Review Sony Ericsson Xperia Play é um celular para quem quer jogar

Rafael Silva
• Atualizado há 3 meses

A Sony Ericsson sabe fazer celulares. A Sony sabe fazer consoles portáteis. Em uma manhã de sol em um dos escritórios de uma das duas empresa algum executivo do alto escalão pensou “E se nós colaborássemos na criação de um celular que também fosse um console portátil?”. Ele então deu início à ideia do PlayStation Phone, que acabou virando o Xperia Play.

Mas para unir as funções de videogame e celular em um só dispositivo você não pode simplesmente juntar as partes e esperar que a mágica aconteça. É preciso passar uma boa experiência não só para quem espera ter a vantagem dos controles físicos em jogos como também para quem espera um bom smartphone Android. Leia adiante para descobrir se o Xperia Play atinge esse objetivo.

Design

Esse modelo da linha Xperia é um pouco mais pesado e mais parrudo do que a maioria dos celulares hoje em dia, até em comparação com aparelhos de teclado físico deslizante. Mas você já espera isso de um celular que se une com um console portátil. Não que esse peso seja uma desvantagem, já que ele encaixa no bolso sem fazer muito volume. O que não me agradou mesmo foi a empunhadura, que não é das melhores por ter um material meio escorregadio nas laterais.

Ao redor dele estão vários botões. Em cima está o de liga desliga, que também tem um LED sinalizador, enquanto que nas laterais estão os botões de volume, os controles L e R e as saídas para o fone de ouvido e USB. Já na parte inferior ficam os botões já comuns do Android. Como um todo, eles parecerem ser feitos de plástico barato e pouco firmes, mas não deram muitos problemas de pressão.

Um item de design que acho importante destacar é um chanfro na capa do celular que destrava um interruptor (apontado com a seta vermelha acima) que automaticamente ejeta o cartão de memória do sistema sempre que ela é retirada. O cartão de memória e o cartão SIM, aliás, podem ser retirados sem a necessidade de se puxar a bateria para fora, o que é um toque interessante de design e que todas as benditas fabricantes de celular deveriam seguir, obrigado.

Tela e interface

Apesar de terem acertado no design, não parece que a tela do Xperia Play recebeu os mesmos cuidados. Mesmo com o brilho no alto ela ficou quase impossível de enxergar quando há luz direto do sol incidindo sobre ela. A refletividade da tela é alta demais para jogos, momento em que os gráficos ficam mais intensos e dominam a tela. Mas pode até ser o suficiente para atender ligações, já que o botão verde de atender chamada não é nada discreto, ou navegar na web, onde as páginas são normalmente bem claras.

Quando você consegue enxergar a tela, no entanto, ela exibe a já conhecida interface personalizada TimeScape, que a Sony Ericsson usa em todos os Androids Xperia. Ela é confusa inicialmente mas assim como uma brotoeja que aparece na infância e marca a pele durante toda a vida de um ser humano, usuários vão se acostumar com a sua presença. Fora isso, a interface exibe o mesmo menu com ícones (que podem ser rearranjados facilmente) que já estamos acostumados e os widgets do Android.

Uma interessante característica única do Xperia Play é a exibição de uma interface customizada para jogos assim que o slider com os controles é aberto. Ele exibe os jogos que já estão instalados e oferece a opção de instalar outros direto dessa interface, dispensando até uma conta no Android Market: basta aceitar o pagamento via cobrança da operadora ou usar um cartão de crédito.

Qualidade de chamada e Multimídia

Normalmente não entro no mérito de qualidade de chamada nos meus reviews de celular por um simples fator: é um celular. Eu espero que o mínimo que ele consiga ser é ter um speaker de qualidade para eu conseguir ouvir a pessoa do outro lado da linha. Eu só discorro mais sobre ele quando um aparelho consegue sair do espectro mediano e ser pior ou melhor nesse aspecto. No caso do Xperia Play, ele surpreendeu. Por causa do microfone para redução de ruídos, eu consegui ouvir o interlocutor das ligações sem problemas, até sob forte vento.

