança está passando em decorrência dos “porcos do Conselho”, como ele mesmo diz. O Conselho é uma das facções do jogo (explicarei melhor sobre isso adiante) e regula com mãos de ferro tudo o que acontece na colônia.

Phineas é considerado um terrorista lunático pelo Conselho e é tido como inimigo número 1 de Bonança. Aparentemente, eles não gostaram muito do cientista começar a reviver as pessoas de Esperança. Mas ele realmente está interessado em salvar os colonos congelados e a colônia ou há interesses pessoais envolvidos?

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A campanha principal será guiada pelas missões que Phineas te dará e todas elas focam em dois objetivos importantes: despertar os demais colonos de Esperança e expor a corrupção (segundo o cientista) do Conselho. Você, recém descongelado, se torna o novo capitão (ou capitã) da nave chamada “Falível” e deve viajar, com sua tripulação, pela colônia em busca de respostas.

Como todo bom RPG do tipo, você também terá várias missões opcionais, tarefas, missões de facções e missões de seus companheiros (as já tradicionais quests para melhorar a afinidade com sua equipe) à disposição.

É altamente viável, e longe de ser desgastante, fazer todas as missões secundárias disponíveis antes do final do jogo. A fluidez da progressão dos acontecimentos permite isso. Por mais que estas quests não sejam obrigatórias para concluir a história, elas são importantes para direcionar que tipo de final você terá no game. Há, pelos menos, dois tipos de finais (que consegui descobrir durante os testes): um bem desastroso e outro mais feliz.

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Suas decisões, ao longo da história, além de como conduzir determinadas missões serão determinantes para mostrar como os habitantes de Bonança irão reagir a você e como os acontecimentos finais serão. Inclusive, ter que tomar decisões bem conflituosas é quase que uma constante em The Outer Worlds.

Sua (disfuncional) tripulação

E voltamos às referências a Mass Effect e Dragon Age. A forma como você encontra a sua tripulação é extremamente parecida a estes jogos da BioWare. Ao viajar de um planeta (ou área desse planeta) para outro, você esbarra “por acaso” com estes NPCs. É importante explorar bem os locais onde está, pois o game não jogará esses personagens na sua direção. Inclusive, você corre o risco de sequer encontrá-los, se resolver apressar as coisas.

Cada um dos tripulantes da Falível (nome “super” encorajador para uma nave espacial) têm temperamento e código moral próprios. Mas a forma como lidar com tantos egos diferentes é bem mais suave que nos jogos da BioWare, por exemplo.

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Seu personagem não tem um sistema de “Paragon” ou “Renegade”, como em Mass Effect, e você não irá perder pontos de afinidade com determinado NPC por, digamos, resolver sacanear alguém na presença de um tripulante claramente bonzinho (no máximo ele ou ela vai demonstrar insatisfação, em palavras). Você pode expulsar um tripulante também, se desejar. Particularmente, não vejo vantagem nisso, mas a opção está lá se quiser usar.

Um ponto bem interessante no sistema de companheiros de equipe, implementado em The Outer Worlds (novidade neste título) é a possibilidade de combinar os bônus individuais da sua tripulação aos seus. Por exemplo, o vigário Max tem bônus nativo na habilidade de hacker. Se ele estiver na sua equipe durante as missões (você pode levar até dois deles ou ninguém) você acumula esse bônus para você.

Ou seja, quando estiver com sua tripulação completa (e mais ou menos já saber o que te espera numa missão) você pode levar os NPCs que te darão o melhor boost para uma determinada situação. Não esqueça de equipar bem seu time, tanto com melhores armas e armaduras. Isso vai fazer toda a diferença nos momentos de conflito. Andando com dois deles nas missões, eventualmente, eles conversarão entre si também.