Como celular Android, o Xperia Play deve ter boas funções multimídia. Ou ao menos achei que teria. Ele até tem uma interface interessante para músicas mas não é compatível com os formatos de vídeo que outras fabricantes já suportam, como .avi e .divx (que tocam sem problemas no Galaxy S II, aliás). Talvez a Sony Ericsson não tenha a licença necessária para colocar esse suporte no sistema. Mas felizmente há a opção de sincronização com o Sony Ericsson PC Companion, que converte e transfere vídeos para o dispositivo. Eu preferia não usá-lo, mas a obrigatoriedade de um programa desses já se tornou padrão entre fabricantes de celulares.

Nos alto-falantes e fones de ouvido, nenhuma surpresa. Eu já achava que por ser um console também o Xperia Play teria um som decente, visto que a Sony Ericsson já tem know-how na área. E foi exatamente isso que entregaram, boa qualidade tanto nos fones intra-auriculares quanto nos alto-falantes, que ficam abaixo dos controles. Só gostaria que os fones tivessem mais opções de protetores intra-auriculares, já que os que vieram encaixados neles eram um pouco grandes demais.

Câmera

Seu sensor de 5 megapixels é acompanhado de um flash de LED, que permite tirar fotos até decentes para publicação na web, mas menos do que ideias para qualquer outra coisa. Também estão presentes as já conhecidas opções avançadas de filtros de luz, exposição e modo de cena, algo que já esperava do Android. Mas senti falta de um botão dedicado para tirar fotos. Os controles L e R estão na posição certa e seriam bem úteis nesse quesito, mas a Sony Ericsson não quis que fossem usados assim. Há um aplicativo no Android Market que resolve isso, chamado Camera Mod.

Aí abaixo alguns exemplos de fotos com a câmera do Xperia Play.

Em termos de vídeo o Xperia Play deixa a desejar. Seu flash de LED é potente o bastante não só para iluminar o que estiver gravando como também prontamente te tornar uma pessoa bem chata por fazer doer os olhos das pessoas em volta. Yep, é forte assim. Mas o seu sensor parece ter sido capado, já que a opção de gravar em até 720p simplesmente não é oferecida.

Jogos e aplicativos

A essência do Xperia Play é ser um Android com capacidade para jogos PlayStation. Um processador gráfico Adreno 205 é o responsável por entregar essa experiência e que, devo dizer, é muito bem entregue. Os gráficos dos jogos no aparelho são bons, mas são nos controles que eles realmente provam que fizeram a coisa certa. Ter botões físicos para interagir com os games é o principal diferencial e a Sony Ericsson deixa isso bem claro, indo atrás de estúdios de games para que eles ofereçam jogos que tiram todo o potencial deles.

Para quem já está acostumado com os controles do PSP, a área sensível ao toque vai ser um pouco estranha no começo, mas com o uso prolongado os jogadores pegam a manha. Eu acabei usando mais os botões mecânicos mesmo e eles responderam com velocidade e agilidade que eu esperava, o que não deixa de ser surpreendente.

Ainda assim, eu fiquei esperando mais do Xperia Play, achando que ele fosse mais rápido. Mesmo com os processadores poderosos, você corre o risco de passar um bom tempo na tela de carregamento. E se comprar jogos da Gameloft pode passar alguns preciosos segundos assistindo à introdução e às cutscenes, que podem ser puladas em alguns jogos. Mas se esse é o comportamento normal de jogos hoje em dia, não deve incomodar quem já está acostumado. E esse é o público-alvo do aparelho.

Em suma o Xperia Play entrega o que promete na área de jogos. Um processador central e outro gráfico fazem dele um aparelho que passa a sensação de que teve suas arestas aparadas, gráficos otimizados para essa resolução e controles que respondem, seja a toques na tela ou nos botões. E a presença dos controles dedicados ao invés de depender apenas da tela sensível ao toque é uma vantagem e tanto.

Junto dele também estão aplicativos personalizados, como o TrackID, que serve para capturar sons de músicas e descobrir informações sobre elas, aplicativos de leitura de notícias e clima, e-mail e tudo que um celular da linha Xperia oferece. E se faltar algum aplicativo essencial, ele vai certamente estar ao alcance de dois toques no Android Market.

Sincronização com o PC

O Sony Ericsson PC Companion é a prova de que além de padronizar a presença de programas de sincronização, a lentidão também parece ser comportamento igual em todos. Ele está na versão 2.0 mas parece mais um enorme programa beta com mais arestas para aparar do que um icosaedro que pretende virar uma bola e mais dependente de outras bibliotecas do que um estudante preguiçoso em semana de provas.

Dito isso, ele até que oferece opções interessantes quando funciona. O Media On vasculha seu computador por todos os tipos de mídia disponíveis e oferece a opção de sincronização e conversão, enquanto que outros aplicativos ficam responsáveis por fazer a atualização do dispositivo (quando houver), backup de contatos e dados e sincronização de calendários e outros dados.

A experiência com todos esses programas me levou a concluir uma coisa. Se algum dia a sobrevivência da humanidade depender de programas de sincronização de celulares com PCs, corra para o grupo que ficar do lado do iTunes. Ele não é o programa perfeito, vai provocar algumas fatalidades, mas é onde há a maior chance de sobrevivência.

Bateria

A estimativa que a Sony Ericsson deu durante a coletiva de apresentação do Xperia Play era de que a bateria do aparelho duraria 4 horas diretas de jogo (o que é estranho, já que lá fora a empresa prometeu 5 horas). Já a vida de bateria em chamadas pela rede GSM é de estimadas 8 horas e 25 minutos, sendo que para tráfego de dados 3G ela vai para 6 horas e 25 minutos.

Dado isso, testei o Xperia Play com uso moderado de redes de dados, brilho da tela na metade e jogando umas oito partidas de 15 minutos de duração de um jogo específico durante o dia. Nesse esquema a bateria conseguiu durar 11 horas e 23 minutos antes de pedir arrego. Já com o brilho da tela no máximo, 4 partidas de duração de 30 minutos e o mesmo uso da rede de dados, consegui espremer 4 horas e 50 minutos de bateria antes de precisar plugá-lo na tomada.

É bom destacar que mesmo que exista um jogo que você tenha paciência para jogar durante 4 horas seguidas, é bom lembrar que o Xperia Play também é um smartphone. A menos que esteja no modo avião (ótima maneira de economizar bateria, aliás), ele vai continuar se comunicando com as redes celular para manter um sinal e isso também drena a bateria. Portanto, para um dispositivo do tipo, achei que a vida de bateria que ele ofereceu foi até decente. Ainda há espaço para melhorar, sem dúvida.

Pontos negativos

  • Tela com alta refletividade;
  • Sensor da câmera capado para vídeos;
  • Preço salgado.

Pontos positivos

  • Speaker do celular com redução de ruído;
  • Câmera de boa qualidade para fotos;
  • Bateria decente (para um dispositivo do tipo).

Conclusão

Como console portátil o Xperia Play é mediano. Ele não tem uma tela que seja boa o suficiente para jogar contra a luz do sol e que é uma grande parte da experiência, embora sob as condições certas de luz ambiente, ela se saia bem. Seus controles sensíveis ao toque até vão provocar uma certa estranheza mas talvez haja uma curva de aprendizado associado à eles e que eu não tive paciência para passar.

Já como smartphone Android ele já é o que esperava da linha Xperia. A interface TimeScape continua presente mas não incomoda tanto e seu processador de 1 GHz faz dele um celular bem rápido para as diversas funções que um Android executa. Ele peca em alguns aspectos como a falta de um botão dedicado para câmera e em termos de multimídia, mas tem um excelente alto-falante e uma câmera que é boa o bastante para fotos noturnas, algo que poucos Androids conseguem.

Como um todo, o Xperia Play executa quase muito bem essas duas funções, mas para no quase. É possível argumentar que pelo preço que ele é vendido você pode comprar um PS3, um PSP e ainda sobra algum dinheiro para comprar jogos para ambos. Mas você não pode fazer ligações, entrar na rede de dados celular ou tirar fotos com nenhum deles, pode? E esse é o ponto forte do Xperia Play: economizar espaço sendo dois dispositivos em um.

Ainda assim, custando R$ 1.899,00 desbloqueado, ele ainda tem que cair de preço para valer a pena para seu principal público: o de jogadores que querem um celular para jogar. Sua oferta de jogos já é grande o bastante para sua compra não ser considerada algo louco de se fazer, mas se você planeja comprá-lo no próximo dia 25 (seu lançamento oficial no Brasil), procure as ofertas de fidelidade da operadora para não pagar tão caro. Caso contrário, você vai estar pagando demais por um aparelho que quase entrega o que propõe.

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Escrito por

Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.