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Por sinal, a inteligência artificial da sua party é um ponto positivo. Conforme você customizar o estilo de abordagem em combate de cada membro da Falível (passivo, agressivo, protetor e etc) você notará que eles cumprem o papel designado. Dificilmente seu time fica perdido no tiroteio e eles realmente abatem os inimigos. Não é aquela situação, de alguns jogos, que sua party nunca mata ninguém e é você quem precisa finalizar os alvos.

Apesar de não ser obrigatório, é recomendado fazer as missões dos seus companheiros. Elas desbloqueiam de forma aleatória, às vezes conversando com eles ou viajando para alguns locais específicos da colônia. Ah, e não… Não tem como ter nenhum tipo de romance com ninguém da sua equipe. Por mais que, às vezes, surjam opções de diálogo que incitem um papo mais… Vamos assim dizer… “íntimo”, o NPC mudará de assunto. Uma pena, Mass Effect e Dragon Age me deixaram mal acostumada.

Facções e consequências

Algumas missões opcionais em The Outer Worlds se referem às facções que atuam em Bonança. Não necessariamente são grupos de criminosos, mas sim de pessoas com interesses (ou sofrimento) em comum. Se quiser, você pode escolher a que grupo ajudar ou ignorá-lo por completo. Algumas dessas facções são inimigas de outras e vai do seu “jogo de cintura” tentar unir estes opostos ou escolher um lado.

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Fazer missões e completá-las com sucesso, para uma determinada facção, te dará pontos positivos com ela. De acordo com sua aprovação, você pode conseguir aliados em batalhas e descontos nas lojas locais (dominadas por aquele grupo).

Da mesma forma, atacar membros de uma facção, roubar na área deles, ou se aliar ao adversário desse grupo, impactará negativamente na sua reputação com eles. Se estiver muito negativado, o simples fato de algum membro te avistar já é motivo para um conflito armado.

Gameplay fácil de entender

O estilo de gameplay de The Outer Worlds é o de um RPG ocidental tradicional de mundo aberto, com muitas opções de diálogo, campanha fortemente baseada em narrativa, tomada de decisões (que impactam no mundo do game) e combates moderados a mais pesados (em momentos cruciais).

Destaque especial para o ótimo trabalho que fizeram ao escrever as opções de perguntas e respostas do seu personagem. Inclusive, a localização desses diálogos para o nosso idioma ficou muito boa. O humor ácido habita quase todas as possibilidades de respostas. Você, literalmente, pode se tornar o capitão (ou capitã) mais desbocado da galáxia.

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E isso é muito legal! Até mesmo a IA que te ajuda a controlar o Falível, chamada de ADA (impossível não lembrar da EDI de Mass Effect 2 e 3), também faz suas piadas. O jogo tira sarro de si próprio em várias situações.

Mas antes de começar a xingar tudo e a todos em Bonança (ou jogar como bonzinho, sua escolha) a primeira coisa que fará – assim que Phineas te descongelar – é criar a ficha do seu personagem, afinal, estamos num RPG. Invista pontos para customizar sua experiência inicial e modifique atributos para escolher no que se especializar.

Você poderá escolher skills para corpo, mente, combate, habilidades e personalidade, por exemplo. É possível também escolher se vai jogar como homem ou mulher e personalizar sua aparência.

Se não tem muita familiaridade com esse sistema de distribuição de pontos para moldar seu personagem, The Outer Worlds é um alívio para novatos nesse quesito. É bem simples e intuitivo customizar seu herói e todas as opções são explicadas de forma clara, caso precise consultar.

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Quando se faz necessário, os combates são satisfatórios, mas nada de deslumbrante. Você tem, inclusive, um recurso de “câmera lenta” para te ajudar a mirar melhor em pontos críticos dos inimigos (chamado de DTT), parecido com o V.A.T.S de Fallout.

Salvo exceções em que o game te impõe uma situação de conflito, você pode passar a campanha inteira sem dar um tiro sequer (caso tenha muitos pontos investidos em diálogo, por exemplo). Não há muita variedade de inimigos e é possível contar a vida selvagem dos planetas de Bonança (quase sempre hostil) nos dedos. Às vezes, os bichos apenas mudam de cor e tamanho.

O número de armas e armaduras disponíveis também não é nada para se deslumbrar, mas é suficiente (a meu ver), já que é possível fazer upgrades seguidos nos seus equipamentos atuais (além de consertá-los). Você pode adquirir, por exemplo, uma espada de plasma no início do jogo e fazer upgrades nela até o final da campanha.

The Outer Worlds permite também uma certa exploração dos mapas, algumas cavernas e construções. Nem de perto é um mundo explorável ao estilo Fallout 3 ou 4, mas dada a agilidade dos acontecimentos, o próprio título “limita” essa exploração excessiva em favor da progressão da história.

Os mapas nem são tão vastos assim. Apesar de existirem checkpoints para viagens rápidas, você consegue cruzar de um canto a outro sem ter que gastar muito tempo.

Visual surpreende (ao menos no PC)

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Não posso avaliar a qualidade visual de The Outer Worlds nos consoles, mas no PC (onde o jogo foi testado) o que se vê está incrível. Apesar do jogo não ter ray tracing, para brilhos e sombras mais realistas, a GeForce RTX 2080 fez um excelente trabalho.

O jogo em si está muito bem otimizado também. Foram raríssimas as vezes que aconteceram quedas de quadros (mas em que nada atrapalharam o gameplay) e não identifiquei bugs! Isso é surpreendente num jogo desse tipo. O game também tem loadings bem rápidos.

A flora dos planetas é bem colorida, é possível apreciar fachos de luzes e partículas dentro das cavernas, aurora boreal a noite com um céu bem decorado de planetas, astros e rastros de cometas, além de detalhes metálicos dentro de laboratórios. naves e cidades. O design dos personagens está bem satisfatório. Não chega a ter a naturalidade facial de games feitos com captura de movimentos, mas não fica estranho assistir.

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É impossível não notar certas semelhanças estruturais de algumas cidades com Bioshock Infinite, por exemplo. A união da estética visual futurista com a clássica é presente em quase todos os lugares.

Conclusão

The Outer Worlds não tem a emoção da narrativa da trilogia Mass Effect, nem o grau de carisma da sua tripulação. Também não é o mundo aberto tão vasto e com uma quantidade exorbitante de locais para explorar, como em Fallout 3 ou 4, sequer tem os plot twists e teorias da conspiração mirabolantes de Bioshock, mas… Buscou ser um pouco de cada um desses três jogos e ainda deu passos próprios.

É um 3 em 1 com um humor mais ácido e que diverte, justamente por ter a liberdade de não precisar provar nada a nenhum desses jogos ou sequer ter a ambição de superá-los. The Outer Worlds engaja pelo simples motivo de ser ágil e profundo. Você quase não sentirá o tempo passar ao jogar e nem o título irá drenar sua alma para terminar.

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Apesar dos combates simples e da falta de variedade de inimigos, o jogo se desenrola num bom ritmo e está longe de querer complicar sua vida. Esta foi, certamente, uma surpresa muito boa e inesperada. É bom poder jogar um RPG “estilo Fallout/Mass Effect” relativamente menor (levei umas 35 horas para fechar), mas com a mesma profundidade.

Review The Outer Worlds

Prós

  • História se desenvolve de forma ágil e fluida
  • Muito bonito visualmente
  • Bem otimizado
  • Humor ácido é a melhor coisa dos diálogos
  • Promete agradar os fãs de Fallout e Mass Effect

Contras

  • Pouca variedade de inimigos e vida nativa
  • A narrativa é bem previsível
  • Não há muitas armas ou armaduras para escolher
Nota Final 8.6
Áudio
8
Desafio
9
Diversão
10
Inovação
7
Jogabilidade
9
Replay
7
Visual
10

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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